Artigo

Governo desonesto

Lino Raposo Moreira *

Atualizada em 11/10/2022 às 12h15

Durante o longo mandarinato petista, quando o PT parecia, apenas parecia, eterno, como os diamantes ilusórios de vidro, as notícias sobre apropriação de recursos públicos por variados dirigentes petistas faziam parte do cotidiano dos brasileiros. Foram escassos os dias em que não se ouvissem nas rádios, televisões, blogues, sítios de internet e em todos os lugares informações sobre a direção tomada pelo dinheiro do contribuinte, então recolhido às burras federais ou estaduais, seguindo, carregado por hábeis e ligeiras mãos, desses lugares de repouso momentâneo, depois de subtraído de nossos bolsos, para os bolsos de agentes públicos e privados.

No início daquele período de rapinagem, os assaltos aos cofres do governo eram feitos numa escala artesanal, caseira, amadora e, portanto, pequena e com pouca tecnologia. Havia um arremedo de comando centralizado, tendo como chefe de operações José Dirceu, na movimentação das engrenagens próprias às características daquela indústria em crescimento acelerado – confirmando as previsões de que o Brasil seria, inevitavelmente uma potência do ramo.

Quando o poder eterno do Partido dos Trabalhadores se desmanchou no ar, veio presidência Temer. Em pouco tempo, ele evitou o afundamento completo do Brasil no buraco em que o Partido dos Trabalhadores o metera. Eis a razão de ter se tornado uma espécie de inimigo público número 1. O governo seguinte, de Jair Bolsonaro, inaugurou a fase das trevas do Brasil.

O furto artesanal de um agrupo petista com estratégia e comando únicos, transformou-se num aglomerado de facções dotadas de estratégias e táticas próprias de milícias, com principal base de operação no Ministério da Saúde, mas com ramificações em outros ministérios e órgãos da administração pública. A militarização da Saúde foi completa, a tal ponto de os chefes das facções serem, não por coincidência, militares das Forças Armadas do Brasil, no caso tenentes-coronéis. O bater de cabeças, ou de alamares, foi inevitável.

Em certo momento ficou até difícil seguir os detalhes. Quem comandava quem, quem recebia a maior parte da propina, quem pediu a quem para colocar um dólar sobre o preço de quatrocentos milhões de doses da vacina Coronavac, com o fim de gerar recursos com o fim de bancar, no valor de mais de um bilhão de reais, propinas a agentes públicos encarregados de efetuar a compra de imunizantes de combate à pandemia de covid-19. Então, alguém resolveu perguntar se as vacinas existiam de verdade, conforme assegurou um cabo da PM de Minas Gerais, fantasiado de representante do fabricante do produto. Não existiam. Isso tudo parece assalto mal sucedido das antigas chanchadas de filmes brasileiros. Mas como no campo penal, a simples promessa de vantagens indevidas é crime, os coronéis da saúde se complicaram.

Esse governo de fancaria, incompetente mesmo quando rouba, alardeava honestidade de ficção. Adepto do “faz o que eu digo, não faz o que eu faço”, surrupiava sua parte do butim e recomendava probidade aos outros. Bolsonaro comanda uma quadrilha, essa sim, dedicada à verdadeira profissão mais antiga do mundo: a roubalheira com registro pelo notário.

Por cima de tudo isso, os malfeitos do Zero Zero são multiplicados pela mesma avidez dos filhos Zero Um, Zero Dois, Zero Três e Zero Quatro. Esses quatro sabem multiplicar a riqueza da própria família e a pobreza dos brasileiros.

* PhD, Economista. Da Academia Maranhense de Letras

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