São Luís - Vinte e duas mulheres, de escolas de capoeira variadas, integram o coletivo Angoleiras de Upaon-Açu que no começo pensavam em se unir para concretizar o sonho de gravar um disco. Com o tempo, este propósito se expandiu e se transformou em um grupo de reflexões, treinos, criações coletivas e, sobretudo, apoios mútuos. Mas isto não significa que o sonho do registro audiovisual desapareceu. Pelo contrário. Recentemente, elas encerraram uma campanha de financiamento coletivo com a finalidade de angariar recursos para gravar o disco.
Segundo Amanda Gedeon, uma das integrantes do Angoleiras, “será o primeiro registro feito no Maranhão, quem sabe no mundo, de um disco protagonizado somente por mulheres, ou seja, cantado e tocado somente por elas. Nossa campanha já encerrou, mas as doações continuam pra quem se sentir à vontade pra contribuir conosco por meio da Agência 2972-6, Conta Poupança 31380-7, Variação 51”, frisa ela.
Segundo o grupo, a proposta do álbum é deixar registrado o momento de inserção e protagonismo da mulher na capoeira. A previsão de lançamento do trabalho é para o fim de novembro e o repertório inclui músicas autorais, de domínio público e releituras. “A música na capoeira, como em qualquer lugar, faz a reconexão energética, conecta os participantes da atividade como um todo pra entrar numa vibração energética e para além disso, a música é uma cartilha de ensino. Ela é usada para contar histórias, para denunciar, para louvar, para retratar um momento. Ela te diz ou te leva a fazer, te orienta na tua vibração e te ajuda a desenvolver o jogo. Além do que, te ensina o tempo todo sobre comportamento, pensamento e atitude. A música é uma das coisas mais importantes da arte da capoeiragem, é algo determinante”, explica a capoeirista.
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Valorização
Num universo predominantemente masculino, a inserção e valorização da mulher é considerado por elas como um desafio, uma conquista diária. Apesar da quantidade de mulheres na capoeira, apontam as integrantes do grupo, pode ser entendido como uma conquista que veio acontecendo ao longo do tempo. “Isso de poder participar ou interagir, ocupar espaços de poder, chegar a conquistar títulos, mestras, contramestras, etc, ainda é um desafio, tendo em vista que a maioria é masculina e missogina. Assim como na sociedade, essa luta é diária na capoeira também. Ainda convivemos com violências frequentes e a capoeira é um espaço de negociação política, social”, diz Amanda Gedeon
Papel social
Levando estes fatores em consideração, para além de poder praticar capoeira, enquanto lazer, prazer, defesa pessoal, atividade física, manifestação cultural, a mulher na capoeira sempre tem esse papel político, acaba tendo que ter esse papel político, porque é um espaço que precisa ser conquistado todos os dias. Esses desafios dizem respeito à invisibilidade e necessidade de desenvolvimento pleno da mulher na capoeiragem, saindo dessas funções de secretaria, manutenção do espaço, organização e tendo oportunidades de cantar, tocar, jogar, protagonizar uma roda. Poder chegar e integrar uma bateria, pegar um berimbau, puxar um canto, conduzir a roda, isso é um desafio, mas estamos aqui pra mudar isso e percebemos essas conquistas quando vimos que isso já mudou bastante. Mas ainda é um longo caminho”.
Assim como outros segmentos da cultura, a popular foi bastante afetada pela pandemia do novo coronavírus. “É interessante pensar na pandemia dentro da cultura popular como um todo, porque essa cultura, com suas características de circularidade, coletividade, etc, é impossível de acontecer por uma rede wi-fi, então muito dessa construção ficou estagnada. Porém, pensando pelo lado positivo, houve uma integração muito maior, mesmo que virtual, da capoeira de vários estados. Houve rodas de conversa, debates, interação com outros grupos de mulheres capoeiras e fomos nos adaptando como deu”, conta Amanda Gedeon l
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