Pequim - A China intensificou as restrições impostas a jornalistas estrangeiros desde que Xi Jinping tornou-se o líder do país, quatro anos atrás, complicando os esforços feitos para interpretar o pensamento de Pequim, isso em um momento em que a desaceleração econômica da China e suas ambições econômicas crescentes tornam o país cada vez mais importante para o mundo.
Um relatório divulgado quinta-feira,22, pela PEN America, associação de escritores com sede em Nova York, procura quantificar a dificuldade atual enfrentada por jornalistas para divulgar os acontecimentos na China. Suas conclusões: os estimados 700 jornalistas estrangeiros de 50 países que trabalham no país "enfrentam mais limitações hoje que em qualquer outro momento da história recente".
O relatório também destacou várias instâncias do que descreveu como empresas de mídia estrangeiras comprometendo seus padrões editoriais para poderem atuar na China.
O grupo entrevistou mais de três dúzias de jornalistas, além de profissionais chineses locais de órgãos de mídia estrangeiros, especialistas, organizações de mídia e outros para compilar o relatório de 76 páginas.
A PEN America já tratou muitas vezes da liberdade de expressão na China, normalmente com relação a escritores chineses. Sua diretora executiva, Suzanne Nossel, disse em entrevista que também é importante chamar a atenção para os desafios enfrentados por jornalistas internacionais que procuram cobrir a China.
"É claro que não é possível comparar essas restrições à pressão sentida pelos escritores chineses", disse Nossel. "Mas dependemos do papel crucial exercido pelos correspondentes de órgãos de mídia estrangeiros. Eles são uma peça importante no quebra-cabeça que é entender a China."
Assédio
O relatório citou vários fatores preocupantes, incluindo o assédio crescente a jornalistas estrangeiros que trabalham em lugares delicados, como o Tibete e Xinjiang, região autônoma no noroeste da China.
Jornalistas entrevistados disseram que frequentemente são filmados enquanto trabalham e às vezes são seguidos tão de perto que não conseguem entrevistar moradores dessas regiões.
Segundo outros jornalistas, as autoridades estão extremamente cautelosas diante de descrições feitas de Xi Jinping. Repórteres e editores dizem que já foram criticados por traçar comparações pouco elogiosas entre Xi e Mao Tse-tung ou por dizer que o presidente é objeto de um culto à personalidade.
As conclusões do relatório provavelmente coincidem com as experiências de muitos correspondentes de veículos internacionais. Mas alguns disseram que o documento não traz uma perspectiva de mais longo prazo.
Na década de 1990, a maioria das viagens para fora da capital chinesa tinha obrigatoriamente que incluir acompanhantes do governo provincial. Os correspondentes estrangeiros eram obrigados a viver em complexos residenciais vigiados por soldados.
No final dos anos 1990 e início da década de 2000 essas regras já eram ignoradas com frequência, mas ainda eram aplicadas para punir correspondentes ou separá-los da sociedade local.
"Depende da definição que fazem do que é recente", disse Melinda Liu, que abriu a sucursal da "Newsweek" em 1980 e é sua chefe atual. "Já houve épocas em que as coisas estiveram melhores, mas também outras em que estiveram muitíssimo piores."
Efeito olímpico
A China suavizou as restrições na fase que antecedeu a Olimpíada de 2008. Depois dos Jogos, porém, o país intensificou a implementação dos regulamentos, ao mesmo tempo em que impunha controles mais rígidos à sociedade civil chinesa.
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O processamento de vistos tornou-se mais burocrático e às vezes restritivo e o governo mostrava-se mais avesso a críticas a seus líderes ou políticas.
O relatório também critica a falta de informação fornecida pelos ministérios do governo, um problema que ocorre há décadas. Alguns jornalistas disseram que estão recebendo menos informação das autoridades que no passado, especialmente estatísticas de rotina.
"Os jornalistas estrangeiros na China são importantes para empresários", disse Joerg Wuttke, presidente da Câmara de Comércio da União Europeia na China.
"Eles influem sobre a opinião pública de nossos investidores e outros em nível global", afirma, aludindo a empresas e seus acionistas, governos, ONGs como "think tanks" e grupos de voluntários, e o público em geral.
Apesar da repressão sobre a sociedade civil, sob alguns aspectos há mais informações disponíveis sobre políticas públicas hoje que no passado, graças à internet e às mídias sociais.
Apesar de ser sujeitos a monitoramento intenso, grupos de discussão chineses fazem circular críticas acirradas à política governamental, mesmo em relação a questões delicadas como a Revolução Cultural.
Embora autoridades do governo raramente se disponham a dar entrevistas, muitas de suas posições e políticas estão mais claras hoje do que nas décadas passadas.
Divisão
Uma preocupação destacada no relatório da PEN é o fato de o governo explorar a divisão entre o lado empresarial das empresas de mídia e suas operações jornalísticas.
A maioria das organizações de mídia diz que isola suas operações de jornalismo de suas estratégias empresariais, mas essa divisão é mais difícil de observar quando essas empresas buscam oportunidades na China.
Segundo o relatório, várias organizações noticiosas deixaram de publicar em chinês algumas reportagens contendo críticas à China.
Citando jornalistas anônimos, o texto disse também que a agência de notícias Reuters endureceu seus padrões de maneira que reduziu o número de artigos de jornalismo sobre direitos humanos. Mas o estudo observou que a organização ainda cobre o tema dos direitos humanos em reportagens especiais de âmbito mais amplo.
As alegações não puderem ser checadas independentemente. Uma porta-voz da Reuters não reagiu imediatamente a um pedido de comentários.
O relatório disse que o site do "New York Times" em chinês traduz artigos semelhantes na íntegra, mas o site é bloqueado na China.
O relatório foi apresentado formalmente na noite de quinta-feira no Overseas Press Club (clube de correspondentes no exterior), em Nova York.
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