(Divulgação)
COLUNA
Allan Kardec
É professor universitário, engenheiro elétrico com doutorado em Information Engineering pela Universidade de Nagoya e pós-doutorado pelo RIKEN (The Institute of Physics and Chemistry).
Coluna do Kardec

A revolução do conhecimento

Como o conhecimento revoluciona e transforma a sociedade.

Alan Kardec

Atualizada em 02/05/2023 às 23h38

 

 

A história mostra que a tendência do conhecimento é se espalhar, alcançando as regiões mais longínquas das mais diversas formas. Há dois momentos da Ciência na história. O primeiro foi o seu surgimento. O segundo foi a sua difusão. A Revolução Industrial, por exemplo, não foi um fenômeno isolado da Inglaterra. Aqueles que visitavam o Reino Unido levavam as inovações e novidades para seus países, até para regiões longínquas como o Brasil. A locomotiva a vapor é um exemplo.

Mas não podemos esquecer que há mais de mil anos o feno revolucionou o norte da Europa e garantiu seu desenvolvimento. Inglaterra, Suécia, Dinamarca e os outros países que margeiam o Polo Norte aproveitaram o fato de o feno ser uma forma de estocar energia para avançar em suas economias.

Hoje a difusão do conhecimento é uma tendência dominante, mas vai além do puramente acadêmico. Uma breve olhada ao redor e reconheceremos que os desafios postos nos dias atuais nos obrigam a fazer largo uso das tecnologias chamadas de “informação”. Atualmente, das cinco maiores empresas do planeta, todas são empresas de informação: Microsoft, Apple, Amazon, Alphabet e FaceBook. Para se ter uma ideia, há apenas dez anos, quatro dessas empresas eram da área de petróleo e gás e apenas uma da tecnologia da informação.

Ora, o que fizeram as empresas de petróleo? O que fez a China? Ops! Não falei, mas o Grande País do Oriente já usa Inteligência Artificial em seus processos de gestão há uma década! Da mesma forma, as empresas de petróleo e gás diversificaram seu portifólio e se adequaram ao mundo que surge! Transição energética e Revolução 4.0.

Há uma convergência dos pensadores e elaboradores de políticas públicas de que já se iniciou a Quarta Revolução Industrial, ou R4.0, que é um conjunto de tecnologias que estão transubstanciando a sociedade, destampando um mundo novo! Nesse cenário, por exemplo, é que se agrega a Internet de Quinta Geração, ou Internet 5G. Os especialistas estimam que viveremos a realidade de integração nunca antes experimentada na história da Humanidade. Integração total de imagens, sons e movimentos – inclusive novos sentidos humanos a partir de ferramentas de acesso ao sistema cerebral humano. A comunicação quântica também é outra realidade que deve se consolidar ainda nesta década! – falaremos dela em outro artigo.

O planeta mudou de tal forma que fica evidente a divisão não mais em terceiro ou primeiro mundo. Mas em países “que investem na inteligência” e nos que não investem. Muita gente hoje talvez fizesse uso palavras similares. Ainda que a Internet tenha diminuído as distâncias, há milhões de pessoas fora do mercado do conhecimento. O fato é que a distância entre os trabalhadores que prestam serviços chamados de “repetitivos” e aqueles que trabalham com pensamento aumentou extraordinariamente nas últimas décadas!

As formas de enfrentar o desafio da “era do conhecimento” são várias. Algumas soluções são antigas e estão no formato da Alemanha e do Japão, ou mais recentemente, na China: Investir pesado no trio educação/ciência/tecnologia, com foco em áreas específicas. Exemplos que surgiram mais recentemente são a China e a Índia, que investiram em educação de massa, com universidades surgindo em um passo febril. Só em Wuhan, por exemplo, há 1.2 milhões de estudantes nas várias universidades públicas ou privadas. Em uma cidade que tem 11 milhões de habitantes.

No Leviatã, Thomas Hobbes descreveu a vida do homem como “solitária, pobre, sórdida, brutal e curta.” E completou: “Tudo, portanto, que advém de um tempo de Guerra, onde cada homem é inimigo de outro homem, advém igualmente do tempo em que os homens vivem sem outra segurança além do que sua própria força e sua própria astúcia conseguem provê-los. Em tal condição, não há lugar para a indústria, porque seu fruto é incerto; e, consequentemente, nenhuma cultura da Terra existe”. Isso em 1651. 

Para alegria de Hobbes, o que está se desenhando no mundo de hoje não é necessariamente uma competição feroz entre os vários atores do conhecimento. Há vários exemplos que mostram um direcionamento para a cooperação. Um exemplo é o sistema Linux para computadores, que hoje é o grande concorrente do Windows, da Microsoft. Há trinta anos, o Linux era apenas uma brincadeira para estudantes de pós-graduação. Mas na atualidade já tem 83% dos novos sistemas de operação em servidores para corporações. A enciclopédia aberta Wikipédia também é um exemplo de como a cooperação está crescendo na economia do conhecimento, com contribuições de estudantes desde o Peru, o Canadá, o México até a Índia.  Ou seja, na economia do conhecimento, o que você sabe é mais importante do que onde você vive.

Aqui, uma pausa de reflexão: no Brasil, Ciência e tecnologia é atividade periférica. Não está no centro do debate de desenvolvimento nacional. Pensar, desenvolver e inovar não parecem estar na pauta diária de um país da envergadura como o nosso. Ainda assim, o Brasil avançou extraordinariamente na construção de conhecimento nas últimas décadas.

No entanto, como estamos na transferência de conhecimento? A sociedade está recebendo em retorno o investimento que faz em nossas universidades? Por último: o desenvolvimento regional é uma política compensatória ou estratégica? Desenvolver o Brasil acima do paralelo 16 – o Arco Norte do território nacional – é política da nação ou pauta assistencialista por seus milhões de votos?

Quando estivemos na pró reitoria de pesquisa e pós graduação da UFMA, em menos de dois anos aumentamos o número de mestrados em 17 e de doutorados em quatro. Imperatriz, minha cidade natal, que tinha apenas um mestrado, ganhou três novos mestrados e um doutorado. Hoje a UFMA tem mais de 60 programas de pós graduação!

Contudo, ainda temos de avançar no que é a tendência do Maranhão: portos, logística e energia. Mas sem esquecer a exuberância da nossa biotecnologia. Temos grandes competências no Estado, envolvendo também a área da saúde. Nossas plantas como babaçu, erva cidreira, caju ou boldo são temas de mestrados e doutorados e de submissão de patentes. Nessa área, só o ousado Programa de Pós Graduação em Biotecnologia (RENORBIO) que os estados do Nordeste criamos em conjunto há pouco mais de uma década já formou quase 1000 doutores!

Mas a pergunta que segue é: como nos mantemos na fronteira? Primeiramente, dando uma educação de qualidade. Tem um ditado chinês que diz: “Se você deseja um ano de prosperidade, cultive grãos. Se quer dez anos, cultive árvores. Mas para 100 anos, cultive gente”. O homem é o grande componente da economia do conhecimento.

Uma pergunta que todos fazem, por exemplo, é: por que uma gigante como McDonald’s se destacou quando todos vendiam sanduíches nos EUA? Inovação! A inovação tecnológica está sempre agregada ao conhecimento. Seja quando alguém desenvolve um novo produto em que uma diferença agrada ao usuário em relação aos concorrentes, ou mesmo inovando na forma de administrar.

Talvez um dos grandes exemplos de inovação seja a Google, dona da maior ferramenta de busca do planeta, que não é uma ideia nova. Várias companhias têm serviços semelhantes. O que então fez dela uma grande empresa? Seus criadores e diretores não são graduados na famosa Harvard Business School, talvez a melhor escola de economia do mundo. Eles são apenas “cientistas da computação com um gosto para o fantástico”, na definição do escritor John Battlelle.

Para encerrar, aqui resumimos cinco conselhos de Eric Shmidt e Hal Variant, ex-presidente e Economista Chefe da Google, respectivamente:

1. Empregue via comitê. Faça a pessoa ser entrevistada por vários empregados. Não basta contratar alguém tecnicamente competente. Tem que saber lidar com seus futuros colegas;

2. Empacote tudo dentro. Todo projeto do Google é um projeto de time. Coloque os membros de seu time juntos, no mesmo espaço físico;

3. Coma a sua própria comida de cachorro. Quem trabalha no Google usa as ferramentas do Google intensivamente;

4. Incentive a criatividade. Qualquer engenheiro do Google pode utilizar até 20% do seu tempo em um projeto de sua escolha.

*Allan Kardec Duailibe Barros Filho, PhD pela Universidade de Nagoya, Japão, professor titular da UFMA, ex-diretor da ANP, membro da AMC, presidente da Gasmar.

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