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COLUNA
Allan Kardec
É professor universitário, engenheiro elétrico com doutorado em Information Engineering pela Universidade de Nagoya e pós-doutorado pelo RIKEN (The Institute of Physics and Chemistry).
Coluna do Kardec

Fome e a transição energética

Neste texto, debatemos como a produção de energia pode ajudar no combate à fome.

Allan Kardec

Atualizada em 02/05/2023 às 23h38
 
 

"Se não têm pão, que comam brioches!” – esta frase teria sido dita por Maria Antonieta pouco antes de estourar a Revolução Francesa, ao saber que os camponeses estavam passando fome e não tinham nem pão pra comer. Ela e o marido, Luís 16, seriam decapitados pela política do extremismo jacobino em 1793. Sabemos o que aconteceu depois.

Aqui, o Maranhão servirá refeições na noite de Natal. Com esse gesto, o Governador Brandão trata, com dignidade, carinho e atenção os que mais necessitam na sociedade, além de ser uma forma concreta de relembrar o aniversariante do dia: Jesus. Bom recordar que o nome dado à nossa capital, São Luís, foi inspirado em homem generoso e bom, Luís 9, rei de França.

Neste momento, testemunhamos a preocupação do planeta com a chamada transição energética. Dela depende a sobrevivência da Humanidade! Um mundo com mais oxigênio, com menos poluição e menos geração de dióxido de carbono – o chamado CO2. Excelente! A grande pergunta é como conduzir essa questão sem abandonar aqueles que não fazem três refeições por dia, nem têm um prato de comida para todos os filhos. Estarão incluídos na equação?

O Brasil, como no futebol, é protagonista, tanto na área ambiental quanto na área energética. Por isso, acreditamos que, corretamente, o Presidente Lula chama o debate sobre a agenda do planeta em torno dos dois temas, que muita gente vê de forma dicotômica, mas que enxergo de forma complementar. Justifico abaixo.

O Brasil, nas últimas décadas, tem demonstrado que consegue dar uma resposta à altura da transição energética! Desconhecemos outro país no planeta que tenha uma matriz energética mais diversa e mais limpa, em termos percentuais, do que o nosso: energia eólica, solar, hídrica, ou aquela produzida a partir do etanol ou biodiesel. Por exemplo, a gasolina de nosso carro tem 27,5% do primeiro e o diesel dos caminhões, 10% do segundo. Além, claro, de ser talvez o único país do mundo a ter desenvolvido tecnologia e estar comercializando o chamado etanol de segunda geração.

Mais ainda, hoje o Brasil responde por 10% de todos os empregos verdes no mundo, ocupando a segunda colocação entre os maiores empregadores da indústria de biocombustíveis, solar, hídrica e eólica. O mercado brasileiro perde apenas para a China, que tem 42% dos 12,7 milhões de postos de trabalho do planeta, segundo dados da Agência Internacional de Energia Renovável (Irena), compilados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Creio que o nosso país deva continuar na diversidade de sua matriz energética e, em concerto com outros países, organizar e trabalhar soluções como, por exemplo, o desenvolvimento da tecnologia e a indústria do hidrogênio verde, projetos que o Maranhão está trabalhando com universidades e negociando com várias empresas. No entanto, não podemos deixar de explorar e organizar infraestrutura para as nossas riquezas, como, por exemplo, o gás natural – que foi reconhecido, no último junho, como energia renovável pelo Parlamento Europeu.

Por outro lado, temos nossos vizinhos, Guiana e Suriname e, além mar, Gana, Costa do Marfim, Libéria e outros países africanos explorando suas riquezas petrolíferas, com reservas de bilhões de barris de petróleo. Não há evidências, tampouco, que o Oriente Médio, Estados Unidos ou Rússia abandonarão sua produção – mesmo porque o planeta depende delas. Ademais, temos um grande problema pela frente, que é a capacidade de refino do Brasil, que está no limite há mais de uma década.

Ora, porque o Brasil renunciaria à sua Margem Equatorial, que engloba Amapá, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte? Sem produção e sem reservas de petróleo para as próximas décadas – afinal, segundo a Petrobras, estamos perdendo 10% ao ano! - seríamos obrigados a importar ainda mais combustíveis, ou seja, gasolina e diesel, daqueles países acima – algo que já acontece hoje, e afeta nossa balança comercial.

Adicionalmente, devemos lembrar que não há notícias que existirão mudanças na nossa matriz veicular, que funciona a partir daqueles dois combustíveis, ou tampouco deverá haver alteração no cozimento de nossa comida, que depende do GLP, ou gás de cozinha, que é um derivado do petróleo. O que fazer?

A Margem Equatorial é o maior vetor de desenvolvimento nacional das próximas décadas! Há exaustivos estudos científicos mostrando que o consumo de energia é proporcional ao índice de desenvolvimento humano. Como não incentivar a produção de energia quando podemos arrancar tantos brasileiros da pobreza ou da miséria extrema? Esta é a hora do Norte e do Nordeste! Temos logística de portos e ferrovias que poderão ajudar extraordinariamente o desenvolvimento nacional e tirar do sufoco vários municípios dessas duas regiões!

Finalmente, não seria a hora de a fome e a pobreza serem igualmente pautadas na equação de transição energética? Afinal, não podemos demandar a sobrevivência de apenas uma parte da sociedade, ou seja, aquela que já usa e consome energia elétrica, combustível e gás diariamente. Ao contrário de Maria Antonieta, devemos lembrar que a fome é urgente!

*Allan Kardec Duailibe Barros Filho, PhD pela Universidade de Nagoya, Japão, professor titular da UFMA, ex-diretor da ANP, membro da AMC, presidente da Gasmar.

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