São Luís e seu aniversário

Os que se apegam ao paraíso e amam a capital de 409 anos

A relação entre a história da praia do Bonfim e a formação da cidade é considerada única, pelo menos por versões ditas como oficiais e obras que tentam explicar a origem da capital maranhense

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h15

São Luís - No próximo dia 8, São Luís completará mais um ano de fundação. Perceber os processos que nortearam a formação urbana de uma cidade que, ao longo dos séculos, se revelou positiva em alguns aspectos, e em outros não, é perceber a evolução, por exemplo, de núcleos sociais atualmente marcantes pela coesão entre seus ocupantes.

Um destes é o bairro Vila Nova, surgido do entorno da Praia do Bonfim, na capital maranhense. A Praia do Bonfim, por sua vez, é simbolicamente um reduto de uma população que se apegou de corpo e alma à região, a área do Bonfim abriga - representada pela comunidade do Vila Nova neste caso - uma referência de grupos mais pacatos e que somente querem paz e sossego, longe dos holofotes da cidade mais agitada.

A relação entre a história da praia do Bonfim e a formação da cidade é considerada única. Pelo menos por versões ditas como oficiais e que tentam explicar a origem da capital. Uma destas obras é “História da missão dos padres capuchinhos na Ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças”, de Claude D'Abbeville. Padre de origem, o autor passou quatro meses no Maranhão e em 1614 editou a obra em francês.

Pesquisadores, ao analisarem a obra, perceberam aspectos ligados entre a orla do Bonfim e as primeiras missões. Com base nisso, é possível extrair que a região do Bonfim, onde se situa a praia do mesmo nome, é considerada a primeira visão dos que aqui estiveram para povoar a capital. Historiadores defendem a tese de que a área é antiga e ocupada pelos primeiros colonizadores em meados de 1535.

Quando os primeiros colonizadores chegaram à Ilha do Medo, também no litoral maranhense, as embarcações naufragaram no temido Canal do Boqueirão. Então, os sobreviventes deste naufrágio construíram um abrigo na região da praia, chamado de Vila de Nazaré. Por ali, São Luís começou a ser estabelecida, ainda que não com o nome original, já que foi a partir da missão francesa – versão reconhecida por historiadores e contestada por outros - o estabelecimento do nome atual da cidade.

No hiato que separou temporalmente a missão dos primeiros colonizadores da missão francesa, os ocupantes da citada primeira Vila de Nazaré teriam desaparecido. Após explorarem as rotas marítimas, estes colonizadores e moradores da vila – ao se depararem com comunidades indígenas às margens do Rio Mearim – passaram a mirar outros territórios.

Posteriormente, veio a missão francesa, que referenda até hoje as comemorações dos 409 anos de São Luís. “Quando os franceses por aqui chegaram, já após esta missão, que teria sido iniciada pelos caminhos do Bonfim, fizeram uma espécie de acordo com os tupinambás, tendo em vista que ambos tinham um inimigo em comum, que eram os portugueses”, disse a O Estado o historiador e morador da região do Itaqui-Bacanga, Flaviomiro Mendonça.

Ele, que se aprofundou no tema, concluiu acerca das relações entre a formação do povo e as consequências de movimentos em outras regiões do então descoberto Brasil. “Os tupinambás, por exemplo, eram refugiados da região de Pernambuco e aqui se estabeleceram. Eles vieram para São Luís como um abrigo. E quando os franceses chegaram, fizeram a aliança”, afirmou Mendonça.

Segundo ele, ainda referendado na obra de D'Abbeville, os tupinambás, com a aliança, construíram aldeias e algumas delas, acreditam historiadores, estiveram fixadas em bairros do entorno da área do Bonfim e que atualmente são conhecidas, como o Gapara, por exemplo. Estas versões ditas pelos autores são questionadas por outros especialistas no tema.

Ainda sobre a presença de indígenas a partir da exploração da praia conhecida atualmente como Bonfim, de acordo com Mendonça, o bairro do Vila Nova que, a partir da segunda metade do século anterior, surgiu e se estabeleceu na capital maranhense, também se originou a partir da aliança dos indígenas com os estrangeiros.

“No Vila Nova, possivelmente havia outra aldeia, já que é possível constatar na região, a partir da descoberta de artefatos antigos e que remontam a este período, a observação de armadilhas de pesca construídas com base em pedras. Eles sabiam muito bem acerca da variação de maré. Ou seja, ela enchia e depois esvaziava e, quando isso acontecia, os peixes permaneciam presos e eram coletados”, disse Mendonça.

Tal qual os pescadores de hoje do Bonfim, os índios - séculos atrás – usavam do mesmo artifício dos pescadores de hoje.
Os bairros de fronteira do Bonfim formados por gente simples e honesta…

Localizada a alguns quilômetros da parte central da cidade, a Praia do Bonfim registra, nas proximidades, comunidades nascidas a partir dos movimentos sociais. Ao percorrer os caminhos que levam ao oásis urbano, são vistos imóveis cujos ocupantes, por vezes, são identificados apenas como indivíduos à margem da sociedade.

Por ruas asfaltadas, O Estado no trajeto de pouco mais de 20 minutos, feito a partir da Avenida dos Portugueses, passando pela Barragem do Bacanga (canal mostrado em reportagem especial anterior do periódico), percebeu a consolidação de bairros, cujos núcleos comerciais inseridos demonstram, de certa forma, uma relativa autonomia financeira conquistada.

Conversando com moradores que fixaram residência nos bairros do Vila Nova e Anjo da Guarda, que estão no caminho até a Praia do Bonfim, constatam-se alguns problemas, em especial em serviços básicos, como saúde pública por exemplo.
Apenas um Centro de Saúde no bairro Vila Nova, por exemplo, pertencente à gestão municipal, é registrada. Além disso, está localizado no entorno da praia o Hospital Aquiles Lisboa, sob gestão da administração pública estadual.

Para a exploração do paraíso natural, alguns bares estão instalados, bem como pequenas pousadas e casas de temporada. No entanto, considerando o potencial do lugar, por enquanto a estrutura de recebimento de visitantes de outras cidades e estados e até mesmo de pessoas que aqui residem e que desejam um passeio diferente e urbano ainda não é considerada ideal.

Os responsáveis pelos poucos bares instalados na praia dizem que a demanda é considerada suficiente para atender às necessidades. Pessoas que buscam a praia para um passeio mais barato entendem que se trata de uma boa dica. “Estou de folga e decidi trazer a minha família para um dia de tranquilidade, aproveitando um verdadeiro paraíso como este”, afirmou Paulo José, de 52 anos, empreiteiro.

O locutor que leva as notícias na memória e quintal no Bonfim…
Com mais de três décadas de vivência no Vila Nova, na capital, o radialista Roberto Nílton tem na cabeça cada história, cujo contexto são as ruas e avenidas do bairro, intrinsecamente ligado com a Praia do Bonfim. Além de vários banhos na praia e momentos prazerosos com sua família, Roberto é – como um radialista que se preze, um fomentador na prestação de serviços na cidade - um apreciador do paraíso.

O que chama a atenção no personagem é o fato de ele, na prática, jamais ter visto o lugar prazeroso. Explica-se: ele é cego e perdeu a capacidade visual aos 9 anos de idade, bem antes de se mudar para o Vila Nova, cuja praia fica no “quintal de casa”.

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Mesmo assim, o amor pelo lugar não se perdeu ao longo dos anos. “Eu amo esse lugar e se você me perguntasse se tenho vontade de me mudar, diria a você que não, de forma alguma. Esse bairro e essa praia fazem parte da minha vida e quero ficar aqui para sempre”, disse.

O professor e jornalista Ed Wilson Araújo, colaborador assíduo de O Estado, destaca a importância dos movimentos sociais na formação dos bairros e consolidação da cidade de São Luís.

“É de se destacar que, desde a formação histórica, passando por períodos mais recentes de constantes movimentos sociais, cujas necessidades levaram à junção social e, em consequência, à formação de bairros como o Vila Nova, São Luís é uma cidade que apresenta uma configuração forte e coesa em vários aspectos, com comunidades populares e cujas necessidades, em parte, são sanadas com organização interna”, disse.

A Praia do Bonfim e a obra de revitalização

No início deste segundo semestre, o governo maranhense intensificou os trabalhos para a revitalização da orla do Bonfim, na capital. De acordo com informações do governo maranhense, com a intervenção, a Praia do Bonfim - que registra “conforme dados do próprio governo, uma vista privilegiada da capital”, será transformada - conforme aponta o poder público - em novo “ponto turístico da capital”.

Ainda de acordo com informações do governo, o projeto contempla um calçadão, além de quiosques, área de caminhada, um píer (em fase avançada de montagem) de aproximadamente 175 metros quadrados, praça urbanizada com playground, além de sistema de iluminação em LED, equipamentos de ginástica, quadra poliesportiva e palco para eventos.

Segundo o governo, os investimentos iniciais nos serviços estão orçados em R$ 6.941.713, 91.

Serviços de revitalização da Praia do Bonfim

Calçadão

Quiosques

Área de caminhada

Píer (em fase avançada de montagem) de aproximadamente 175 metros quadrados

Praça urbanizada com playground

Sistema de iluminação em LED

Equipamentos de ginástica

Quadra poliesportiva

Palco

Fonte: Governo do Maranhão

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