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COLUNA
Allan Kardec
É professor universitário, engenheiro elétrico com doutorado em Information Engineering pela Universidade de Nagoya e pós-doutorado pelo RIKEN (The Institute of Physics and Chemistry).
Coluna do Kardec

A rota do papel

Abordamos o papel da academia no desenvolvimento do Maranhão.

Allan Kardec

Atualizada em 02/05/2023 às 23h38
 
 

Estudiosos afirmam que a Rota da Seda deveria se chamar Rota do Papel. Cai Lun ficaria hoje muito rico se resolvesse patentear uma das mais revolucionárias invenções, que alteraria a história da Humanidade para sempre. Era o ano de 105 de nossa era, ele tomou de uma tela de pano esticada em bambu e aplicou fibras de árvores e trapos de tecidos cozidos e esmagados. Deixou secar em uma peneira. Resultado? Descobriu um suporte que absorvia melhor a tinta. Eis o papel!

Todos nós queremos escrever, anotar, desenhar. É quase incontrolável. Aqui, do lado, no nosso querido Piauí, há inscrições rupestres de alguns homens da Pré História, na Serra da Capivara. Aliás, o nosso vizinho é um dos estados do Brasil com a maior concentração de arte rupestre das Américas. Já o Maranhão tem hoje a Suzano na minha Imperatriz fabricando papel...

A Rota da Seda é um símbolo. Registra, de certa forma, um tempo em que o Ocidente descobriu o Oriente. Ou vice-versa. Marco Polo que o diga. Eu sempre sou muito reticente quanto às reconstruções históricas, mas o “Marco Polo” da Netflix mostra muita coisa, embora com muito sabor de uma visão europeia. Mas, fazer o que? Se você só tem um martelo, tudo se lhe parece prego, como diz o ditado inglês.

Anaïs Nin disse que não vemos as coisas como são: vemos as coisas como somos. Para quem não lembra, Anaïs escreveu várias obras, entre elas o clássico “Henry e June”. O que gosto dessa frase é que ela desvela algo que é defendido pela interpretação de Copenhague na Mecânica Quântica: a nossa interferência quando observamos algo...

O observador participando do mundo, integrado, um só com o que acontece lá fora, o monismo: nada mais oriental. Eu e o outro. O sujeito e o objeto. A separação: tão ocidental. De um lado, os Vedas e do outro, Aristóteles. 

O papel foi um dos construtores da Rota da Seda. Antes as escritas eram em couro, ou em bambu e tantas outras formas. O papel é fácil de dobrar, leve, portátil em grandes quantidades. A seda é bela e encantadora: é feita a partir do casulo do bicho-da-seda. Mas é cara. O Ocidente influenciou o Oriente e vice versa a partir dos rastros deixado pelo papel.

Quando o alemão Gutemberg inventou a impressora, ou melhor, a imprensa, novamente o mundo mudou de cara. Veio a revolução que até hoje carregamos nas mãos: o livro. Foram impressos mais livros no primeiro século após do seu passo gigantesco do que haviam sido copiados à mão em toda a história da Europa. O continente começava a se integrar, dialogando através da escrita popularizada, aliás, o mundo se integrou a partir dessa bela invenção! 

Falo isso porque soube agora que a UFMA criou o curso de engenharia de transporte. Não sei se outra universidade maranhense deu o mesmo passo. Ainda na quinta-feira, fui convidado pelo Conselho de Administração (CONSAD) da EMAP para apresentar o que será do futuro do Maranhão na área de petróleo e gás, com a exploração da Bacia de Parnaíba e da Margem Equatorial. E eu perguntava: cadê a universidade que não enxerga o Complexo Portuário do Maranhão?

Logo após, estive com o Presidente Ted Lago, com quem compartilhei minha aflição: bilhões estão sendo investidos aqui e cadê o povo? Cadê o professor? Cadê o estudante? Nós vemos os carros passarem à nossa frente todos os dias não só para os portos, mas para Vale e Alumar. E o diálogo?

Falei para os membros do CONSAD: o que está acontecendo e o que está por vir, a não ser que aconteça um cataclisma ou uma hecatombe, o Maranhão entrará em um vórtice positivo em energia, em petróleo e gás. Vai depender dos maranhenses se eles vão querer ocupar a frente ou a traseira do ônibus. De novo, o trombone está tocando fortemente, chamando nossa atenção. Cadê as universidades? 

O curso de engenharia de transporte se junta ao de engenharia aeroespacial que um grupo grande trabalhamos para trazer, mas especial mérito seja dado a José Reinaldo Tavares. Um gigante! Agora, ainda faltam mais cursos que dêem suporte ao que o Maranhão vive e constrói para o futuro. Por exemplo, no setor de petróleo e gás, com quem quer que eu converse em busca de recursos e investimentos no Estado para a área acadêmica, vem a inevitável pergunta: o Maranhão tem curso em geologia e geofísica?

Ted Lago, atendendo à demanda do então governador Flávio Dino e do hoje governador Carlos Brandão, colocou R$ 40 milhões em investimento em pesquisa. “Allan, precisamos formar nossos meninos”. Não podemos perder, de nossa parte, gestores, o bonde da História. O futuro está gritando para a meninada, mostrando aos pais os caminhos. Falta um curso na área portuária. Engenharia naval? Engenharia portuária?

O futuro é uma astronave

Que tentamos pilotar

Não tem tempo, nem piedade

Nem tem hora de chegar

Sem pedir licença

Muda a nossa vida

E depois convida

A rir ou chorar...

*Allan Kardec Duailibe Barros Filho, PhD pela Universidade de Nagoya, Japão, professor titular da UFMA, ex-diretor da ANP, membro da AMC, presidente da Gasmar.

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