Juntos de novo

Separados ao nascer, gêmeos se encontram após 24 anos

Victor Oliveira e Gabriel Freitas se viram em outra pessoa ao assistirem a um vídeo na internet; depois do reencontro, os dois não se desgrudam mais

Adriano Soares / O Estado Online

Atualizada em 11/10/2022 às 12h32
Victor (a direita) e Gabriel (a esquerda) são só alegria após o reencontro. (Gêmeos)

SÃO LUÍS - A história que vamos contar hoje mais parece coisa de novela. Os gêmeos Victor Oliveira e Gabriel Freitas, de 24 anos, foram separados quando nasceram, ainda na maternidade, e se encontraram após mais de duas décadas, de uma forma inusitada.

O ano era 1993, o local da separação, a Santa Casa de Misericórdia, no Centro de São Luís. Em uma gravidez não planejada, a mãe biológica dos gêmeos, até o momento do parto, não sabia que na verdade estava grávida de dois bebês. Ela pensava que estava esperando apenas uma criança. Inclusive, já tinha combinado de entregar o filho a outra família por não ter condições de criá-lo.

Assim, Gabriel Freitas, que hoje é músico, foi entregue a um casal e, logo depois, foi levado para São Paulo. “Eu vim descobrir que era adotado e tinha um irmão gêmeo aos 19 anos, depois do falecimento do meu pai adotivo. Foi quando minha mãe chegou pra mim e contou toda a verdade. Desde então, eu procurava pelo Victor”, contou Gabriel Freitas.

Diante da situação, uma das técnicas em enfermagem que estavam na hora do parto, decidiu ficar com o outro bebê, no caso o Victor, que hoje é universitário. Ele foi criado com todo o amor pela profissional da saúde, mas só soube que era adotado e que tinha um irmão gêmeo idêntico no ano passado. “Graças a Deus eu tive uma criação com muito amor e isso me ajudou bastante na hora que soube da notícia”, ressalta Victor.

O gêmeo que foi morar em outro estado conta que, com a ajuda dos amigos, procurou por muito tempo o irmão nas redes sociais. “Eu sempre encontrava muitas pessoas bem parecidas comigo. Mas a gente sente quando é e quando não é aquela pessoa que estamos procurando”, afirma Gabriel.

Determinado a encontrar o irmão gêmeo, Gabriel não desistiu da busca. “Eu disse pra mim mesmo que qualquer dia encontraria ele por aí. E como a gente tem o mesmo gosto musical, gostamos das mesmas bandas, somos músicos, cantamos/tocamos na igreja e seguimos muitas páginas em comum nas redes sociais o reencontro veio a partir de tudo isso”, explica Gabriel.

“Um dia eu estava no Instagram e eu vi um vídeo de um cara super idêntico a mim. Eu pensei que meus amigos tivessem feito alguma brincadeira, que tivessem postado um vídeo meu sem me avisar. Quando eu cliquei e ativei o áudio do vídeo, vi que não conhecia aquela música que, no caso o Victor, estava cantando. Aí quando eu vi na descrição do vídeo, eu vi o nome dele”, relata Gabriel.

Depois dessa situação, Gabriel teve certeza de que tinha encontrado seu irmão gêmeo. “Aí bateu o desespero e depois um momento de choro”, contou o jovem.

Já com Victor foi um pouco diferente. Ele conta que sempre foi questionado sobre em ter um irmão gêmeo, mas não desconfiava que de fato isso era verdade. “Quando a minha mãe de coração me contou que eu era adotado, eu só fiquei grato. Pois muitas crianças são jogadas, até mesmo, no lixo e eu fui criado com muito amor”, diz o universitário.

Apreensão. Essa foi a palavra que definiu o primeiro encontro dos irmãos gêmeos. “Eu não tinha a mínima noção de como era me ver em outra pessoa”, diz Gabriel. O primeiro contato dos gêmeos ocorreu em 14 de agosto de 2017.

Encontro

Victor viu pela primeira vez, ainda que virtualmente o irmão, após um comentário que Gabriel fez em uma foto do jovem. “Ele comentou na minha foto perguntando se eu tinha percebido o quanto que eles eram parecidos. Eu fiquei curioso, visitei o perfil dele na rede social e levei um susto”, lembra Victor.

“Depois disso, eu corri até minhas irmãs e mostrei a foto do Gabriel para elas. Na verdade, elas sabiam da minha história, assim como a rua inteira, menos eu. Corri até a sala, onde minha mãe estava, e mostrei a foto para ela. Na mesma hora ela começou a chorar até soluçar. Depois disso, minha mãe contou toda a história para mim”, conta Victor.

Ao saber de toda a história, Victor diz que sua reação foi inusitada, ele teve uma crise de risos. “Na mesma noite, eu e o Gabriel já começamos a conversar. Ele (Gabriel) foi bem cauteloso durante a conversa. Levei outro susto quando ele mandou um áudio e a voz era idêntica a minha”, relembra o jovem.

Após alguns meses de conversas, os dois irmãos gêmeos finalmente decidiram se conhecer. A data do reencontro físico foi em 12 de outubro de 2017, em Morada Nova, no Ceará, onde Gabriel Freitas mora atualmente. “Nós marcamos de nos encontrar na rodoviária. O que a gente achava que ia ser um encontro emocionante, foi mais uma piada entre amigos. Nós nos olhamos e começamos a sorrir. Eu abaixei para pegar a mala e ele tocou no meu ombro e falou ‘ei, seu cabra’. Nós dois caímos na risada”, conta Victor sobre o reencontro.

Os irmãos contam que as famílias aceitaram muito bem o reencontro. “Parece que a gente ganhou uma nova família”, diz Victor.

Desde então os irmãos não se desgrudaram mais. Como o Victor mora em São Luís e o Gabriel, em Morada Nova, no Ceará, os jovens adotaram uma forma de sempre estarem se vendo. A cada mês um dos gêmeos viaja para visitar o outro. Um mês o Gabriel vem ao Maranhão, no outro, o Victor vai ao Ceará.

Futuro

Como os gêmeos possuem um talento para a área musical, os dois já estão desenvolvendo um projeto nessa área, chamado “Metade de Dois”. Os jovens relatam que assim que casarem, os dois têm a pretensão de adotar, pelo menos, uma criança cada. “A gente quer também ajudar aquelas pessoas que estão a margem da sociedade. Como nós somos cristãos protestantes, entendemos também que nós somos adotados por Deus”, conta Gabriel.

Além disso, os gêmeos pretendem ajudar pessoas que possuem histórias de encontros e desencontros parecidas com a deles.

Os irmãos relatam que não sabem o paradeiro da mãe biológica. Eles contam que sabem apenas que o nome dela é Maria das Graças Pereira e que possivelmente ela mora no município maranhense de Pio XII. “Queremos reencontrá-la. Precisamos esclarecer essa história, para passarmos adiante com mais detalhes e, também, dar paz a consciência da nossa mãe biológica”, garante Victor.

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