A chegada dos 40 anos pode ser um divisor de águas na vida de muitas mulheres. Há aquelas que se sentem mais seguras com a maturidade e experiências adquiridas. Mas esta, infelizmente, não é a realidade da maioria. E a Clara, de Vai na Fé, é um bom exemplo de como as mulheres podem se sentirem mal com os efeitos do tempo e diminuídas diante de seus próprios parceiros.
Para falar sobre essa questão tão presente na ficção e, especialmente, na vida real, ninguém melhor do que Regiane Alves, que interpreta a Clara na novela das 7. Aos 44 anos, ela conta que entender que a autoestima é algo que precisa ser construído dentro da gente mudou tudo em sua vida.
“Todo mundo já passou em algum momento por questões de insegurança. Mas, quando cheguei aos 40 anos, uma coisa muito boa aconteceu. Percebi que a gente coloca muito a felicidade na mão do outro. E descobri que a minha segurança vinha através do meu trabalho, de a gente se sentir bem produzindo. Minha autoestima tem que vir de mim, e não do outro. Isso mudou minha postura em relação aos outros, e descobri que eu tinha que tomar o controle da minha vida. Foi muito positiva a minha chegada aos 40”, lembra a atriz.
No caso de Clara, o marido Theo (Emilio Dantas) tem papel fundamental na diminuição da autoestima dela. O vilão não perde uma oportunidade de criticar a esposa, seja pelas atitudes ou aparência, justamente para deixá-la dependente, em suas mãos. E Regiane Alves espera que seu trabalho ajude muita gente a identificar que isso está acontecendo dentro de casa, o que nem sempre é uma tarefa fácil.
“A Rosane (Svartman, autora) foi muito precisa em colocar a situação desse casal, que acontece muito. Há muita exigência dos homens. As mulheres são bonitas, perfeitas, e o homem reclama, quer colocar a mulher sempre num tom abaixo. Hoje vejo as mulheres falando pelo que passaram e acabam se identificando. As mulheres podem se identificar muito com a Clara”, comenta.
Em Vai na Fé, Clara não é a única personagem a viver a questão do etarismo. Pelo contrário. Vários outros personagens - e seus atores também na faixa dos 40 - dão vida a problemas relacionados à idade. Por exemplo, a Sol (Sheron Menezzes), que virou dançarina de Lui Lorenzo (José Loreto) aos 40 anos, e Lumiar (Carolina Dieckmann), que não quer ser mãe.
“Acho de muita importância falar sobre isso. A Clara, logo no início, fala da Sol dançando com 40 anos, e muitas vezes a mulher não se vê nesse lugar de poder começar. Eu, Regiane, penso que nunca é tarde para começar nada. A vida é feita de ciclos. Basta a gente entender. Fiquei muito feliz porque quase nunca na dramaturgia você vê essa faixa de 40 anos.”
Para Regiane Alves, que tem 25 anos de carreira, a vantagem de estar na faixa dos 40 anos é ainda ser jovem, mas poder fazer aquilo que quer, e por que realmente quer.
“O barato dos 40 anos é que a gente não tem mais a ansiedade dos 20. A gente dá uma baixada de bola, estamos muito mais conscientes das nossas ações, e o positivo é que você faz porque você quer. Eu posso usar uma roupa mais curta, também posso fazer um estilo mais tranquila, mas as possibilidades estão aí, e quanto mais a gente falar sobre isso, melhor é”, opina.
Dando vida à sua terceira Clara na dramaturgia, Regiane Alves conta o que tem em comum com a personagem de Vai na Fé e dá um spoiler sobre a virada de chave que ela vai ter mais para frente na trama.
“Acho que já passei por essa situação de ficar à espera de um elogio, de um companheirismo do outro, de um olhar, esperar que a pessoa faça, e ela não faz. Quando eu olho essa Clara, eu penso que já tive essas atitudes e o quanto isso me fez mal, e o quanto vai ser bom quando ela acontecer, renascer para a vida.”
Quando fala na mudança de Clara, Regiane Alves lembra que a personagem é uma mulher que já foi modelo no passado, sempre foi rica, mas que hoje vive presa dentro de casa, lidando com os problemas do filho Rafa (Caio Manhente) e a ausência do marido Theo. Tudo muda quando ela começa a olhar para dentro, a fazer terapia, e a ajuda da personal trainer Helena (Priscila Sztejnman) vai ser fundamental nesse processo.
“Vejo a personagem como uma fênix. Ela vai sair das cinzas para a alegria”, revela.
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