Conversações de Além-mar
Posso dizer que me rendi à “globalização” — entendida, esta, no que tem de legitimamente universal.
Posso dizer que me rendi à “globalização” — entendida, esta, no que tem de legitimamente universal. É fenômeno inescapável e, até certo ponto, benéfico. Muito ganharia a consciência conservadora e tradicional se a enquadrasse nos liames mais gerais — com uma dose considerável de boa-vontade, naturalmente — do universalismo lusitano que herdamos do velho reino peninsular. Podem me tomar por otimista, mas é o que penso.
Exemplo admirável dessa mentalidade saudavelmente universal são as Conversações de Além-mar — Encontro Internacional de Literatura de Língua Portuguesa, que terá nova edição hoje, a partir das 19h, na Academia Maranhense, à Rua da Paz. Evento assaz importante.
São as Conversações um ciclo de conferências, realizadas periodicamente em São Luís, com a participação de grandes escritores de língua portuguesa. Desta feita, receberemos o escritor luso-cabo-verdiano Joaquim Arena, autor do premiado romance Siríaco e Mister Charles, originalmente publicado em 2022. Não o li — ainda —, mas, segundo dizem, é do melhor da atual novelística de língua portuguesa.
As Conservações têm na figura do escritor e crítico literário Alexandre Maia Lago o seu grande paladino e idealizador. Na edição de hoje, serão responsáveis pela moderação da conferência o poeta Adonay Ramos Moreira e o escritor Bruno Tomé. O presidente da Academia, o escritor e magistrado Lourival Serejo, fará as honras, em nome da Casa e do Maranhão. Evento a que deverá acorrer, portanto, o mais representativo da nossa terra.
Recordo-me, com desvanecimento, da edição das Conversações que recebeu o historiador Laurentino Gomes, muito famoso pelas suas trilogias a respeito, uma, das nossas mais importantes datas históricas — 1808, 1822 e 1889 — e, outra, acerca do “problema” da escravidão. “Problema”, aqui, no sentido de questão histórica, a ser elucidada. Embora não possa acompanhar o ilustre historiador em muitas de suas conclusões, por lhe faltar justamente aquela “compreensão” que somente uma ampla cultura humanística pode propiciar, é inegável que a difusão das suas obras constitui um bom serviço ao debate em torno de um tema, em todos os sentidos, espinhoso. E nem teria como ser de outro modo.
Seja como for, saindo da conferência, fui encomendar, a um sebo, o clássico livro do historiador e jurisconsulto Agostinho Marques Perdigão Malheiro sobre A escravidão no Brasil — ensaio histórico-jurídico-social (Rio de Janeiro: Typ. Nacional, 3 vols., 1866; Petrópolis: Vozes / MEC, 1976), indesculpável lacuna em meus modestos estudos sobre a matéria. A “brasiliana” acerca da escravidão — de Perdigão Malheiro a Ibsen Noronha, passando pelos estudos admiráveis de um Gilberto Freyre ou de um Arthur Ramos sobre a situação do negro no Brasil — forma uma biblioteca de algumas centenas de volumes. A conferência de Laurentino Gomes me fez ler e reler alguns tomos dessa “brasiliana”. Eis aí, também, um belo serviço a um debate franco e leal, sem a impostura das ideologias.
Infelizmente, por ainda me recuperar de um acidente, não poderei comparecer a esta edição das Conversações de Além-mar. Tenho certeza, porém, de que se revestirá de grande importância cultural. Vale.
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