Sustentabilidade

Cientista ambiental alerta: só fechar as torneiras em casa não vai salvar o planeta

Prática é benéfica, mas, segundo cientista, não é tudo.

Daniel Moraes / Imirante.com

Atualizada em 27/03/2022 às 11h46
(Foto: Daniel Moraes / Imirante.com)

SÃO LUÍS – Nos últimos anos, a palavra sustentabilidade ganhou destaque na mídia brasileira e mundial. Muito se fala na importância de ser sustentável, preservar o meio ambiente. Mas, afinal, o que é sustentabilidade? Quando surgiu a preocupação em ser sustentável? Será que fechar as torneiras em casa resolve os problemas do planeta? Para esclarecer sobre esses e outros questionamentos, o Imirante.com conversou com o cientista ambiental Márcio Vaz. Veja, abaixo, os principais tópicos da entrevista.

- O que é sustentabilidade?

Prevenir, minimizar e corrigir o comprometimento, para as atuais e futuras gerações, de ecossistemas, bens e serviços ambientais, e recursos naturais por ações humanas diretas e indiretas.

- Quando surgiu a preocupação em ser sustentável?

O termo sustentabilidade começa a ser utilizado em fins da década de 1980. Antes disso, predominavam no movimento ambientalista os conceitos de harmonia e equilíbrio da sociedade humana com o meio ambiente e uma tendência a separar (dicotomizar) o ser humano do meio ambiente natural.

- O conceito de sustentabilidade mudou com os anos?

Sim. Podemos dizer que o conceito se tornou mais flexível (realista) ao considerar as nossas limitações em eliminar e reduzir os impactos ambientais negativos decorrentes das ações humanas. Ocorre também uma priorização da qualidade de vida humana na relação homem e meio ambiente.

- É possível existir harmonia e equilíbrio entre sociedade e meio ambiente?

O discurso, há 20 anos, era o de acabar completamente com os danos à natureza. E isso é impossível, porque não existe atividade humana que não cause danos. Esse conceito de impacto zero é o que eu chamo de “sustentabilidade idealista”. Hoje o conceito de sustentabilidade é mais dinâmico. No século 21, ser sustentável é procurar causar o mínimo de dano possível ao ambiente. É o dano gerenciável, que não causa impacto irreversível à natureza.

- Fechar as torneiras em casa adianta alguma coisa?

No contexto global, não. O consumo individual diário para higiene e preparação de alimentos é pequeno no contexto de uma sociedade que utiliza grandes volumes de água na agricultura e indústria.

Contudo, a prática é benéfica na criação de uma ética ambiental e educação da população para o conceito de desperdício.

- É possível ser sustentável no dia-a-dia?

A sustentabilidade possível seria aquela associada com a redução dos impactos ambientais negativos. A eliminação de impactos negativos (impacto zero) é impossível para uma sociedade com população e padrões de qualidade de vida em constante expansão, e cujo modelo econômico se baseia na transformação de recursos naturais.

A sustentabilidade no dia a dia passaria a ser aquela que estabelece metas de boas práticas para o grupo e que não dependeria de iniciativas individuais. Em outras palavras, a sustentabilidade só avançaria se fosse incorporada ao universo cultural da sociedade (ser sustentável passaria a ser óbvio e instintivo).

- Qual o maior problema ambiental de São Luís? Como resolvê-lo?

Sob a ótica de comprometimento da qualidade de vida, teríamos, em curto prazo, a Barragem do Bacanga e a médio e longo prazo a expansão da urbanização informal.

À montante da barragem temos bairros inteiros que estão abaixo do nível do mar. Em caso de comprometimento das comportas trinta mil pessoas teriam inundação por maré e seria comprometida a infraestrutura de saneamento de adicionais vinte mil.

A urbanização informal se caracteriza por não obedecer as regras de uso e ocupação do solo estabelecidas pelo Plano Diretor Municipal. Resolve de imediato um problema de carência de moradia, mas cria aéreas de baixa qualidade de vida, com deficiências de áreas verdes e de lazer, e saneamento básico e infraestrutura urbana precários.

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