SÃO LUÍS - A Intenção de Consumo das Famílias (ICF) de São Luís, medida pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Maranhão (Fecomércio-MA), apontou para uma desaceleração de -0,6% em junho na comparação mensal com maio. Esse foi o segundo mês consecutivo que o indicador apresentou arrefecimento, freando uma escalada de recuperação da perspectiva de consumo das famílias ludovicenses que vinha evoluindo desde junho do ano passado.
Apesar da estagnação no último bimestre, o indicador revela que a intenção de consumo na capital maranhense cresceu +26,8% no acumulado entre junho de 2021 a junho deste ano, saindo de 61,5 para 78,0 pontos e demonstrando a caminhada das expectativas dos consumidores para longe dos efeitos negativos da pandemia sobre a economia local.
Dentre os sete subcomponentes que formam o indicador, quatro apresentaram variações mensais negativas, com destaque para a avaliação que os consumidores fazem sobre o momento para aquisições de bens duráveis, que apresentou queda acentuada de -9,0%, alcançando no mês de junho apenas 31,3 pontos e permanecendo distante da zona de otimismo situada aos 100 pontos.
A decisão do Banco Central do Brasil de elevar a taxa básica de juros pela 11ª vez consecutiva em junho, subindo a Selic para 13,25% ao ano, na tentativa de frear o consumo e conter a inflação, encarece o crédito ao consumidor e desestimula a intenção de consumo de produtos com valores mais elevados, como o caso dos bens duráveis, que são dependentes de linhas de financiamento.
Também apresentou variação mensal negativa dentro da ICF o subcomponente que avalia como os consumidores veem as condições atuais para acesso ao crédito, com queda de -1,4% na passagem de maio para junho. As elevações da Selic resultaram em taxas de juros ao consumidor que podem chegar, em média, a 370% ao ano no cartão de crédito e de 150% no cheque especial, inibindo a tomada do crédito para financiar o consumo neste momento.
“Temos uma economia bastante dependente, por um lado, do crédito para financiar o consumo e, por outro lado, das transferências federais de renda via programas sociais que permitem que as famílias mais pobres acessem os mercados. Com crédito caro e programas sociais sem recursos, cria-se um cenário de dificuldades para o comércio local”, avalia o presidente da Fecomércio-MA, Maurício Feijó.
Mercado de trabalho
Outro fator que influenciou negativamente na intenção de consumo das famílias em junho foi a avaliação dos consumidores em relação ao emprego atual. O subcomponente da ICF recuou -2,5%, reflexo da percepção dos empregados em relação ao momentâneo desaquecimento da atividade econômica que tende a ocorrer no fim do primeiro semestre do ano, após o encerramento do pico de vendas com o Dia das Mães.
Apesar da variação negativa na passagem mensal, o levantamento mostra que, comparado com junho do ano passado, o nível de consumidores desempregados recuou de 17,9% para 16,5% este ano. Além disso, a parcela de consumidores inseguros com o emprego atual caiu de 35,9% em junho de 2021 para 27,4% em junho de 2022. Esse cenário aponta a gradativa retomada de confiança no mercado de trabalho após a crise gerada pela pandemia nos últimos anos.
Nessa direção, o subcomponente que mede as perspectivas profissionais, ou seja, a avaliação dos consumidores quanto a uma possível melhoria profissional nos próximos seis meses, cresceu +1,3% no mês junho em relação a maio, marcando 113,1 pontos e se situando na zona de otimismo.
Esse cenário justifica-se pelos dados mais recentes divulgados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). No mês de abril de 2022, São Luís obteve um saldo positivo de 2.195 novos postos de trabalho, totalizando 5.338 empregos criados neste início de 2022. Esse aquecimento do mercado de trabalho eleva a confiança do consumidor quanto a sua evolução profissional.
Perspectivas de consumo
Além da avaliação positiva que os consumidores fazem sobre a melhoria profissional nos próximos seis meses, a pesquisa também demonstra evolução mensal do subcomponente de perspectiva de consumo. Com crescimento de +3,5% em junho, o resultado indica que as famílias estão mais confiantes em uma recuperação da intenção de consumo no médio prazo, apesar do indicador ainda estar distante da zona de otimismo, marcando apenas 69,5 pontos.
O que ainda deve dificultar uma recuperação mais acelerada desse componente nos próximos meses é o impacto da inflação sobre o custo de vida das famílias. Esse fator tem afetado também a avaliação que os consumidores fazem sobre o nível de consumo atual, que se manteve estável na passagem mensal, mas segue com apenas 44,2 pontos na escala absoluta, indicando a persistência do pessimismo do ludovicense com sua capacidade de consumo frente ao encarecimento dos produtos alimentícios e de insumos básicos, como energia elétrica e combustíveis.
Sobre a pesquisa
O levantamento foi realizado pela Fecomércio em parceria com a Confederação Nacional do Comércio (CNC) nos últimos 10 dias de maio, buscando analisar a expectativa de consumo para o mês seguinte. Com amostra de 500 famílias no município de São Luís, o intervalo de confiança da pesquisa é de 95%, com margem de erro de 3,5%, para mais ou menos. O índice da ICF varia de 0 a 200 pontos, sendo 100 pontos considerado a referência para os resultados - acima de 100 pontos (zona de otimismo) e abaixo de 100 pontos (zona de pessimismo).
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