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COLUNA
Ruy Palhano
Ruy Palhano é médico psiquiatra.
Ruy Palhano

A vaidade e o vaidoso

Do ponto de vista comportamental, o vaidoso tem sempre sua atenção e seus interesses voltados em si mesmo. Correm atrás de tudo que o faça aparecer, mesmo que não apresente condições para tanto.

Ruy Palhano

No Aurélio, vaidade é a qualidade do que é vão, ilusório e pouco duradouro. Corresponde a um desejo imoderado de atrair a admiração ou homenagem, coisa fútil ou insignificante, frivolidade, futilidade e tolice. Em Dicionário Etimológico da língua portuguesa, vaidade se origina de vanitas, vanitatis (t. latinos): vacuidade (o que é próprio do vácuo), ou seja: VAZIO ABSOLUTO.

A vaidade é uma condição peculiar dos humanos e tem significados ambivalentes. É uma forma de comportamento complexa do ponto de vista comportamental e muito influenciada por questões psicológicas, sociais, culturais, históricos e por grandes interesses econômicos e, por isso mesmo se revela de múltiplas formas. A vaidade pode se revelar na maioria das atividades humanas. Entre tantas duas se destacam: a física e a intelectual.

A vaidade está no “endo” dos humanos, e se revela em todos os tempos e em todas as culturas, e essa particularidade é referenciada intensamente nos dias atuais. Ela, está sempre em consonâncias com as caraterísticas socioculturais de um determinado povo em diferentes momentos de sua história. Sua expressão máxima está na figura mitológica grega de Narciso, daí narcisismo, o qual exortava obsessivamente sua beleza, o amor por si mesmo e seus dotes pessoais esse grego era a vaidade em pessoa.

Do ponto de vista econômico, a indústria da beleza, muito centrada nos clamores dos vaidosos, é uma atividade pungente, muito embora muito afetada pelos atuais momentos que todos nós passamos e pela crise econômica atual porque passa o país e o mundo. No entanto, essa indústria é um grande negócio, por gerar emprego renda e, a partir dela, desenvolve-se uma infinidade de outras atividades empresariais e profissionais que vive, tão somente, em torno de adeptos e seguidores. É uma das poucas atividades que vive, pela, com, para, de e da vaidade humana. 

Só à guisa de informação, dados da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC) mostram que o Brasil está em terceiro lugar no ranking internacional de consumo de produtos estéticos, atrás de Estados Unidos e China. O setor chegou a faturar R$ 43,2 bilhões em 2014, cifra que significou aumento de 32% na procura por serviços estéticos em relação a 2013. 

Essas atividades atualmente imperam no mundo dos negócios e se destacam na corrida desvairada e desmedida de altos faturamentos em cima desses produtos. A moda, a higiene, o entretenimento e lazer, o esporte, a indústria dos cosméticos, a indústria medicamentosa especializada, a perfumaria, algumas atividades médicas e cirúrgicas, a saúde, a indumentária, a indústria alimentícia, são as entre tantas outras as que mais se beneficiam financeiramente na exploração desse negócio, que sempre enaltece a vaidade.

A vaidade, se abastece, pretensiosamente do que é belo, da moda, do glamour, da necessidade de atenção e do charme, muito embora, sejam coisas distintas uma das outras. Porém, a vaidade, como o próprio nome diz, corresponde ao que é vão, vazio e ilusório, portanto, não refleti a profundidade do que é belo. Expressa sim, a valorização da própria aparência, ou quaisquer outros dotes físicos ou intelectuais, fundamentados no desejo incontrolável, de que os mesmos sejam reconhecidos ou admiradas pelos outros. 

A vaidade, fenomenologicamente, é um sentimento que comporta interpretações diferentes embora seja uma condição inerente às pessoas, em um contexto, comportamental, social e cultual, como já dissemos acima. É também, uma condição de ambiguidades, pois ao mesmo tempo que é exortada pelo próprio sujeito e pela indústria da beleza é, até certo ponto, aceita por muitos, embora, seja rechaçada socialmente ante o exagero. A vaidade, como um dos traços fortes do comportamento humano, pode resvalar para distúrbios psiquiátricos graves.

O vaidoso, é quem exorta e cultiva a vaidade e a tem como um fim em si mesma, difere profundamente dos que se sentem envaidecidos, por conquistas, circunstâncias, um fato, ou por algo transitório. O primeiro refere-se aos snobes, convencidos, afetados, soberbos, pretensiosos, presunçosos, arrogantes, pedantes. Onde suas atitudes, das mais simples às mais complexas, se inspiram nesses pressupostos, onde para eles, a vaidade é uma marca, indelével, invariável, inflexível e penetrante na estrutura do seu ser. 

Por outro lado, há os que se sentem envaidecidos, honrados e orgulhosos em certas ocasiões ou circunstâncias, por ganhos, notoriedade ou ações dignas, em condições esperadas, compreendidas e socialmente aceitas, nesses não há o culto ou exortação obsessiva da vaidade, portanto, não são essencialmente vaidosos.

Do ponto de vista comportamental, o vaidoso tem sempre sua atenção e seus interesses voltados em si mesmo. Correm atrás de tudo que o faça aparecer, mesmo que não apresente condições para tanto. Chamar a atenção dos outros sobre si mesmo é o que de melhor sabem fazer. Exorta suas habilidades e não reconhece os méritos dos outros, para os quais não pode reconhecer seus erros ou falhas, pois correriam o risco de se sentirem inferiorizados. O vaidoso não perdoa, nem se desculpa, pois acredita que isso o tornara também inferior a outra pessoa, além do mais, não consegue também dar a si mesmo o devido valor. Imagina sempre que, se o fizer, diminuirá seu brilho.

São personalidades, excêntricas, imaturas, carentes de si mesmas, egocêntricas e com desmedido amor por si mesmo. Tem graves dificuldades cognitivas em reconhecer suas falhas, equívocos e dificuldades. Se contentam com o superficial e com a efemeridade. Não é a toda, que a indústria da beleza e outras atividades econômicas pungentes tem na vaidade seus grandes escoadouros de lucros, como demonstramos acima. 

Com exceção do episódio da pandemia, vivíamos, anteriormente, sob a égide de uma cultura que promove o culto a vaidade, ao egoísmo, ao imediatismo, gerando pessoas que tem em si mesmos, suas maiores referências e razões de existir, (vide as selfies). Pessoas, incapazes de se aprofundarem em seus sentimentos, laços afetivos e afetuosos, por serem superficiais e utilitários. Com a pandemia, esses paradigmas formam temporariamente afetados, nos levando a práticas humanas com mais simplicidade, mais solidariedade e com o pé mais fincado no chão.

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