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COLUNA
Allan Kardec
É professor universitário, engenheiro elétrico com doutorado em Information Engineering pela Universidade de Nagoya e pós-doutorado pelo RIKEN (The Institute of Physics and Chemistry).
Coluna do Kardec

O Mistério da consciência

Falamos sobre os estudos recentes e milenares sobe a consciência.

Allan Kardec

Atualizada em 29/08/2023 às 16h00
 
 

O neurocientista Christof Koch apostou com o filósofo David Chalmers que o mecanismo pelo qual os neurônios do cérebro produzem a consciência seria descoberto até 2023. Após 25 anos, ambos os cientistas concordaram publicamente, na reunião que aconteceu recentemente da Associação para o Estudo Científico da Consciência, em Nova York, que ainda é essa questão ainda está indefinida - e declararam Chalmers o vencedor.

O fato é que a consciência é considerada o maior enigma biológico do mundo de hoje! Ao contrário da máquina, nós humanos temos a identidade de nós mesmos, nós nos reconhecemos: somos João, Maria, Antônio... O contrário de um computador ou uma pedra não têm consciência deles mesmos e nós sim. Por quê? Essa é uma pergunta que encanta ou persegue muitos cérebros e mentes poderosas na História.

Claro que as implicações desse estudo são profundas como, por exemplo, problemas éticos de saber se um determinado paciente em coma está consciente ou não e que seus aparelhos devam ser desligados. Esse ainda é um grande desafio da Comunidade Científica.

Mais intrigante ainda, há relatos de pacientes que tiveram os dois hemisférios do cérebro desconectados, quando os médicos, por exemplo, em caso de epilepsia, “cortam” a ligação, no caso, o corpo caloso – tipo uma ponte que conecta um lado do cérebro para outro. Esses pacientes demonstraram um comportamento desafiador, em alguns casos, tal como enquanto uma mão “tenta” vestir a calça e a outra tenta tirar... Os cientistas perguntam: qual dos dois lados seria responsável pela consciência?

 
 

Enfim, será que a ciência contemporânea pode explicar esse fenômeno ou é necessária uma abordagem completamente distinta? Como poderíamos estudar experimentalmente tal problema que, à primeira vista, parece inacessível? Essa é a pergunta que o professor Christof Koch tenta responder há algumas décadas. 

Seus estudos se ancoram em observações clínicas, psicológicas e fisiológicas, buscando entender a questão da consciência sob uma perspectiva neurocientífica. De fato, nos últimos anos, Christof Koch, juntamente com o falecido Francis Crick, trouxe vitalidade e, em algumas ocasiões, gerou controvérsias na comunidade com uma série de propostas sobre os chamados “correlatos neurais” da consciência. Crick foi uma figura controversa em sua história de conseguir obter os louros do Nobel pela proposta do formato helicoidal do DNA.

Os correlatos neurais seriam para a consciência o que o DNA é para a vida. Enfim, embora durante há muito tempo a busca pelos correlatos neurais da consciência tenha sido descartada como infrutífera, hoje se tornou um dos campos mais proeminentes da neurociência. 

Segundo alguns estudiosos do mundo ocidental, consciência seria tudo o que uma pessoa experimenta – o que ela saboreia, ouve, sente e muito mais. É o que dá sentido e valor às nossas vidas. Na época em que Koch propôs a aposta, certos avanços tecnológicos o deixaram otimista em resolver o mistério mais cedo ou mais tarde. A ressonância magnética funcional (fMRI), que mede pequenas mudanças no fluxo sanguíneo que ocorrem com a atividade cerebral, estava tomando os laboratórios de assalto. 

No entanto, creio que a abordagem da consciência não se encerra na neurociência de Koch, ou na filosofia de Chalmers. Por exemplo, as filosofias orientais têm perspectivas variadas e profundas sobre o conceito de consciência, construídas há milhares de anos. Vou citar alguns exemplos de tradições filosóficas e religiosas específicas aqui.

No Hinduísmo, o conceito de consciência está intimamente ligado à noção de "Atman" ou alma, que é considerada a verdadeira essência do eu. O "Brahman" é a realidade última ou a consciência cósmica, enquanto a Atman seria a consciência individual. 

No Budismo, a consciência é entendida de uma maneira que difere substancialmente das visões ocidentais. A consciência, ou "Vijnana" em sânscrito, é geralmente interpretada como um processo contínuo em vez de uma entidade fixa. Nessa filosofia, a consciência é frequentemente descrita como estando em fluxo constante, mudando de momento para momento. 

Já no Taoísmo, a consciência é vista de uma maneira que está alinhada com a natureza e o fluxo do Tao, ou "o Caminho". O objetivo é alcançar uma harmonia e equilíbrio com o Tao, que se acredita estar além da dualidade e da distinção entre o observador e o observado.

Por último, no Zen, uma escola de budismo japonês, há um foco na prática da meditação e na experiência direta para perceber a verdadeira natureza da consciência. O Zen rejeita a noção de um eu separado e afirma a interdependência de todas as coisas.

Essas são apenas algumas das tradições orientais e cada uma delas tem uma variedade de interpretações e abordagens para a consciência, refletindo a riqueza e a complexidade daquele pensamento.

Enfim, há muito pano pra manga! Mas quase esquecia! Koch deu a Chalmers uma caixa de vinho português. De minha parte, achei perfeito!

*Allan Kardec Duailibe Barros Filho, PhD pela Universidade de Nagoya, Japão, professor titular da UFMA, ex-diretor da ANP, membro da AMC, presidente da Gasmar.

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