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COLUNA
Allan Kardec
É professor universitário, engenheiro elétrico com doutorado em Information Engineering pela Universidade de Nagoya e pós-doutorado pelo RIKEN (The Institute of Physics and Chemistry).
Coluna do Kardec

A voz do Silêncio

Abordamos a questão intrigante do silêncio em nossas vidas.

Allan Kardec

Atualizada em 29/08/2023 às 16h01
 
 

O silêncio pode ser 'gritante' em diversas situações excessivamente desconfortáveis, principalmente quando esse silêncio é compartilhado com outras pessoas desconhecidas. De acordo com um novo estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Johns Hopkins, nos Estados Unidos, o 'som do silêncio' existe e pode ser escutado por qualquer pessoa — e não se trata de uma referência ao som de zumbido constante ou a música constante nos ouvidos dos pacientes neurológicos de Oliver Sacks, no livro Alucinações Musicais.

Para chegar ao resultado, uma equipe de cientistas realizou um experimento com um grupo de participantes, criando uma ilusão para enganar o cérebro humano. Por exemplo, os cientistas apertaram duas vezes rapidamente uma buzina, seguida de uma buzina longa. Apesar de ser o mesmo som, os participantes pensam serem sons diferentes.

No estudo, os pesquisadores recrutaram mil pessoas para participar de sete experimentos, incluindo a ilusão citada e outros testes semelhantes. Para testar os participantes, foram reproduzidos sons de fundo, como ruídos de restaurantes, estações de trem, entre outros sons; intervalados com variações de silêncio.

Após a análise dos dados, os cientistas apontam que os efeitos foram iguais ao longo de todos os experimentos: os participantes processaram o silêncio como se tivessem escutado algum ruído real, a partir das ilusões criadas por outros sons. É quase como se a audição escutasse a ativação do silêncio, e não o silêncio em si. Segundo o filósofo e psicólogo da Universidade de John Hopkins, Ian Philips, o estudo sugere que essa ilusão afeta exclusivamente o processo auditivo e, por isso, o cérebro humano escuta a 'ausência de som'.

Essas questões são objeto de um debate filosófico secular entre dois campos: a visão perceptiva que afirma que ouvimos o silêncio e a visão cognitiva que diz que nós apenas julgamos ou inferimos o silêncio. O que esse trabalho fez foi tentar resolver, de forma empírica, esse problema histórico. Por enquanto, a solução parece caminhar para a segunda visão.

O silêncio é um ativo milenar. Por exemplo, o livro “A Voz do Silêncio” foi lançado em 1889 pela renomada escritora russa Helena Blavatsky. Ela se consagrou como uma das mentes filosóficas mais influentes do século XIX, dedicando-se a explorar os abismos da alma humana e as questões universais que têm inquietado a humanidade por eras. Sua obra é uma tapeçaria delicada de pensamentos, tecida com a linguagem lírica da poesia, embasada nos ensinamentos da filosofia tibetana, ou seja, trechos do chamado "Os Livros de Kiu-te". É um convite à introspecção e ao autoaperfeiçoamento, conduzindo seus leitores por um caminho de virtude e entendimento. Em português, foi traduzido pelo vate Fernando Pessoa.

O título “A Voz do Silêncio” sugere uma dicotomia intrigante: como pode o silêncio ter uma voz? A resposta reside na interpretação da "voz" como uma alusão à nossa consciência interna. Em meio ao tumulto do cotidiano, das tensões sociais e dos conflitos internos que nos assolam, essa voz do silêncio é o sussurro suave da nossa verdadeira essência. Embora não seja muda em sua natureza, sua delicadeza e profundidade muitas vezes a tornam eclipsada pelas estridências do mundo exterior.

O ensinamento fundamental do livro de Blavatsky é aprender a silenciar o clamor exterior para assim, sintonizar-se com o profundo e verdadeiro eco da alma. A filosofia, em sua essência, é uma busca constante pela felicidade e pela plenitude, um estado alinhado à harmonia da nossa "voz do silêncio". Em tempos modernos, onde muitas vezes os valores autênticos são obscurecidos pelo ruído incessante da superficialidade, o retorno a essa sabedoria ancestral torna-se uma necessidade premente.

Em tempos de superficialismos convictos, tanto a Ciência quanto a Filosofia nos convidam a perguntar algo que vai em direção contrária do que é reforçado no mundo de hoje: o que nos torna humanos?

*Allan Kardec Duailibe Barros Filho, PhD pela Universidade de Nagoya, Japão, professor titular da UFMA, ex-diretor da ANP, membro da AMC, presidente da Gasmar.

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