SÃO LUÍS - Se existe ainda quem acredite que jogos não são “coisa de mulher”, elas demonstram cada vez mais que isso não é verdade. Seja como jogadoras, seja tomando a frente em cargos na indústria de games, as mulheres representam uma fatia significativa do público consumidor, além de garantirem seu espaço no setor.
Segundo a Pesquisa Game Brasil, divulgada em 2022, elas já são 51% dos 97 milhões de jogadores no Brasil. Além disso, elas já representam 29% da força de trabalho da indústria brasileira de jogos.
O Imirante conversou com três maranhenses que se destacam no setor para conhecer o que elas pensam sobre o assunto.
Ana Ribeiro
Com dez anos de carreira, Ana Ribeiro é uma das pioneiras no trabalho com realidade virtual (VR) no Brasil. Atualmente, a maranhense é Diretora Criativa da ARVORE Immersive Experience, uma desenvolvedora de jogos VR, que recebeu o Primetime Emmy de inovação extraordinária pela Academia de Artes e Ciências Televisivas em 2020.
Formada em psicologia, Ana conta que decidiu começar a trabalhar na área de games depois de quase abrir um negócio de empadas aqui em São Luís. Com o dinheiro que iria usar para abrir a loja, ela foi para a Inglaterra estudar programação para jogos.
"Eu descobri que estava na área errada. Eu sempre gostei de jogar videogame, mas nunca tinha pensado que o hobby poderia virar uma carreira", afirma Ana.
Não muito tempo depois, ela começaria a desenvolver o Pixel Ripped 1989 – um game de realidade virtual no qual o jogador embarca em uma jornada na tela de um videogame para ajudar a heroína Dot. O projeto fez tanto sucesso que já foi lançado o segundo jogo da franquia, o Pixel Ripped 1995, e o estúdio já tem planos para o terceiro episódio.
Apesar de já trabalhar há tanto tempo na área, Ana diz que ainda se sente em começo de carreira. Para ela, esse sentimento é compartilhado por boa parte das mulheres do setor, que não se consideram tão capazes quanto são, por isso acabam não se candidatando às vagas que querem.
“A gente começou a notar que quando é um cargo sênior, é muito difícil mulheres darem entrada. A gente começou a colocar cargos nível júnior e mais mulheres começaram a entrar na empresa”, disse Ana. “Eu acho que a gente se cobra muito e tem essa cultura de achar que nunca é boa o suficiente ou a gente tem que estar perfeitamente encaixada naquele cargo para dar entrada. A gente perde muita oportunidade.”
Jasmyn Lemos
Em 2019, Jasmyn Lemos leu uma notícia (aqui no Na Mira) sobre um evento de criação de jogos, a Global Game Jam, e decidiu se arriscar. Em 72 horas, ela e a equipe desenvolveram um jogo completo.
“Eu não tinha muitas habilidades, apenas desenhar e arranhava um pouco de programação do curso de TI que eu tinha feito no ensino médio. Mas ainda bem que a comunidade foi muito receptiva comigo. Eles me incluíram e me ensinaram muita coisa que eu não sabia”, conta Jasmyn.
A partir de então, a maranhense começou a trabalhar na área como artista 2D e de interfaces para jogos. Atualmente, ela coordena a Comunicação da OPS Game Studio, uma desenvolvedora de jogos independentes do Maranhão, que lançou títulos como o Lunar Axe e o Vem Guarnicê, ambos com temáticas relacionadas à cultura do nosso Estado.
Para Jasmyn, a comunidade dev do Maranhão é muito receptiva com quem quer aprender a fazer jogos. No entanto, essa não é a realidade de todos os lugares. Ela afirma que o mercado ainda precisa evoluir bastante para ser mais receptivo para as mulheres.
“O principal preconceito que nós mulheres sofremos é o de que sempre duvidam da nossa capacidade, acham que nós não sabemos o suficiente pra estarmos falando ou trabalhando na área de jogos. O tempo inteiro temos que lutar para ter espaço, voz e autoridade para que não diminuam os nossos conhecimentos e nem os nossos trabalhos”, completa.
Flávia Naoshii
Flávia Naoshii gosta de jogar desde que se entende por gente. Tanto que escolheu a graduação em design pensando em se tornar designer de jogos.
Em 2019, Naoshii participou da Game Jam Plus, um evento também voltado para a criação de games. A maranhense usou o espaço para tirar do papel um jogo que ela sempre teve vontade de desenvolver e conta que se encantou pelo processo, começando a trabalhar com isso desde então.
No entanto, durante a pandemia, ela conta que migrou de área e se tornou apresentadora de esports. Flávia, que também é formada em radialismo, atua ainda como criadora de conteúdo e analista de esports.
"Eu precisei de toda essa caminhada até chegar onde eu cheguei, principalmente para compreender os jogos não só como meu entretenimento, mas também como minha fonte de trabalho", diz Flávia.
Para ela, as oportunidades para atuar no setor não são as mesmas entre homens e mulheres.
"Eu acredito sim que existe a necessidade de vagas inclusivas, mas não porque as minorias não são boas. Pelo contrário, são muito boas, tanto que a gente consegue tirar leite de pedra. A gente enfrenta diversas adversidades durante a nossa vida. Infelizmente, a gente sabe que o acesso à tecnologia e informação entre homens e mulheres não é o mesmo. Não é uma caminhada justa."
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