Descoberta

Pesquisadores descobrem nova espécie de planta em ponto turístico de São Luís

Nova espécie de planta foi descoberta às margens da avenida Litorânea, na capital maranhense, e trata-se Buchnera Nordestina.

Divulgação / Uema

Atualizada em 27/03/2022 às 11h03
A descoberta teve como ponto de partida a análise feita pelo biólogo e doutor em Biologia Vegetal, André Vito Scatigna.
A descoberta teve como ponto de partida a análise feita pelo biólogo e doutor em Biologia Vegetal, André Vito Scatigna. (Foto: divulgação / Uema)

SÃO LUÍS - O Brasil é o país com uma das maiores diversidades vegetais do mundo. Todos os anos, centenas de novas espécies são descritas em nosso país. Geralmente, essas novas espécies são raras e ocorrem em áreas restritas e remotas. Por outro lado, a presença de uma espécie desconhecida para a ciência em grandes centros urbanos é algo bastante incomum. Entretanto, foi o que pesquisadores de São Paulo e Maranhão encontraram.

Uma nova espécie de planta foi descoberta às margens da avenida Litorânea, ponto turístico de São Luís, capital do Maranhão. Trata-se de Buchnera Nordestina, espécie de planta parasita da família Orobanchaceae. A descrição formal da planta foi publicada na semana passada na Acta Botanica Brasilica, revista científica da Sociedade Botânica do Brasil.

A descoberta teve como ponto de partida a análise feita pelo biólogo e doutor em Biologia Vegetal, André Vito Scatigna, nos herbários da Universidade Federal do Maranhão (MAR) e da Universidade Estadual do Maranhão (SLUI). O taxonomista verificou exemplares com características que até então não haviam sido observadas em nenhuma espécie brasileira do gênero: as brácteas (folhas que subtendem as flores) excepcionalmente longas; a superfície do caule coberta por tricomas (pelos) orientados para baixo; e a presença de braquiblastos (ramos encurtados) nas axilas das folhas. Outros exemplares foram encontrados posteriormente em herbários da Universidade Federal do Ceará (EAC), da Universidade de São Paulo (ESA) e do Museu Nacional (R). Neste último, foi encontrado um espécime coletado no Ceará, pelo botânico Dr. Francisco Freire Allemão e Cysneiro, no final da década de 1850.

As etapas seguintes da pesquisa, realizadas em parceria com professores da Uema, UFMA e USP, incluíram coletas adicionais de exemplares em restinga na Praia do Calhau (São Luís), observação e fotografia das plantas vivas em seu habitat, além de análise em laboratório para elaboração de descrições e medições de caracteres morfológicos. Por fim, foi feita a redação do manuscrito em colaboração.

A nova espécie recebeu o epíteto “nordestina” porque foi registrada exclusivamente na região nordeste brasileira, em áreas de restinga e cerrado dos estados do Ceará, Maranhão e Piauí, principalmente sobre solos lateríticos (ricos em óxidos de ferro e alumínio) úmidos, às vezes muito próximas à praia, expostas ao vento constante e à maresia.

Embora populações de B. Nordestina ocorram em restingas, as quais são categorizadas como Áreas de Preservação Permanente, esta espécie está ameaçada devido à redução de seu habitat por interferência antrópica com ações de desmatamento, ocupação e degradação da área.

A descoberta de uma nova espécie com distribuição relativamente ampla e que ocorre dentro de áreas urbanas como São Luís é surpreendente e evidencia a lacuna no conhecimento da flora da região. Além disso, o fato de a primeira coleta da planta ficar cerca de 160 anos sem uma identificação mostra a falta de taxonomistas estudando Orobanchaceae e trabalhando na região.

Nas orlas de São Luís, inclusive no mirante da Litorânea, é possível observar espécimes de Buchnera nordestina crescendo na vegetação das dunas. São ervas com cerca de 10 a 60 cm de altura, com caules e folhas verdes a vináceos, com pequenas flores brancas a rosadas. A espécie floresce entre maio e dezembro, durante a estação seca.

A pesquisa resultou em artigo com autoria do Dr. André Vito Scatigna (Uema), Drª Raysa Valéria Carvalho Saraiva (UFMA), Arthur Filipe Mendes Couto (Uema), Dr. Vinicius Castro Souza (ESALQ/USP) e Drª Francisca Helena Muniz (Uema).

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