Mirella Thatyelle Silva Sousa é um exemplo e um caminho para as outras garotas. Isto porque, aos 54 anos, ela conseguiu o que nenhuma maranhense havia conseguido desde que Daniel de La Touche ousou colocar os pés em terras da Ilha de Upaon-Açu: ela foi a primeira transexual do estado a garantir, legalmente, o seu nome social e a sua designação de gênero em um documento oficial de registro.
Desde sempre, Thatyelle não gostava de ser chamada por seu nome de batismo, tanto que em casa, bem mais nova, lá no município de Primeira Cruz (a 100 km de São Luís), ela era só Taty. Na capital, o outro nome sempre a incomodou, principalmente quando tinha que ser chamada em público, como em atendimentos hospitalares. “Eu sempre levava um amigo. Aí, ele ia lá e falava para a atendente como eu gostaria de ser chamada”, relata.
Foi só em 2012, já participando ativamente de movimentos sociais em defesa das minorias, que ela teve conhecimento de que poderia garantir legalmente o seu nome social e seu real gênero em seus documentos. Nesse mesmo ano, entrou em sua vida o anjo que tomou conta dela em todo esse processo, a defensora pública e titular do Núcleo de Defesa da Mulher e da População LGBT da Defensoria Pública do Estado do Maranhão, Ana Lourena Moniz Costa.
Eu sou muito feliz pelo apoio que tenho da minha família e de amigos de verdade. Foi uma batalha dura, mas eu consegui vencer”Mirella Thatyelle
Trâmites
Foram dois anos de muitas idas e vindas à Defensoria Pública, ao Fórum, conversas, pega papel aqui, documento ali, foto acolá, chama testemunha tal, vai em lugar assim. "Eu faria tudo para mudar o meu nome e consegui, graças a Deus e à doutora Lourena, minha defensora, que entrou na justiça, foi uma batalha muito dura”, afirma.
A decisão saiu e, em 2014, Mirella voltou a Primeira Cruz, cidade de seu nascimento, para, de posse da decisão do juiz da 3ª Vara Cível, ir até o Cartório de Registro Civil da cidade e solicitar a mudança em sua certidão de nascimento, lhe garantindo assim o direito de ser a primeira transexual a mudar de nome e de gênero no Maranhão.
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Ela saiu da cidade e foi direto tirar sua nova Carteira de Identidade, no qual assinou seu verdadeiro nome, e que hoje exibe orgulhosa para quem quiser ver. "Estou muito feliz por isso. A minha família me apóia e eu sou muito feliz pelo apoio que tenho da minha família e de amigos de verdade. Foi uma batalha dura, mas eu consegui vencer".
Luta social
Hoje, quase um ano depois de ter conseguido sua vitória nos tribunais, Mirella segue na luta pelos direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros. Ela foi uma das fundadoras da Associação Maranhense de Transexuais (Amatra), participa da Comissão de Articulação de Movimentos Sociais (CAMS), da qual é uma das delegadas regionais do Nordeste, e atua dando suporte aos diversos movimentos sociais.
No próximo dia 29 de janeiro, Dia Nacional da Visibilidade Trans, ela e mais outras transexuais irão fundar a Rede Maranhense de Travestis e Transexuais (Rematrans), organização não governamental ligada diretamente à rede nacional. Fora isso, são várias as meninas que a procuram para entenderem como foi o processo que garantiu a Mirella poder usar seu nome social e aprenderem o caminho das pedras.
Diferença
Em 2012, Dryelly Carneiro Serra conquistou na Justiça o direito de ter seu nome social no documento de identidade e se tornou a primeira travesti no Maranhão a conseguir tal feito. A ação de retificação do documento de identidade foi proposta pela defensora pública Ana Lourena Moniz Costa, a mesma que cuidou do caso de Mirella, e foi julgada pelo juiz Luiz Gonzaga Almeida Filho. A diferença entre os dois casos, é que Mirella também conquistou o direito de mudar o gênero em sua certidão de nascimento.
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