“Pérola” e as memórias que cabem no coração
Filme “Pérola”, dirigido por Murilo Benício, abre o Festival Guarnicê de Cinema nesta sexta-feira (9), às 19h, traz um elenco impecável para abordar as formas de lidar com a morte.
SÃO LUÍS - Há músicas, filmes e poemas que abordam a despedida de diferentes formas. Em todas, é difícil traduzir os sentimentos da ausência, especialmente, quando ela é causada pela morte, "o único mal irremediável”, como já escreveu Ariano Suassuna.
“Pérola”, o filme que abre o Festival Guarnicê, nesta sexta-feira, às 19h, no Teatro Arthur Azevedo, traz esse tema. Como é o primeiro dia após a morte da sua mãe? O que passa na nossa cabeça? Que tipos de sentimentos estão envolvidos e como lidar com eles?
O filme, dirigido por Murilo Benício, é pelo olhar de Mauro (Leonardo Fernandes), filho de Pérola (a sempre excelente Drica Moraes) que vive, no dia seguinte a partida da sua mãe, um emaranhado de lembranças e sensações causadas por essa partida.
Acompanhamos as lembranças de Mauro deste a infância, os planos da casa nova, adolescência, músicas, brigas...Enfim, as dores de um cotidiano de uma típica família brasileira de classe média que tem o sonho da mansão com piscina e que não é (e nem tenta ser) perfeita, mas que tenta conviver com traços de alegria, em meio a dores e sonhos.
O filme é baseado na obra do escritor e dramaturgo brasileiro Mauro Rasi, falecido em 2003, e, muitas de suas obras no teatro tinham referências em sua vida familiar. “Pérola”, por exemplo, foi considerado um dos marcos do teatro brasileiro dos anos 1990 e, qualquer adaptação requer cuidados e muita delicadeza, o que tem de sobra nessa adaptação para o cinema.
Sensibilidade
Com roteiro assinado por Adriana Falcão, Marcelo Saback e Jô Abdu, a direção de Benício nos leva até a sala (ou seria até a área da piscina?) da casa daquela família na cidade de Bauru (SP), em diferentes fases da vida deles. Percebemos as cores vibrantes das paredes, sentimos o cheiro do café forte, ouvimos as gargalhadas na festa e os cheiros das frutas que servem para fazer os 35 tipos de drinques que o chefe da família (Rodolfo Vaz) faz nas festas.
Muitas vezes, vendo o filme, surge a dúvida se estamos assistindo àquela família ou vivendo as nossas próprias lembranças. É bem possível que estejamos fazendo as duas coisas. É uma história particular ou é só a vida se mostrando tão singular e tão coletiva ao mesmo tempo?
Mauro divide com a gente o afeto da mãe, a relação com a irmã Elisa (Valentina Bandeira). Uma relação construída em várias camadas de afetos, delicadezas, rancores, traumas...Temas que fazem parte da história de qualquer pessoa.
Depois de uma potente direção em “O Beijo no Asfalto” (2018), Benício reafirma em Pérola que, além de ser um ator magistral, é um grande diretor que coloca seu olhar sensível à total disposição da narrativa que se propõe a contar. Pérola é uma história de partidas, mas também de reencontros, de cheiro de casa, sons de gargalhadas, músicas antigas, como se fechássemos os olhos e voltássemos para a nossa própria infância.
É um filme que desperta saudades e faz cada pessoa que assiste acessar as suas memórias particulares, percebendo a delicadeza e alegria mesmo nos momentos tristes e angustiantes. Sim, isso é a vida pulsando, até mesmo na hora do adeus.
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