São João do Maranhão

Tambor de Crioula: marcas da resistência cultural e religiosa

O Tambor de Crioula é uma expressão da matriz afro-brasileira, típica maranhense, pode ser feita livremente sem calendário específico.

Luciano Dias / Imirante.com

Atualizada em 24/04/2024 às 10h40
A manifestação foi ao mesmo tempo uma forma de entretenimento e uma homenagem a São Benedito, o protetor dos negros. (Foto: Casa do Tambor de Crioula / Secretaria de Estado da Cultura)
A manifestação foi ao mesmo tempo uma forma de entretenimento e uma homenagem a São Benedito, o protetor dos negros. (Foto: Casa do Tambor de Crioula / Secretaria de Estado da Cultura)

Ao longo do ano, é possível ouvir os ecos do Tambor de Crioula nas praças da cidade, no centro cultural, dentro dos terreiros ou no palco de festas como Carnaval e São João. O Tambor de Crioula é uma expressão da matriz afro-brasileira, típica maranhense, pode ser feita livremente sem calendário específico. A manifestação foi ao mesmo tempo uma forma de entretenimento e uma homenagem a São Benedito, o protetor dos negros. 

Segundo os registros do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), São Benedito possui duas narrativas de origem. Há um ditado que diz que ele era um escravo que um dia foi para a mata, cortou um tronco de árvore, tocou tambor e depois ensinou outros negros a fazer e tocar tambor. A segunda versão é que o santo era o cozinheiro do mosteiro que escondia comida em suas vestes e a levava aos pobres. 

Embora não haja consenso sobre as origens de São Benedito, o fato é que ele é reverenciado por muitos membros do grupo Tambor de Crioula, que marcaram sua história com resistência cultural e religiosa. 

Para falar um pouco mais sobre o Tambor de Crioula, o Imirante.com conversou o Neto de Azile, Diretor da Casa do Tambor de Coroula do Maranhão. 

Segundo Neto de Azile, ao longo de uns 40 anos foi preciso fazer algumas adaptações no Tambor de Crioula, como a substituição gradativa do tambor de tronco de árvores para o feito de cano PVC. “Essa alteração está relacionada à proibição ambiental, que gerou uma dificuldade em se fazer uma coleta desse material. Entretanto a tradição teve o cuidado de fazer a alteração sem que interferisse na qualidade do som”, enfatiza o diretor da Casa do Tambor de Crioula. 

O Tambor de Crioula como instrumento de resistência
 

Tambor de Crioula como ativo turístico

O Tambor de Crioula do Maranhão

Quem dança o Tambor de Crioula

A dança do tambor de Crioula, normalmente executada só pelas mulheres, apresenta coreografia bastante livre e variada. Uma dançante de cada vez, faz evoluções diante dos tambozeiros, enquanto as demais, completando a roda entre tocadores e cantadores, fazem pequenos movimentos para a esquerda e a direita; esperando a vez de receber a punga e ir substituir a que está no meio. A punga é dada geralmente no abdômen, no tórax, ou passada com as mãos, numa espécie de cumprimento. Quando a coreira que está dançando quer ser substituída, vai em direção a uma companheira e aplica- lhe a punga. A que recebe, vai ao centro e dança para cada um dos tocadores, requebrando- se em frente do tambor grande, do meião e o pequeno, e repete tudo de novo até procurar uma substituta.

Dia Nacional do Tambor de Crioula

No dia 18 de junho de 2007, no solo sagrado da Casa das Minas, com a presença do então Ministro da Cultura, Gilberto Gil, o Conselho Consultivo do IPHAN reuniu-se para analisar o pedido de Reconhecimento e Titulação do Tambor de Crioula do Maranhão como patrimônio cultural brasileiro de natureza imaterial, título que foi concedido por unanimidade pelo referido Conselho. A partir daí este dia ficou conhecido como Dia Nacional do Tambor de Crioula do Maranhão. 
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Esta data representa um marco para a cultura maranhense momento em que o Tambor de Crioula, manifestação da cultura popular, de matriz tradicional africana torna-se referência cultural do povo brasileiro carregando história e memória do pais em sua prática cultural.

Revalidação como Patrimônio Cultural do Brasil 

No dia 31 de agosto de 2021 o título do Tambor de Crioula foi revalidado como Patrimônio Cultural do Brasil durante a 97ª reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural. 

O processo de revalidação foi analisado e aprovado por unanimidade na 97ª reunião do Comitê Consultivo do Patrimônio Cultural. O processo dos três bens culturais foi submetido a consulta pública prévia às deliberações do Conselho e os pareceres de reavaliação foram analisados ​​pela Câmara de Comércio do Setor de Patrimônio Imaterial do Ipan. 

De acordo com o disposto no Decreto nº 3.551/2000, os bens culturais tombados como patrimônio cultural estão sujeitos a procedimento de revalidação a cada dez anos. O objetivo é investigar o estado atual dos bens culturais, verificar mudanças nos sentidos e significados atribuídos ao bem, etc. A revalidação também visa financiar ações futuras de proteção e valorização do patrimônio imaterial. 

Tambor de Crioula: marcas da resistência cultural e religiosa

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