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COLUNA
Ibraim Djalma
Ibraim Djalma é procurador federal
Ibraim Djalma

As 07 dimensões do perfeccionismo

Com os avanços tecnológicos e a busca secular por aprimorar aparatos de toda sorte a favor do homem, nossa percepção de esforço e recompensa se viu alterada sensivelmente.

Ibraim Djalma

Atualizada em 29/08/2023 às 15h13

Certamente uma delas atinge você.

Algumas alcançam nossa geração inteira, por isso, ninguém está imune.

São dimensões em sua perspectiva interior, isso é, sobre a forma que encaramos o mundo ao redor a partir do que imaginamos e enfrentamos no nosso íntimo. Acabam sendo bloqueios mentais e emocionais cujos prejudicados somos nós mesmos.

Sob a perspectiva externa, ou seja, sobre a exigência do mundo ao redor em relação ao nosso comportamento, não é novidade mais para ninguém que a cada dia que passa nos sentimos mais pressionados a sermos perfeitos. Ou a pelo menos parecer.

E isso cansa. E muito!

Taí uma soma de politicamente corretos de plantão para confirmar.

Mas vamos a elas.

A primeira é a chamada maximização de escolhas. 

Isso mesmo. A quantidade de escolhas que temos a nossa disposição sem termos preparo evolutivo para isso tem nos impactado negativamente. 

Com os avanços tecnológicos e a busca secular por aprimorar aparatos de toda sorte a favor do homem, nossa percepção de esforço e recompensa se viu alterada sensivelmente. E o pior é que não estamos preparados para isso.

Um clique e a comida que você quiser está a sua disposição, o filme ou a série que você deseja está logo ali, e aquele curso da faculdade que outrora demandava um trabalho imenso para conquistar também chega na sua tela sem o menor dos esforços. 

Aí o problema virou a mesa. Agora é saber o que escolher. 

E o perfeccionismo de tentar achar a melhor opção nos consome a ficar mais tempo escolhendo que usufruindo. 

Nessa linha, passamos para a segunda dimensão, o chamado arrependimento.

Diante do cenário de infinitas possibilidades, natural que a expectativa aumente e, com isso, o medo de se arrepender por escolher a opção errada. 

Isso nos torna mais inseguros ao que vamos eleger porque sempre imaginamos que poderia ter uma outra opção melhor. E realmente pode ter. Só que nem uma nem outra você tornará realidade se ficar nessa.

A terceira é a exigência exagerada de si. Uma espécie de super exigência. Essa envolve um viés psicológico interessante. Geralmente pessoas que não receberam elogios quando crianças ou tem problemas de autoestima elevam demais o padrão de suas escolhas e ações com medo de serem criticadas.

Então, para evitar que retomem a situações do passado que afloram sua autocrítica, tendem a só agir quando tudo estiver em padrões acima do que esperado, o que resulta em constantes frustrações ligadas ao perfeccionismo. Ou seja, sua capacidade resolutiva diminui muito e se torna um verdadeiro procrastinador, porque só agirá quando achar que tudo está no mais alto padrão.

A quarta dimensão, a psicologia chama de desamparo aprendido. Em resumo, é aquela pessoa que se convence de que não é capaz e tem um medo exagerado de errar. Com isso, não se permite aprender errando e por isso, não evolui. Se convence de que determinado objetivo não é para ela e fica a um pé de se tornar fracassada, porque associa o esforço a algo negativo, principalmente nos primeiros passos, quando somos mais vulneráveis a errar.

A quinta está na dúvida exagerada sobre as ações. 

As vezes chega a ser patológico esse nível de insegurança. A pessoa se indaga o tempo inteiro se aquela opção está correta e precisa da aprovação dos outros para seguir em frente. É uma espécie de aprisionamento psicológico. Por isso, acaba não decidindo quando precisa.

A penúltima delas é para os organizadores extremos. Quando se dá mais ênfase aos detalhes que ao objetivo principal. 

Não comecei a estudar porque não tenho as 03 horas diárias que preciso, não fiz macarrão porque não tinha aquele tempero, não fui jantar com os amigos porque não como aquela comida. 

Ou seja, invertem os valores entre principais e acessórios e acabam deixando de tomar decisões importantes, já que os detalhes se tornam entraves por serem superestimados.

E por fim, as críticas e expectativas familiares.

Pessoas submetidas a constantes críticas ou ausência de elogios pela família, apesar dos esforços, acabam sendo desestimuladas a realizar certos gestos porque, de tanto serem criticadas ou de não terem a recompensa esperada, não adquirem o hábito dessas condutas. O que resulta em bloqueio mental para determinadas ações.

Veja que todas elas, de uma forma ou de outra, acabam canalizando a pessoa a agir somente em situações perfeitas, o que - sejamos francos - nunca irá acontecer.

Daí o pontapé para a procrastinação desmensurada.

Existe uma espécie de lacuna evolutiva pela qual estamos passando em razão das intensas e constante evoluções tecnológicas que protagonizam as últimas décadas da humanidade. E isso tem resvalado para todos os aspectos da nossa vida, principalmente os mais sensíveis e invisíveis, os psicológicos e os sociais.

A percepção alterada do esforço e da recompensa, fazendo-nos achar dignos de mais recompensas que esforços, tem causado uma série de frustrações em massa. E as comparações com o perfeito virtual imaginário, ainda que involuntariamente, reforçam as escoras da exigência perfeccionista.

Tudo isso, associado à necessidade constante de pertencimento como fator primitivo de sobrevivência, tem nutrido uma geração de vitimados – nós - a integrar o mundo virtual das telas, submetidos a toda ilógica de exigências implícitas postas a reboque, quer você queira ou não. 

As 07 dimensões do perfeccionismo, portanto, são nada mais que uma elucidação didática elaborada na tentativa de pelo menos se diagnosticar as razões de tantas recorrentes doenças psicológicas na atualidade. 

Uma pandemia que se alastra silenciosamente.

Sejamos imperfeitos.

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