Entrevista

"A poesia é a parte exuberante da vida"

César Borralho, premiado no Concurso Nacional Novos Poetas, prepara lançamento de livro

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19
César Borralho participou do Concurso Nacional Novos Poetas Poesia Livre (CÉSAR BORRALHO)

SÃO LUÍS- Nascido em Codó (MA), o poeta maranhense César Borralho foi premiado no Concurso Nacional Novos Poetas - Poesia Livre 2020. Os poemas classificados vão integrar uma antologia-livro. Professor de filosofia, mestre em Cultura e Sociedade, Borralho, mesmo que nunca tenha ambicionado publicar um livro, prepara sua obra. Nesta entrevista, ele fala sobre poesia, cotidiano e sobre as premiações.

Primeiro gostaria que você falasse um pouco da sua relação com a poesia. Como foi que começou a escrever?

Aos 17 anos rabisquei os primeiros versos. Aos 18 comecei a mostrá-los ainda timidamente aos amigos que também escreviam. Eram versos cheios de vida, mal-acabados, com a pressa da juventude, a imperícia vocabular, a vontade de dizer sem saber dizer, sem conseguir dizer o pouco que tinha a ser dito. Agora, acredito que escrevo melhor desenvoltura.

O que te inspira?

A inspiração é uma sensação difícil de descrever, é uma disposição da alma, uma dança que quando nos damos conta, já estamos no meio e sem saber como fomos parar ali. Mas a música que toca é espontânea e diversa. O vento que revira a folha, a rolha que saca da garrafa, os olhos de uma namorada da TV, um quarto vazio, livros antigos, sorrisos que a vida guardou em mim, a samambaia pendurada no xaxim, a boemia, a mesa posta sem ninguém, os fantasmas da madrugada, cacos de filmes que se quebram quando a gente os assiste, a luz da vela que se apaga, o mar solitário e triste a afogar a nossa pequenez. Tantas coisas me inspiram. Tantas.

Recentemente você ficou em primeiro lugar em uma premiação de poetas, gostaria que você me falasse um pouco sobre suas premiações?

Trata-se do Concurso Nacional Novos Poetas Poesia Livre 2020. Os poemas classificados resultam na publicação de uma antologia-livro. Tem sido um dos mais destacados concursos literários da língua portuguesa, destacam os organizadores. É promovido pela Vivara Editora Nacional e apoiado pela Revista Universidade. Havia me classificado em 8º lugar na edição anterior e na edição seguinte participei novamente alcançando o 1º lugar. É a 2ª vez que alcanço o maior prêmio nacional, a outra vez foi em 2008 no Festival de Poesia da APPERJ - Associação dos Poetas Profissionais do Rio de Janeiro. O primeiro festival de poesia que participei foi no ano 2000, no Festival de Poesia da Escola Técnica Federal do Maranhão – CEFET e conquistei o 3º Lugar. Em 2001, recebi o Prêmio José Chagas (1º Lugar) no 15º Festival Maranhense de Poesia Falada – UFMA. Em 2013, novamente fiquei em 1º lugar no II Festival de Poesia Papoético, aqui em São Luís. Obtive outras colocações locais e neste ano de 2020 tenho participado de festivais nacionais que já me renderam publicações em 4 coletâneas.

Como você vê a importância desses prêmios para projetar novos autores?

Concursos de poesia sempre revelam novos talentos, como luzes que se acendem para o que não se perdeu na escuridão completamente. Ganha quem escreve, quem publica e quem lê. (Ganha quem ganha e quem perde também ganha).

Em relação à publicação, soube que você prepara um livro, fale um pouco sobre isso?

Nunca havia ambicionado publicar um livro antes. Pouco mais de duas décadas se passaram as coisas mudaram. Surgiu uma necessidade de organizar, publicar. É hora de “deixar ir” alguns versos guardados, escritos empoeirados. É hora de arrumar num só caderno os móveis das casas que habitei. É hora de arrancar as portas e “alugar” aos leitores que queiram descansar os olhos sobre papel e tinta.

Esse ano é muito atípico, a pandemia, o isolamento social, você conseguiu criar nesse período?

Ano fatídico, trágico e reflexivo. Pouco escrevi. Isolado, fui mexer no velho baú que a gente sempre deixa para depois. O depois foi se desmanchando diante dos meus olhos e eu me apressei em ser mais um editor do que já havia feito do que um produtor de poesia. Contudo, no meu cenário interno sempre há expediente para escrever. Estou sempre a aprender a cada dia. Pensei sobre a respiração e no que ela tem inspirado a morte invisível que nos ronda a todos e tratei de continuar a escrever antes que ela me pegue pelo braço, antes de terminar aquele poema, aquele!

Como os contextos sociais te inspiram e, de alguma forma, interferem na sua obra?

Sou um péssimo “cronista” em poesia. Os fatos sociais me escapam na escrita pelo impacto que me causam e apenas anos depois consigo dizer algo sobre isto.

Defina o que é poesia para você.

A poesia é a parte exuberante da vida, tão vivaz que quase sempre parece não fazer parte dela e sim encontrar-se com ela. É arte de atmosfera solitária. Poesia é o vento que leva o barco quando barco não há. O poeta é o homem que não concreta a leveza do que ela não precisa, cai em sua asa, voa, desliza com as coisas. De tudo o que escrevi, reservei a poesia para dar à tristeza como prova de alegria.

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