Os 161 anos da morte de Gonçalves Dias
Poeta maior do romantismo brasileiro morreu em 1864, com o coração voltado ao Maranhão.
Em 3 de novembro de 1864, aos 41 anos, morria Antônio Gonçalves Dias, o poeta maior do romantismo brasileiro, símbolo eterno da saudade e da terra natal. Sua morte trágica encerrou uma longa e sofrida travessia de 53 dias, da França ao Brasil, a bordo do velho veleiro “Ville de Boulogne”.
Gravemente enfermo, com sífilis, tuberculose, problemas de circulação sanguínea e enfraquecido por uma cirurgia na úvula palatina, alimentando-se apenas de água com açúcar, Gonçalves Dias viajava com o coração voltado ao Maranhão — queria rever amigos, familiares e a “terra das palmeiras”, inspiração de sua mais célebre canção.
Na véspera do naufrágio, pediu à tripulação que o levasse ao convés. Já se avistava o litoral maranhense. Emocionado, contemplou o horizonte — era a sua terra. Mas sentiu-se mal e foi levado de volta à cabine. Já não falava mais.
O poeta era o único passageiro do navio, que contava com doze tripulantes. Na madrugada de 3 de novembro, por volta das quatro horas, o veleiro colidiu com um banco de areia nos Baixos dos Atins, também conhecidos como Croa dos Ovos, nas imediações da Praia de Araoca, próximo à então Vila de Guimarães. A embarcação partiu ao meio.
Segundo o inquérito policial aberto na época, os depoimentos da tripulação foram contraditórios. Ficou evidente que Gonçalves Dias foi esquecido em sua cabine no momento da evacuação. Quando o capitão se deu conta e ordenou o resgate do passageiro ilustre, já era tarde: a cabine estava completamente submersa.
Na confusão do naufrágio, debilitado e sem forças, o poeta morreu afogado — sozinho, a poucos quilômetros da terra que tanto amava. Seu corpo jamais foi encontrado. Também desapareceram os manuscritos inéditos que trazia consigo, guardados com tanto zelo em uma pequena mala cuja chave mantinha presa ao pescoço.
O médico e escritor maranhense Henriques Leal, seu amigo e autor de O Panteon Maranhense, empreendeu grandes esforços para localizar o corpo e os pertences do poeta. Nada encontrou de valor — apenas roupas e uma dentadura, pois Gonçalves Dias usava prótese.
Os rumores da época diziam que os papéis do poeta teriam sido levados pelas ondas até Alcântara, mas a hipótese jamais se confirmou. Restaram apenas dois fragmentos do casco do navio: um com parte do nome “Ville de Boulogne”, hoje preservado no Museu Histórico e Artístico do Maranhão, e o outro na Academia Brasileira de Letras.
Assim se cumpriu o destino trágico de um dos maiores nomes da literatura brasileira — o poeta que eternizou o amor à pátria e à terra natal e que, ironicamente, encontrou a morte quando finalmente voltava para ela. “Não permita Deus que eu morra, Sem que volte para lá; Sem que veja as palmeiras, Onde canta o Sabiá.”
As opiniões, crenças e posicionamentos expostos em artigos e/ou textos de opinião não representam a posição do Imirante.com. A responsabilidade pelas publicações destes restringe-se aos respectivos autores.
Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais X, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.