São Luís - O tradicional encontro de grupos de bumba meu boi do sotaque de matraca, que acontecia há quase 100 anos, no dia 30 de junho, no bairro do João Paulo, em homenagem ao santo São Marçal, não vai ser realizado pelo segundo ano consecutivo, por causa da pandemia da Covid-19.
No último dia do mês de junho, a Avenida São Marçal, no João Paulo, era tomada por grupos de bumba boi, ao som cadenciado das matracas e pandeirões, a presença dos brincantes e carros de som, chamando para o cortejo. Essa movimentação começava durante a madrugada e somente terminava no período da noite. Mas, com a pandemia, deixou de acontecer para evitar aglomerações.
Francinete Silva, de 42 anos, que tem um bar nas proximidades do local onde ocorre o festejo, disse que devido ao cancelamento, perdeu um lucro superior a R$ 6 mil. “Não tem festejo, então não tem vendas e nem clientes. Entre os dias 29 e 30, eu chegava a faturar quase R$ 6 mil”, contou a proprietária do bar.
Estênio Filho, de 55 anos, lembrou que em época junina chegava a vender mais de 80 churrascos por noite, mas, com a suspensão da festa, teve grande prejuízo. “A praça de São Marçal ficou vazia durante todo o mês de junho e os proprietários dos bares tendo prejuízos”, frisou o comerciante.
Marcos Antônio Silva, de 54 anos, lamentou não haver o encontro de bumba meu boi, no Dia de São Marçal, mas informou que os comerciantes chamaram uma quadrilha junina para se apresentar durante a noite, seguindo as normas sanitárias para evitar a proliferação do novo coronavírus. “Vai ter a apresentação de uma quadrilha, mas vamos evitar a aglomeração de pessoas”, frisou o comerciante.
Mudança
A falta do tradicional encontro de bumba meu boi também modificou o Dia de São Marçal para vários moradores do João Paulo. José Ferreira Correa, de 77 anos, disse que a ausência dessa festa deixa o bairro triste. “Sou acostumando acordar no dia 30 de junho, todos os anos, com o som das matracas e a presença dos grupos de bumba meu boi. O bairro fica movimentado e observamos a alegria no rosto das pessoas”, declarou o morador.
A moradora Maria de Jesus dos Santos, de 82 anos, preparava todos os anos, no dia 30 de junho, feijoada e mocotó para distribuir para os amigos e os brincantes de bumba boi “Sei que os meus amigos estão aqui na festa de São Marçal todos os anos, então aproveito para receber com uma comida forte, para aguentarem o dia todo da festa”, disse a moradora.
A funcionária pública, Antônia Régia Gonçalves, de 45 anos, contou que todos os anos enfeitava sua residência com bandeirinhas, barraquinha de palha e balões para receber os familiares e os amigos, mas há dois anos não teve mais clima junino. “A minha casa serve como ponto de concentração para o povo ir ao encontro de bumba meu boi, mas como foi suspensa, resolvi não enfeitar a casa”, declarou Antônia Régia Gonçalves.
Carreata
No dia 30 de junho do ano passado houve uma carreata realizada pelo Boi da Maioba, que percorreu João Paulo e Filipinho, entre outros bairros da capital para homenagear São Marçal e também em substituição à tradicional Festa de São Marçal. A concentração dos participantes aconteceu na Praça Maria Aragão, na região central da cidade.
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Festejo tradicional
O Encontro de Batalhões, festejo de São Marçal, é uma marca da cultura popular maranhense, ou seja, uma espécie de encerramento do período junino no Maranhão. Tradicionalmente realizada no bairro do João Paulo. A multidão ganha as ruas do bairro sempre no começo da madrugada do dia 30 de junho.
A força do festejo é tão forte que fez com que a Avenida João Pessoa, principal via do João Paulo, mudasse de nome, passando a ser denominada Avenida São Marçal. No ano de 2006, a Prefeitura de São Luís, depois de ter sancionado a lei que alterou o nome, atribuiu à Festa de São Marçal, por meio da lei Nº 4.626/06, o título de bem cultural e imaterial, transformando a data no Dia Municipal do Brincante de Bumba Meu Boi. Posteriormente, foi construída uma estátua de São Marçal na região, com 5 metros de altura.
SAIBA MAIS
Encontro
O festejo de São Marçal, 30 de junho, é um dos eventos religiosos e culturais que marcam o encerramento das festividades juninas na capital. Nesse dia, os batalhões de bumba meu boi se encontram no bairro João Paulo.
Esse evento teria surgido a partir da proibição aos grupos de bumba meu boi de seguirem para a área do centro da cidade, sob pretexto de manutenção da segurança, ordem e tranquilidade, em razão da discriminação contra a cultura popular. Como a polícia não permitia que os brincantes passassem do Areal do João Paulo, o local se tornou ponto de encontro dos grupos e foi se consolidando a cada ano e se expandindo.
Também há outra versão que o primeiro encontro de bois no João Paulo ocorreu em 29 de junho de 1928, quando os batalhões do Sítio do Apicum, o Boi do Lugar dos Índios, do povoado de São José dos Índios, em São José de Ribamar, (e talvez o Boi da Maioba) se reuniram sob o pedido de José Pacífico de Moraes, comerciante, apreciador da cultura popular, que resolveu reproduzir, em seu bairro, um encontro que já ocorria desde o ano de 1924, todo dia 29, em honra a São Pedro, na então Vila do Anil.
Com o passar dos anos, a brincadeira foi se multiplicando e sua aceitação nos bairros urbanos foi aumentando. O encontro ocorreu todos os anos até 1949, quando se transferiu para o Monte Castelo, ficando lá somente um ano. Depois, foi para o Bairro de Fátima, e passou por outros bairros até retornar ao João Paulo, em 1959. Somente na década 1980, a festa ganhou a forma que tem atualmente.
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