Capital dos maranhenses

A São Luís dos 409 anos descrita nas páginas históricas de O Estado

Nos últimos anos, o jornal se dedicou a contar parte da formação da gente e curiosidades que marcam uma terra de mais de quatro séculos; história e lembranças se misturam para contar sobre a Ilha

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h15
Praça Deodoro no ano de 1911

São Luís - Uma cidade única, descrita nas páginas de O Estado. Nos últimos anos, o jornal se dedicou a, nos fins de semana, contar aspectos da formação e consolidação de uma gente cujo território completou pouco mais de quatro séculos de fundação.

Desde a fixação do forte via Senhor de La Ravardière, marco histórico, passando por batalhas que iniciaram e construíram o chamado período colonial e pelo desenvolvimento da cidade nos séculos XVII, XVIII e XIX, foi possível descrever um território que, ainda com questões básicas pendentes, viu mudanças que modificaram os costumes, as características da população e, principalmente, a estrutura de uma capital até os dias atuais, ainda atrelada aos seus antepassados.

E não é prudente falar de um lugar com tantos fatos que marcaram a nossa gente, sem antes citar a sua formação, ainda que de forma sucinta. Antes dos franceses, conforme a historiografia oficial, por aqui, as primeiras missões se estabeleceram no século XIX, cujos meios de transporte literalmente naufragavam nas águas tensas do Boqueirão.
Posteriormente, com a missão francesa a princípio em busca de consolidação e, ao mesmo tempo, desinteresse pela terra encontrada, vieram os portugueses, que literalmente tiveram que lutar por estas terras, na conhecida Batalha de Guaxenduba.

O Estado contou este importante fato em sua edição dos dias 2 e 3 de novembro de 2019. De acordo com historiadores, a batalha durou seis horas, no dia 19 de novembro de 1612 (iniciada às 10h e finalizada às 16h). Especialistas, como por exemplo o presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM), Euges Lima, defendem a ideia de que a tal batalha ocorreu onde estão os limites da cidade de Icatu (MA).

Ainda segundo os pesquisadores, os franceses embarcaram no Forte de Itapary, onde atualmente fica a cidade de São José de Ribamar. Ao atravessarem a Baía de São José, as forças de Daniel de La Touche (cerca de 400 homens reforçados por três mil índios em 56 canoas) chegaram até a praia de Santa Maria, em Icatu, onde os portugueses estavam em minoria (eram apenas 100 no total, acompanhados por outros 180 indígenas).

De lá, apenas as habilidades dos indígenas e, principalmente, o milagre de Guaxenduba explicam a vitória portuguesa e o nascedouro da era colonial na cidade. Posteriormente, a cidade passa a servir de fornecedor de itens que eram levados via colônia para outros centros.

Mesmo sob subordinação, por influência dos povos que aqui estiveram oriundos da Europa e, principalmente, dos escravos africanos, a capital se molda sob o contraste entre os traços do velho continente e uma gente que, em sua maioria, lutava para sobreviver.

Nos séculos XVII e XVIII, São Luís passa a ganhar um padrão urbano, com o surgimento de monumentos e, principalmente, de imóveis que atualmente formam o acervo histórico da cidade.

A partir do século XVIII, em especial durante a segunda metade, a expansão topográfica gera uma área central. A consolidação de uma área do Centro – denominada de Campo do Ourique – fez surgir a Praça Deodoro.
Segundo Domingos Vieira Filho, em sua obra intitulada “Breve História de Ruas e Praças de São Luís”, a Praça Deodoro surgiu em 1797 e é considerada “um dos mais antigos logradouros ludovicenses”.

Hoje, o Complexo Deodoro é área de grande movimentação

A história do logradouro foi contada por O Estado nos dias 5 e 6 de maio de 2018. Na ocasião, abordou-se que, apesar do início da formação do espaço público – que recentemente passou por reforma realizada pelo Instituto Histórico e Artístico Nacional (Iphan), sob a supervisão da Prefeitura de São Luís, a primeira reforma oficial na Praça Deodoro – cujo nome faz menção a Deodoro da Fonseca – ocorreu em 1911.

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Segundo Vieira Filho, “na gestão do intendente Mariano Martins Lisboa”, o local – que já possuía o nome atual – foi “dividido em canteiros” e arborizado com diversas espécies vegetais.

O espaço (que já recebeu denominações como Largo do Quartel, por estar situado em frente a um quartel fixado na atual praça Pantheon, no Centro, e Praça da Independência, em referência ao fato histórico nacional), para quem vivenciou o período, era descrito no começo do século anterior como um dos “mais belos da cidade”, pela presença de árvores frondosas e bancos de ferro e madeira que, à época, davam um charme especial para o local.

Era a consolidação de uma São Luís que, apesar dos problemas, começava a ser desenhar em uma configuração mais fiel ao registrado durante o século XX.

Rua de Santana a “Tanguitá”, em foto atual; veículos, fios e muitas lojas

Rua emblemática
Uma das mais emblemáticas vias e cujos aspectos curiosos também foram abordados em O Estado nos dias 21 e 22 de julho de 2018 foi a Rua de Santana, denominada de Gonçalves Duas. Ao longo dos séculos, a via recebeu outros nomes. Um dos mais curiosos é citado pelo também marcante e referência, Domingos Vieira Filho, em sua obra-prima intitulada “Breve História das Ruas de São Luís”.

Segundo o autor, a partir de um anúncio estampado em 1840, o Sr. Antônio Francisco d’Azevedo [apontado como influente na sociedade à época] está autorizado para vender alguma propriedade de casas de sobrado bem construídas […] e fazem canto para a Rua de Santana ou Tanguitá”.

O termo “Tanguitá” para a Rua de Santana foi referendado por Carlos de Lima em sua obra “Caminhos de São Luís: ruas, logradouros e prédios históricos”. No entanto, o próprio autor cita em seus escritos que não há referência ao significado da palavra “Tanguitá”.

A partir de 1924, conforme uma Lei Municipal nº345, a Rua de Santana também passa a ser chamada de Rua José Augusto Corrêa. De acordo com o pesquisador Carlos de Lima, o homenageado foi estudante e professor do Seminário das Mercês, e ainda colaborador de O Estado.

Pode-se dizer que a Rua de Santana é referência histórica por, de acordo com o colaborador destas páginas, o pesquisador Antônio Guimarães, ter recebido um pequeno sobrado em que residia Alexandre Teófilo de Carvalho Leal, grande amigo de Gonçalves dias e cunhado de Ana Amélia (dama que encantava o poeta dos Timbiras) e berço de O Estado.

A via também recebeu o antigo jornal do Dia, que originou o atual O Estado do Maranhão. Não há uma data precisa de inauguração da via, que é referência no segmento comercial da cidade. É ainda na Rua de Santana, retratada no periódico, que está a Igreja de Nossa Senhora de Santana. Segundo o exemplar “Arquitetura e Arte Religiosa no Maranhão”, de Kátia Bogéa, Emanuela Sousa Ribeiro e Stella Regina Soares de Brito, a construção da igreja de Sant´Ana ocorreu em 1790 e se deve à iniciativa do cônego João Maria Luz Costa.

Traços e características de atos, monumentos e formação de vias que formam uma São Luís de vários personagens e locais marcantes.

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