Etanol é Brasil na veia!
Falamos hoje da grande política brasileira do etanol.
O governo planeja alterar a forma como as emissões de gases poluentes são calculadas nos veículos automotores. Atualmente, a medição leva em consideração apenas as emissões de gás provenientes do escapamento.
Com a mudança, a emissão de CO2 na produção e transporte do combustível, bem como a geração de energia elétrica usada pelos veículos elétricos, também serão levadas em consideração. Essa medida será uma das principais novidades da segunda fase do programa automotivo “Rota 2030”, com conclusão prevista até junho deste ano.
A novidade é o etanol. A nova metodologia de cálculo dará vantagem a esse combustível em duas frentes. Além de emitir menos gases poluentes do que a gasolina, o CO2 presente na atmosfera é absorvido durante o processo de crescimento da cana de açúcar. Essa mudança também colocará o Brasil em destaque na discussão sobre descarbonização e eficiência energética no transporte.
A novidade no cálculo de emissões favorecerá os fabricantes de automóveis que defendem o desenvolvimento e a produção de carros híbridos movidos pelo derivado da cana, algo que defendi quando diretor da ANP e cheguei a ir ao Japão para conversar sobre o tema com a Toyota. Esses veículos possuem um motor a combustão que aceita etanol e um motor elétrico que se alternam conforme o uso do veículo.
O Brasil é atualmente o maior fabricante de etanol de cana de açúcar do mundo e o segundo maior produtor global de biocombustíveis, perdendo apenas para os Estados Unidos, que produzem etanol a partir do milho. Esse combustível oferece eficiência semelhante à gasolina, porém com um ganho ambiental importante.
O protagonismo brasileiro na fabricação de etanol é resultado de muito trabalho, além de políticas públicas e pesquisas realizadas em centros de pesquisa e empresas de todo o país. Ou seja, inteligência, esforço e investimento! Esse modelo é considerado uma das principais formas sustentáveis com base em biocombustíveis do mundo, com o etanol de cana de açúcar sendo reconhecido como o combustível alternativo mais bem-sucedido até o momento.
No entanto, a produção de etanol é sustentável por conta da tecnologia agroindustrial avançada que foi desenvolvida ao longo dos anos e à grande quantidade de terra arável disponível para o plantio de cana de açúcar. Ou seja, de um lado, as universidades e a Embrapa. Do outro, os empresários do setor sucroalcooleiro.
Esse setor continua evoluindo, principalmente com pesquisas focadas na maximização da eficiência energética do etanol e em ganhos ainda maiores em sustentabilidade. Nesse cenário, o etanol de segunda geração, também conhecido como etanol 2G, representa o combustível sustentável do futuro.
O etanol de segunda geração é produzido a partir dos resíduos descartados no processo produtivo do etanol de primeira geração, como a palha e o bagaço da cana-de-açúcar. Para a produção do etanol 2G, há o uso de tecnologia que transforma a celulose em glicose e aproveita a palha e o bagaço da cana como matéria-prima. Ele permite ganho em sustentabilidade industrial, porque aumenta os ciclos produtivos da cana de açúcar ao utilizar os resíduos do plantio e de outros processos produtivos como matéria-prima.
A produção do etanol de segunda geração, a partir dos resíduos da cana, pode aumentar a fabricação total do biocombustível no Brasil em até 50%, sem a necessidade de ampliar a área plantada com a cultura. Com o etanol de primeira e segunda geração, o Brasil pode ganhar ainda mais mercado e servir de exemplo para países que incentivam a utilização de combustíveis renováveis.
De acordo com dados da Agência Internacional de Energia (IEA), as fontes não renováveis de energia representam a grande maioria da matriz energética mundial, sendo que quase 80% dessa energia vem dos combustíveis fósseis, como petróleo, carvão mineral e gás natural. As fontes renováveis, como os biocombustíveis e a biomassa, representam menos de 10% da matriz energética global.
No Brasil, a matriz elétrica é composta principalmente por fontes renováveis, sendo que mais da metade da energia elétrica do país é gerada a partir de usinas hidrelétricas. No total, as fontes renováveis representam mais de 78% da geração de energia elétrica no território nacional. Isso só é possível graças à grande disponibilidade de recursos naturais e à geografia do país, que favorece a geração de energia hidráulica, eólica e solar, entre outras fontes limpas e renováveis.
Lembro que, então diretor da ANP, fui convidado pela Academia Sueca de Ciências para mostrar o que estávamos fazendo aqui, em termos de energia. A Academia é responsável pelo Prêmio Nobel. Um dos seus membros resolveu atacar nosso agronegócio, em particular, a cana de açúcar e a soja. Mostrei que ele estava enganado, com números e dados. Aliás, aqui está, abaixo, uma demonstração do argumento, ou seja, incrementamos a produtividade sem precisar aumentar proporcionalmente a área plantada, que foi a tom da crítica daquele senhor:
Desde aquele dia, me pergunto: com uma das matrizes energéticas mais limpas do planeta, será que o Brasil terá de se submeter às agendas que outros países nos vêm tentar ditar? O que eles teriam a nos ensinar, principalmente aqueles que são concorrentes do Brasil em energia e produção de combustíveis?
*Allan Kardec Duailibe Barros Filho, PhD pela Universidade de Nagoya, Japão, professor titular da UFMA, ex-diretor da ANP, membro da AMC, presidente da Gasmar.
Saiba Mais
As opiniões, crenças e posicionamentos expostos em artigos e/ou textos de opinião não representam a posição do Imirante.com. A responsabilidade pelas publicações destes restringe-se aos respectivos autores.
Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais X, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.