BALNEABILIDADE

Praias da Ilha estão 100% impróprias há mais de um mês

Laudos emitidos pela Sema, entre os dias 27 de dezembro e o dia 7 de fevereiro, demonstram que todas as praias de São Luís e São José de Ribamar estão fora dos parâmetros de balneabilidade

MONALISA BENAVENUTO / O ESTADO

Atualizada em 11/10/2022 às 12h26
Praias estão impróprias, mas mesmo assim ainda há banhistas que ignoram as placas e se arriscam no mar; número de turistas está reduzido (Balneabilidade)

Há mais de um mês, to­das as praias de São Luís e Região Metropolitana encontram-se impróprias para o banho, conforme os laudos de balneabilidade, divulgados semanalmente, pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais (Sema). Situação é preocupante para quem trabalha nas praias, devido ao afugentamento de visitantes da orla. Especialista alerta sobre os perigos que os banhistas correm ao adentrarem ao mar contaminado.

Desde o laudo emitido pela Sema em 27 de dezembro do ano passado ao último, divulgado nesta quinta-feira (7), somam-se 43 dias de impropriedade em todas as praias de São Luís e São José de Ribamar. A última vez em que a balneabilidade apontou condições positivas ocorreu no dia 20 de dezembro de 2018, quando apenas um ponto – dentre os 21 analisados –, localizado na Praia do Araçagi, na orla ribamarense, estava próprio para banho.

Risco a saúde
Apesar de a movimentação das praias se mostrar intensa, principalmente durante os fins de semana, a situação tem afastado banhistas e visitantes, como a ar­quiteta Priscilla Silva, que se baseia nos laudos para buscar a praia adequada. Segundo ela, o monitoramento realizado pela Sema é a única garantia para que possa aproveitar as praias da cidade sem que ponha em risco sua saúde e de sua família.

“É um costume de família ir à praia aos domingos, mas há bastante tempo temos evitado por causa das condições de balneabilidade, porque não tem graça ir e não tomar banho de mar, ainda mais para as crianças. Antes de sairmos, sempre olhamos os resultados das análises de balneabilidade, mas ultimamente todas as praias estão impróprias, infelizmente”, lamentou.

Para quem trabalha na orla e depende da movimentação para faturar o sustento de casa, têm sido possível perceber a redução no número de banhistas e visitantes que, somada ao período chuvoso, resulta em prejuízos aos trabalhadores do setor. “Eu vendo doces nas praias da Avenida Litorânea, mas as vendas têm sido baixas nos últimos dias. Sempre tento conversar com os clientes e muitos deles reclamam deste problema e da sujeira, principalmente os turistas”, destacou Bruno Freitas.

De acordo com o consultor ambiental Márcio Vaz, as condições de balneabilidade das praias da cidade estão relacionadas às baixas taxas de saneamento básico da cidade, e durante o período chuvoso o problema torna-se ainda mais intenso. “São Luís possui uma porcentagem muito grande de urbanização informal, que não tem saneamento básico e acaba lançando seus esgotos nos rios que, com as chuvas, aumentam a vazão e são lançados nas praias”, explicou.

As condições de balneabilidade das praias dependem, principalmente, da saúde dos rios que deságuam na orla de São Luís e, quando poluídos, prejudicam as praias como um efeito dominó, conforme esclareceu o consultor ambiental. “Em uma cidade que ainda tem uma baixa taxa de saneamento básico, eles são os principais condutores de poluição. Quando chegam ao mar, há uma dispersão dessa poluição do rio”, explicou Márcio Vaz.

Além disso, segundo o especialista, as chuvas lavam a cidade e levam consigo todo tipo de poluição descartada de forma inadequada em calçadas, ruas, terrenos baldios e córregos. Todo esse material acaba chegando às praias, afetando, de forma menos intensa, as condições de balneabilidade. “Mesmo que os esgotos estejam indo para estações de tratamento, sempre existem fontes de poluição levadas pela chuva, mas claro que, se você tem 100% de tratamento de esgoto, mesmo tendo um cenário de contaminação na época chuvosa, não será um cenário com uma frequência tão grande como em uma cidade que não possui esta taxa de saneamento”, ressaltou.

O Estado manteve contato com o Governo do Estado que, por meio de nota, informou que a Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (Caema) desenvolve ações para aumentar, de 4% para 70%, o índice de esgoto tratado em São Luís. Para tanto, está instalando 355 km de rede coletora de esgoto e interceptores, construindo novas Estações Elevatórias de Esgoto e duas novas ETEs (Vinhais, já entregue, e Anil, em construção), que se somam às duas já existentes para tratamento de esgoto na capital. As iniciativas implicam na melhoria da balneabilidade da orla.

Por sua vez, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Naturais (Sema) informou que atua na fiscalização dos empreendimentos ao redor da orla, no que se refere ao lançamento de esgoto irregular e, quando constatadas irregularidades, adota to­das as medidas cabíveis e pune os responsáveis. Além disso, realiza o Projeto Atitude Consciente nas Praias, com ações de educação ambiental, conscientizando os am­bulantes, donos de bares e população, quanto à manutenção da balneabilidade das praias.

Balneabilidade
A classificação da balneabilidade é a indicação da qualidade das águas destinadas à recreação de contato direto e prolongado, como natação, mergulho e lazer. É realizada por meio da coleta de amostras de águas e análise laboratorial para a avaliação de indicadores coliformes termotolerantes.

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OPINIÃO

Márcio Vaz - Consultor Ambiental

“A balneabilidade é um indicador de contaminação da água por esgotos domésticos. Ela não é um indicador de ecologia comprometida ou impacto ambiental para peixes e moluscos. É um indicador de risco à saúde humana, isto é importante deixar claro. Então, a questão de uma contaminação indicada pelas bactérias que são monitoradas na água diz que esse recurso tem um potencial de risco para pessoas que entrarem em contato com essa água. Pessoas de grupos de risco, como crianças e idosos, apresentam maior probabilidade de contaminação, visto que, tendo um organismo mais exposto e frágil, podem contrair doenças ao entrar em contato com este ambiente. Em síntese, a balneabilidade seria melhorada se nós eliminássemos pontos de lançamentos irregulares de esgoto na rede de drenagem de chuva, na rede pluvial, se fosse captada uma porcentagem bem mais significativa de esgoto e tratado, e se São Luís não tivesse essa característica de urbanização informal, que geralmente não tem saneamento básico nem serviços de coleta de lixo. As casas geralmente têm fossas e lançam seus dejetos diretamente nos corpos d’água.”

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