Editorial

São Luís retratada no grafite

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22

São Luís poderia muito bem seguir o exemplo de São Paulo e transformar alguns locais com uma explosão de cores de grafite. Com a pretensão de bater o recorde do Guinness de maior mural do mundo, está surgindo na capital paulista a obra “Aquário Urbano”, que terá no total mais de 10 mil metros quadrados de pintura, do artista plástico Felipe Yung, o Flip. A obra fica pronta em 2020.

Em condições mais modestas, o Poder Público estadual ou municipal deveria seguir esse exemplo e estimular talentosos artistas maranhenses - que fazem um belíssimo trabalho no bairro Vila Embratel - e transformar locais de São Luís em cartão postal. Como sugestão, grafitar a caixa d’água do retorno do Calhau - que já serviu para propagandas do governo - com motivos da cultura popular maranhense. É provável que a aceitação do público será positiva, em se tratando de uma atração turística da cidade e como cenário para fotos que turistas levarão como lembrança da capital maranhense.

Há dois anos, a riqueza cultural e literária maranhense serviu de inspiração para o artista Eduardo Kobra, reconhecido em todo o mundo pela sua arte, que esteve em São Luís trabalhando em um painel no bairro Ponta D’Areia, em homenagem aos 405 anos da cidade, comemorados em 8 de setembro. Com 400 metros quadrados, o painel faz referência a algumas obras dos escritores Gonçalves Dias e Ferreira Gullar, além de ressaltar pelas cores, azulejos e figuras do folclore.

Atualmente, a aceitação do grafite em São Luís já é bem melhor e vista como um tipo de arte com cunho social. Antes, a visibilidade não era tão positiva, a ponto de ser utilizado como uma expressão para conscientizar e formar opiniões. Recentemente, o trabalho do artista Gil Leros, retratando uma coreira na escadaria da rua Graça Aranha, no Centro Histórico de São Luís, se transformou em atração turística da cidade. A receptividade ao talento de Leros foi manifestada pelo público que diariamente e, principalmente, nos fins de semana, fazia filas para selfie da escadaria. Ponto para o grafite.

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Mas não basta apenas criar, é preciso cuidar, zelar, conservar a arte pública. Os totens do artista plástico Jesus Santos, ao longo da Avenida Litorânea, retratam muito bem esse descaso. Consumidas pelo salitre, a arte de Jesus se apaga com o tempo, sem a beleza de antes e sendo resumida apenas às vigas de ferro. Essa mesma situação vale para a serpente da Lagoa da Jansen, que sem manutenção deixou de ser uma atração para o local. Encalhada na lama, hoje a serpente já não desperta a atenção de quem passa pelo local.

A obra, também de Jesus Santos, foi construída em 2000. Tem sete toneladas de fibra de vidro e 64 metros de comprimento. Segundo o artista plástico, a peça foi criada para ser um monumento de interesse público, uma manifestação cultural de todos que vivem em São Luís. Lembrando a famosa lenda da serpente que destruiria a Ilha. Totalmente abandonada, a obra remete à falta de compromisso do poder público, que pela é responsável pela sua manutenção.

Manifestação artística que se evidencia em espaços públicos trazendo mais cor e vida a grandes cidades, a arte do grafite surgiu na década de 70 e se espalhou rapidamente pelo mundo e hoje continua atraindo pessoas em busca de novas inspirações. Como uma forma de incentivo e de reconhecimento à arte urbana do grafite, em diversas cidades no mundo artistas são pagos para deixarem suas ilustrações e muito procurados por lojas e por restaurantes que querem dar um toque diferenciado ao ambiente.

Aproveitando essa onda, o Poder Público poderia valorizar essa arte nos espaços públicos de São Luís, estimulando e valorizando os artistas locais. Não custa lembrar que os grafites trazem cor à cidade, podendo ilustrar nossa cultura. Por sua vez, os turistas têm a oportunidade de conhecer um pouco mais da nossa história nesse estilo de arte urbana, de uma maneira diferente, expressiva e cultural.

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