Falso
É falso um vídeo publicado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) que mostra um abraço entre Celso Amorim, assessor-chefe da Assessoria Especial da Presidência da República, e Nicolás Maduro, com imagens distorcidas e uma trilha sonora romântica. O vídeo foi desmentido pelo governo federal e Amorim classificou o vídeo como "totalmente manipulado e falso", ressaltando que não tem relação com sua recente visita à Venezuela. O conteúdo foi feito com ferramentas de inteligência artificial, a partir de uma gravação real de quando Amorim visitou Maduro em março de 2023.
Conteúdo investigado: Vídeo manipulado que mostra um abraço entre Celso Amorim e Nicolás Maduro circula nas redes sociais. O vídeo foi compartilhado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), acompanhado de uma mensagem que questiona a legitimidade das eleições na Venezuela. No post, o parlamentar ironiza jornalistas que perguntariam a Amorim sobre a validade ou fraude das eleições no país.
Onde foi publicado: X.
Conclusão do Comprova: É falso um vídeo que mostra um abraço entre o assessor-chefe da Assessoria Especial da Presidência da República, Celso Amorim, e o ditador venezuelano Nicolás Maduro. A gravação, manipulada por meio de Inteligência Artificial (IA), mostra diversas imagens distorcidas, incluindo um filtro de corações e uma música romântica ao fundo.
Alguns detalhes no vídeo indicam manipulação por Inteligência Artificial. Um exemplo é quando, durante o abraço mais próximo entre Celso Amorim e Nicolás Maduro, a barba de Amorim parece “afundar” no ombro de Maduro. Além disso, a frase e as estrelas da bandeira do Brasil ao fundo aparecem visivelmente distorcidas.
O Comprova utilizou o Deepware, ferramenta que analisa possíveis usos de IA para manipulação de vídeo, e obteve a conclusão de que o vídeo é suspeito. O Fato ou Fake, do G1, usou o mesmo programa, que indicou que o conteúdo é 60% falso, já que as imagens manipuladas por IA estão misturadas com trechos reais.
Além disso, a publicação foi desmentida pelo governo federal. Segundo nota divulgada por meio da Secretaria de Comunicação Social (Secom), o próprio Amorim apontou o vídeo como “totalmente manipulado e falso”, afirmando que a gravação é uma clara tentativa de desinformação. Amorim disse que o material também não tem relação alguma com sua viagem recente à Venezuela, para acompanhar as eleições presidenciais.
Um dia após publicar a imagem, Eduardo Bolsonaro publicou o vídeo original e caracterizou o anterior como “claramente editado” e “caricato”. Apesar disso, o deputado federal não apagou a gravação manipulada de suas redes sociais.
Após a repercussão, a Advocacia-Geral da União (AGU) notificou as redes sociais para removerem o conteúdo manipulado de suas plataformas. O pedido destaca a gravidade da conduta por conta do efeito de confundir a população sobre a posição do Estado brasileiro a respeito das eleições na Venezuela.
O X classificou o vídeo como “mídia manipulada”, acrescentando uma nota de que não é permitido compartilhar mídia sintética, manipulada ou fora de contexto que possa enganar ou confundir pessoas e causar danos.
Encontro em 2023
A base do conteúdo enganoso é um vídeo de 2023. Celso Amorim e Nicolás Maduro se encontraram em março daquele ano e se cumprimentaram, mas não de forma tão afetuosa como exibe o vídeo manipulado (foto mais abaixo). O conteúdo enganoso sugere que o encontro teria ocorrido no contexto das discussões a respeito das eleições venezuelanas realizadas no último dia 28 de julho.
Celso Amorim realizou sua última visita à Venezuela em 26 de julho de 2024 para acompanhar o processo eleitoral que ocorreria dois dias depois. O objetivo era coletar impressões e relatos para ajudar o Palácio do Planalto a se posicionar após a divulgação dos resultados.
Seu primeiro encontro foi com o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yvan Gil. A visita é considerada um protocolo diplomático, e, em razão de sua função no Brasil, é recomendável que Amorim busque o principal representante da diplomacia local ao chegar em outro país.
Notificação da AGU
A Advocacia-Geral da União (AGU) notificou as redes sociais X, Instagram e Facebook para removerem de suas plataformas o conteúdo manipulado. O pedido de remoção, segundo a AGU, fundamentou-se “na gravidade da conduta, já que tem o efeito de confundir a população sobre a posição do Estado brasileiro a respeito das eleições venezuelanas”. Caso não seja acatado o pedido, o órgão requereu que os vídeos sejam marcados com informação de que foram gerados por inteligência artificial.
Segundo a Procuradoria Nacional de Defesa da Democracia (PNDD), além de enganoso e fraudulento, o vídeo configura como ato antijurídico, uma vez que viola o direito à informação, conforme previsto no artigo 5º, inciso XIV e 220, da Constituição Federal, e extrapolam os limites da liberdade de expressão, caracterizando como abuso de direito, conforme artigo 187 do Código Civil.
“A veiculação de vídeos ou imagens manipuladas pelo uso de inteligência artificial, criando cenas não condizentes com a realidade, retira da sociedade o direito fundamental à informação”, explica a coordenadora-geral de Defesa da Democracia da PNDD, Priscilla Rolim de Almeida. “A sociedade tem o direito de ser informada com base nos valores éticos e sociais, conforme garante a Constituição Federal, em seu artigo 221, inciso IV”, complementa.
O Comprova procurou a assessoria de imprensa do deputado Eduardo Bolsonaro, mas até a última atualização desta verificação não houve retorno.
Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 8 de agosto, o post tinha 557,1 mil visualizações, além de 9,4 mil curtidas e 2,7 mil compartilhamentos.
Fontes que consultamos: Procuramos por informações verificadas em portais de notícias, além de informações oficiais nos sites do governo federal e da AGU.
Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
Outras checagens sobre o tema: Outras iniciativas de checagem também verificaram o conteúdo, como o Fato ou Fake (g1), Aos Fatos, AFP e Crusoé. O Comprova também já atuou em outras publicações falsas relacionadas ao governo e à Venezuela. Uma delas foi uma montagem de uma publicação do ministro Fernando Haddad com elogios a Nicolás Maduro. Em outra, o projeto checou um print falso com uma suposta reportagem do G1 de que Lula teria dito que o país vizinho “não precisa de críticas”, mas de “financiamento e empréstimos”.
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