Artigo

O encontro do novo com o velho normal

José Ewerton Neto, Autor de O entrevistador de lendas

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19

O encontro do Novo com o Velho Normal não se deu em uma live como queria o Novo Normal. Aconteceu em seu próprio escritório. Velho Normal chegou sem se anunciar. De repente, estava no meio do recinto. Novo Normal agiu como se o esperasse.

- Desembuche Velho Normal, o que quer de mim?

- Você estava me esperando?

- Sim, mais dia menos dia era normal que você viesse.

- Normal? Nesse caso seria o Normal novo, ou o Velho?

- Poupe seu sarcasmo, Velho Normal. Vamos lá, diga logo a que veio, embora você deva saber melhor do que ninguém que você já foi e não sabe. Se veio para tirar satisfações porque estão anunciando que irei substituí-lo saiba que não tenho culpa nisso. A culpa foi da Pandemia.

- A Pandemia, sempre ela!... Virou desculpa para tudo, hoje em dia. Se matam mulheres, a culpa é da Pandemia. Se matam morcegos, foi a Pandemia. Se se tornam doidos varridos, a Pandemia está por trás. Se a corrupção impera é a Pandemia, se abandonam os idosos é a Pandemia. Não é de espantar que queiram acabar com a única coisa que sempre foi normal no mundo, EU.

- Sei aonde quer chegar. Que minha existência é um blefe. Que também só apareci por causa da Pandemia.

- Claro e evidente. Você melhor do que ninguém sabe que nada de novo existe em você que o distinga de mim. O ser humano é o mesmo há milhões de anos. Que há de novo em médicos mandaram as pessoas para casa? Que há de novo em se usar máscaras? Se todos os humanos sempre usaram máscaras porque todos são atores disfarçados de si mesmos, estejam com panos cobrindo suas focinheiras ou não... Que há de novo no exibicionismo das lives, que é só uma disputa para que cada um se sinta bem, aparecendo mais que o outro? Que há de novo na mentira da mudança do comportamento humano? Que há de novo no medo da morte, sempre o mesmo, a comandar as ações humanas? Que há de novo em cientistas promovendo o pânico por não oferecerem alternativas? Nunca houve nada de novo sob o sol entre os humanos, você é consciente disso.

- Sim, sei disso perfeitamente. Duvido até que eu seja novo. Na realidade, me chamam de Novo, mas talvez seja mais velho até que você porque sou da idade da hipocrisia humana. Acontece que os homens precisam disso: de substituírem o nada pelo nada, a sobrevivência pela sobrevivência, a morte de sempre por outra morte, mas eu tenho que me prestar a isso, preciso cumprir o meu papel. Fazer o quê?

- Vejo que não perdi meu tempo vindo até aqui. Ouvir de você essa confissão já é alguma coisa. É preciso, então que você comunique ao mundo a farsa que você é. É preciso lhes dizer que tudo continuará igual e eles continuarão se matando e se esgoelando por causa de bobagens para todo o sempre.

- E o que você ganharia com isso, Velho Normal? Os homens jamais gostaram de verdades. Eles acreditam em mentiras, não porque não saibam que são mentiras, mas porque precisam delas. Os homens não carecem de verdades, mas de ilusões e eu serei a ilusão da vez. Acredite: o melhor para você é jogar o jogo deles, se aposente, se recolha, ou pegue um Covid e morra. Eles só querem acreditar que sairão novos depois disso. Deixemos que acreditem.

E-mail: ewerton.neto@hotmail.com

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.