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COLUNA
Euges Lima
Euges Lima é historiador, professor, bibliófilo, palestrante e ex-presidente do IHGM.
EUGES LIMA

A Pirâmide da Memória

Hoje, esse monumento é conhecido como “Pedra da Memória” e sua localização atual é o fortim de São Damião, um daqueles semicírculos, também conhecidos como meia-laranjas na Avenida Beira-mar.

Euges Lima

Atualizada em 02/05/2023 às 23h50
Euges Lima é historiador, professor, bibliófilo, palestrante e ex-presidente do IHGM.
Euges Lima é historiador, professor, bibliófilo, palestrante e ex-presidente do IHGM. (Ipolítica)

Na tarde do último dia 12 (domingo), estive visitando o monumento mais antigo da cidade, a Pedra da Memória, obelisco de pedra de lioz, que se destaca em uma das meia-laranjas da Avenida Beira-mar e que em outubro de 2022, passou por mais uma restauração. Nesta última, houve uma novidade, os canhões do século XVII, voltaram a ladear o monumento. Tinham sido retirados em 2010, com o argumento de que originalmente, não havia canhões, o que era verdade, porém, o monumento já tinha sido bastante identificado com a companhia deles e a população reclamava seu retorno.

Pirâmide do Campo de Ourique, assim era chamado originalmente esse monumento, pois ficava localizado primitivamente nesse logradouro, quando foi inaugurado no dia 28 de julho de 1844. O objetivo era marcar a memória da coroação de D. Pedro II. Escrevendo para o Sr. Cândido José de Araújo Viana, Ministro e Secretário do Estado dos Negócios do Império, descreveu assim o lançamento da Pedra da Memória, o presidente da província, João Antônio de Miranda: “Na tarde do dia 15 houve nova e magnífica parada no campo de Ourique, para onde ainda concorrerão as pessoas mais gradas da capital, e immenso povo, ahi tive a honra ainda de lançar a pedra fundamental para uma Pyramide, que a corporação Militar inaugurou á Sagração de S. M. o Imperador.” (JORNAL MARANHENSE, ano I, n. 27, 1841, p. 1).

Hoje, esse monumento é conhecido como “Pedra da Memória” e sua localização atual é o fortim de São Damião, um daqueles semicírculos, também conhecidos como meia-laranjas na Avenida Beira-mar, nas proximidades do Palácio dos Leões. Foi o primeiro monumento de São Luís projetado e construído com essa finalidade específica, no sentido de guardar uma memória, uma efeméride histórica, típico de cidades civilizadas e cultas do século XIX. Segundo informações da época, foi o segundo do gênero no Brasil. A inciativa da construção do monumento partiu dos oficiais do exército que estavam aqui. Foi projetada em 18 de agosto de 1841 pelo Tenente Coronel, José Joaquim Rodrigues Lopes (o Barão de Mattoso) do Imperial Corpo de Engenheiros que se encontravam no Maranhão por ocasião da Balaiada. Sua pedra fundamental foi lançada em 15 de setembro de 1841, no bojo de três dias de festividades e inaugurações de obras públicas no Maranhão e em especial, em São Luís para celebrar a sagração do segundo imperador do Brasil. 

 Após sua inauguração, a área posterior ao quartel militar, o então 5.º Batalhão de Infantaria, passou a ser conhecida como “Largo da Pirâmide”, onde hoje, existem os prédios do Liceu maranhense e o Ginásio Costa Rodrigues. A planta de São Luís de 1858, através de um ícone, traz a exata localização do obelisco no antigo Campo d’Ourique. Ficava localizado onde atualmente encontra-se o Colégio Liceu maranhense.

A partir de sua inauguração, a Pirâmide, para além de sua importância em si, enquanto preservação de uma memória - a homenagem à coroação do Imperador, inscrita literalmente no mármore, assumiu também, outras importâncias no âmbito social, politico e cultural no cotidiano da vida da cidade de São Luís. É preciso notar que a instalação da Pirâmide nesse Campo, que antes, era um imenso e vasto Largo, nu e desértico, a partir daí, cria-se em torno do monumento, uma nova tradição para a cidade, um novo ponto de referência para reuniões populares, manifestações, parada para blocos carnavalescos, paradas cívicas e até mesmo ponto para seresteiros apaixonados, sendo, portanto, seus degraus, utilizados como palco para os mais diversos oradores. Não havia comemoração cívica em São Luís do século XIX, onde a Pedra da Memória não fosse parada obrigatória ou mesmo ponto de culminância.

É em fins do século XIX que a população passa a chamar a Pirâmide do Campo de Ourique, nome mais oficial, de “Pedra da Memória”, denominação mais popular. Também nesse período, a crônica local, noticia que o monumento é atingido por uma “faísca elétrica” (um raio) em meio a uma tempestade, destruindo assim a ponta da pirâmide e atingido pessoas que estavam no local.

Nas décadas de 1930/1940 com a urbanização do antigo Campo, que passou a chamar-se Parque Urbano Santos; a demolição do quartel militar e a construção de novos prédios, como a Biblioteca Pública e o Palácio da Educação (atual Liceu), a Pedra da Memória perdeu seu protagonismo, sendo removida, desmontada e largada nas proximidades dos destroços do antigo quartel, à mercê da provável extinção. Em 1946, numa campanha promovida pelos membros do Diretório Regional de Geografia do Maranhão para salvar o monumento, eles propõem ao poder público um novo local para o obelisco, o Cais da Sagração, na Avenida Beira-Mar. Então a Pedra da Memória é trasladada e remontada no Fortim de S. Damião desse cais, onde permanece até os dias de hoje. A Pedra foi finalmente salva e a memória dos acontecimentos que pretendia eternizar, fora preservada.

 

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