Projeto Comunica Paz

Projeto Comunica Paz: quebrando o estigma de violência na Vila Embratel

Há quatro anos o projeto promove a cultura de paz com os jovens da comunidade.

Liliane Cutrim/Imirante.com

Atualizada em 27/03/2022 às 11h48

SÃO LUÍS – Quando você pensa no bairro Vila Embratel em São Luís, qual a primeira imagem que lhe vem à cabeça? Há 99% de chances de a sua resposta ser: violência. Afinal, basta ver nas notícias dos jornais que o bairro, geralmente, é retrato como altamente perigoso. Mas, na contramão desse estigma, está o Projeto Comunica Paz, que desde 2010 desenvolve ações de propagação da paz por meio da educação, esporte e cultura.

 Integrantes do Comunica Paz. Foto: Liliane Cutrim/Imirante.com
Integrantes do Comunica Paz. Foto: Liliane Cutrim/Imirante.com

“Eu decidi fazer parte do projeto após ouvir relatos de outras pessoas, dizendo que era muito bom. Além disso, eu gosto muito da comunicação e o Comunica trabalha a cultura de paz através da comunicação. A gente tá sempre produzindo atividades que reforçam os lados positivos da comunidade”, afirma Daniela Mirian, que está há quatro anos no Comunica Paz.

 Foto: Reprodução/Facebook
Foto: Reprodução/Facebook

Para a jovem, o projeto tem colaborado muito para desmistificar a ideia de que na Vila Embratel só tem exemplos de violência, além disso, o Comunica Paz tem contribuído, significativamente, para o crescimento intelectual e social dos integrantes do grupo.

“Desde que entrei no projeto, consegui terminar o ensino médio, comecei a fazer cursos técnicos e estou me preparando para o vestibular. E acredito que o projeto vai me ajudar bastante a conseguir fazer um curso superior, pois, depois que eu comecei a participar do Comunica Paz, melhorou muito o meu senso crítico com relação ao mundo, à política e à educação”, declara Daniela.

Veja relatos de alguns participantes do Comunica Paz, onde demonstram a alegria de fazer parte de uma ideia transformadora.

Da tese de doutorado à propagação da cultura de paz

O Comunica Paz foi idealizado pela doutora em Ciências Sociais e professora aposentada de Comunicação Social na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Vera Lúcia Rolim Salles, após o bairro ter sido objeto de sua tese de doutorado intitulada: “Jovens imaginário de paz e televisão”.

“Durante a construção da minha tese eu conheci o bairro e entrevistei jovens do local. Depois que conclui a pesquisa, pensei em fazer uma continuidade. Aí elaborei o projeto com o apoio da Fapema e demos o nome de: Meios de comunicação e a cultura de paz: as formas de expressão dos jovens na Vila Embratel”, explicou a coordenadora do Comunica Paz, Vera Salles.

 Coordenadora do Comunica Paz, Vera Lúcia Rolim Salles. Foto: Reprodução/Facebook
Coordenadora do Comunica Paz, Vera Lúcia Rolim Salles. Foto: Reprodução/Facebook

O projeto foi se desenvolvendo a partir de oficinas nas quais os jovens da comunidade foram expondo qual o imaginário deles sobre a paz. Depois, foram introduzidos conteúdos de cultura de paz.

“Sentimos que havia um estigma de violência no local. Chegamos a fazer um mapeamento das notícias sobre o local e só encontramos notícias de violência. Aí nós observamos que se desenvolvêssemos a autoestima desses jovens eles iriam se apoderar e dizer: ‘Eu posso, eu quero mudar esse bairro. Melhorando a mim mesmo e melhorando o restante’”, disse a idealizadora do Comunica Paz.

Há quatro anos em funcionamento, o projeto já desenvolveu várias ações como oficinas, danças, teatro, entre outras atividades. O Comunica Paz, que antes era ligado à UFMA, hoje “anda com as próprias pernas”. Com a ausência de financiamento público e privado, o projeto conta apenas com o trabalho voluntário.

“Como não conseguimos apoio, perguntamos aos participantes do projeto se eles queiram continuar nessas condições e eles disseram que queriam. Aí trouxemos voluntários para ajudar”, afirma Vera Salles.

 Foto: Liliane Cutrim/Imirante.com
Foto: Liliane Cutrim/Imirante.com

Prosseguimento

Apesar da falta de apoio financeiro, o Comunica Paz está em pleno funcionamento e é motivo de orgulho para a professora Vera Salles.

“Muitos já entraram em universidade, o que é motivo de orgulho para nós. O mais interessante é que, mesmo após passar para um curso superior, eles não querem abandonar o projeto. Eles querem passar os ensinamentos nas escolas do bairro. E estamos preparando eles para isso”, comemora Vera Salles.

Qualquer pessoa que tenha algum conhecimento na área da cultura, arte, educação, entre outros, pode se tornar um voluntário do Comunica Paz e trocar experiências com os integrantes do grupo.

Ouça a entrevista que a professora Vera Lucia Rolim Salles deu ao Imirante.com.

Reconhecimento internacional

No mês de outubro, Vera viajou para os Estados Unidos da América (EUA), para expor o Comunica Paz a um grupo de terapeutas sociais, que trabalham com minorias, por meio do teatro e dança.

O grupo de americanos acredita que a arte é um meio de mudar o mundo. A cada dois anos eles se reúnem para conhecer ideias da mesma linha na qual eles trabalham, fazendo a seleção de projetos de vários países. Este ano, o Comunica Paz foi selecionado e a professora Vera foi levar para Nova York um documentário sobre o projeto.

Veja a canção que os integrantes do Comunica Paz fizeram sobre o projeto.

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