Meio ambiente

Ativista ambiental diz que exploração de petróleo ameaça corais da Amazônia

Processo de licenciamento ambiental para perfuração de poços está em análise.

Agência Brasil

Atualizada em 27/03/2022 às 11h26
As primeiras imagens do recife de corais da Amazônia foram feitas com auxílio de um submarino.
As primeiras imagens do recife de corais da Amazônia foram feitas com auxílio de um submarino. (Divulgação/Greenpeace)

SÃO PAULO - O processo de licenciamento ambiental para perfuração de poços de petróleo na região da foz do Rio Amazonas, próximo de onde foi descoberto recentemente um recife de corais, esponjas e rodolitos de 9,5 mil km² – uma área 20% maior que a região metropolitana de São Paulo –, está em análise no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Segundo o ativista Thiago Almeida, da Campanha de Energia da Ong Greenpeace, a exploração na região gera o risco de derramamento de petróleo.

De acordo com Almeida, esses corais representam um novo bioma, que é único no mundo devido as características em que se desenvolveu, em água turva e barrenta, o que normalmente torna pouco provável a existência de um ecossistema como esse. Para o ativista, o bioma já nasceu ameaçado por causa da possível exploração do petróleo nos arredores do recife.

Conforme Thiago Almeida, apesar de os blocos de exploração petrolífera das empresas Total, BP e Queiroz Galvão não estarem exatamente em cima da área conhecida dos recifes,“a ameaça é justamente o que um possível vazamento poderia causar sobre os recifes, a costa e os mangues”. O poço de exploração mais próximo do novo bioma descoberto pertence a Total e está a uma distância de 8 quilômetros.

“Se o petróleo [desse possível vazamento] chega até a costa do Amapá, temos lá a maior área contínua de mangues do mundo, que são importantíssimos estuários, berçários, para a vida, e também têm papel importante na captura e sequestro de carbono, ajudando a combater o aquecimento global e as mudanças climáticas”, acrescentou o ativista.

“É sempre importante lembrarmos o vazamento da [plataforma] Deepwater Horizon e a extensão da poluição e do derramamento de petróleo que atingiu a costa de diversos países”, destacou Almeida, citando a explosão da plataforma da empresa petrolífera British Petroleum, em 2010, no Golfo do México.

No acidente, 11 pessoas morreram e cerca de 4,9 milhões de barris de óleo vazaram para o mar. O petróleo vazou durante 87 dias, se espalhou por mais de 1,5 mil km no litoral norte-americano, contaminou e matou milhares de animais, segundo o Greenpeace.

Processo de licenciamento

Em 2015, as empresas encaminharam os Estudos de Impacto Ambiental (EIA) e os Relatórios de Impacto Ambiental (Rima) ao Ibama. Entre 2015 e 2016, o órgão devolveu pareceres técnicos solicitando mais dados e esclarecimento sobre alguns pontos dos documentos. Até o momento nmão houve retorno das empresas sobre as questões.

“É por isso que o Greenpeace decidiu fazer campanha [Defenda os Corais da Amazônia] para defender esses corais, pedindo às pessoas que digam a essas empresas para abandonarem quaisquer planos de explorar petróleo na região”, disse Almeida.

Ele ressaltou que, no caso de um vazamento chegar à costa, diversas comunidades tradicionais também seriam afetadas, como pescadores, extrativistas, quilombolas e indígenas, “que dependem do meio ambiente, da saúde dos mares e da costa brasileira para sobreviver”.

Campanha

Em 24 de janeiro, uma embarcação do Greenpeace saiu do Porto de Santana, no Amapá, em direção à foz do Rio Amazonas, onde está o recife, integrando a campanha Defenda os Corais da Amazônia. A bordo, estão os pesquisadores que anunciaram a descoberta do recife, em abril do ano passado, e ativistas da ong.

No último dia 30, foram divulgadas as primeiras imagens do recife de corais da Amazônia feitas com o auxílio de um submarino. O grupo permanecerá embarcado e fazendo registros na região até o próximo dia 10.

Empresas

Em anúncio no site da Total em 4 de janeiro, a empresa informou que prevê a perfuração de poços ainda em 2017, que deve seguir até 2020, e que aguarda a emissão da licença ambiental pelo Ibama. A empresa já recebeu, pelo Porto de Belém (PA), os primeiros equipamentos para a atividade.

“Os poços serão perfurados em águas ultraprofundas, a mais de 1,9 mil metros de profundidade e a uma distância entre 120 e 188 km da costa do município do Oiapoque, no estado do Amapá. O objetivo da atividade é identificar e avaliar a existência de reservas de petróleo e/ou gás na área dos blocos. A partir da avaliação dos poços, outras atividades poderão ocorrer futuramente na área, sujeitas também a ações de licenciamento ambiental junto ao Ibama”, afirmou a Total.

Em nota, a Total disse que a empresa conduziu caracterização ambiental e que os resultados dos estudos mostraram que não há ecossistemas recifais dentro da área dos blocos operados por ela. “As atividades de perfuração somente serão iniciadas após a Total receber a licença ambiental do Ibama, ainda em análise por este órgão”, acrescentou a nota.

Também por meio de nota, a BP disse que pesquisa realizada pela empresa não detectou nenhum sinal dos recifes na área de seu bloco de exploração. Segundo a empresa, “em todas suas operações de perfuração o principal foco da BP é com a prevenção de vazamentos de petróleo, aplicando as melhores práticas da indústria na segurança, no desenho dos poços, na perfuração e na proteção ao meio ambiente”.

O cumprimento das operações do programa de sua exploração de petróleo têm prazo estabelecido pelo contrato de concessão até agosto de 2018.

A direção da Queiroz Galvão informou que, para atender ao processo de licenciamento ambiental requerido pelo Ibama, a empresa realizou pesquisa que não apontou a presença de recifes na área de exploração. De acordo com a empresa, a eventual perfuração na área deverá ocorrer em 2019 e 2020.

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