As baleias das crianças
Quem possui muitos livros e tem o hábito de, à noite, visitá-los, percorrendo as estantes para encontrar determinado título, aprende que os livros são danados para “andar”.
Quem possui muitos livros e tem o hábito de, à noite, visitá-los, percorrendo as estantes para encontrar determinado título, aprende que os livros são danados para “andar”. É que quem gosta de livro e vai durante a noite atrás de um específico na estante, ao se deparar com outro que atrai sua atenção, coloca este fora da prateleira para no dia seguinte buscá-lo. E começa a fazer isso com tantos que esquece o lugar onde cada um estava. Assim ao encontrar determinado livro fora do seu lugar fica com a impressão de que ele caminhou.
Foi assim que outro dia achei um livro, intitulado “Meu Amigo Presidente Sarney”, e fiquei alegre e curioso. Era um livro que o escritor Virgílio Costa organizou, com uma seleção de cartas endereçadas a mim, cartas ingênuas e belíssimas na pureza de seus sentimentos e pedidos.
A maioria das cartas pedia que eu proibisse a pesca da baleia, no caso a Baleia Jubarte, que chamavam carinhosamente de Jubá, estas que vinham para as águas quentes do Atlântico, na costa do Brasil, para reprodução e aqui eram submetidas a uma pesca predatória, para venda de óleo e carne, para consumo interno e algumas vezes para exportação. Essa exploração vinha desde o século 17 e continuava no século 20. Isso fez com que essas baleias estivessem já relacionadas em “espécies em extinção”. Em nosso País, no Nordeste, os Municípios de Baía da Traição e Rio Tinto, na Paraíba, eram o maior centro dessa pesca. Havia ali uma grande atividade industrial e mesmo de sustentação da economia da cidade, com muitos pescadores e comerciantes envolvidos no negócio. Também se praticava essa pesca em Salvador, na Bahia, e no Sul, no Município de Florianópolis, mas com menor intensidade. Essa exploração da baleia foi tão grande que, em 1987, calculava-se que só existissem 300 indivíduos das Jubartes. As crianças eram quem mais me pedia para proibir essa atividade, embora existissem muitos grupos com a mesma bandeira entre ambientalistas, ONGs e outros setores da sociedade, sempre com a resistência dos interessados na exploração, que alegavam que a pesca das baleias era fonte de empregos e uma atividade econômica, principalmente dos Municípios de Baía da Traição e Rio Tinto.
Eu resisti a todas essas pressões e, motivado pela minha consciência ecológica, proibi essa pesca. Agora pesquisando o assunto descobri que, desde a proibição até agora, o número de Jubartes aumentou de trezentos indivíduos para trinta mil em nossas águas. A espécie está fora da lista das “em extinção”, e hoje as baleias podem vir procriar em nossas costas — agora muito mais empregos foram criados no turismo, com o despertar da curiosidade de ver esse mamífero aquático gigante, que pode chegar a quarenta toneladas, charmoso por suas piruetas e peripécias, com gigantescas aparições. Como já são muitas, é fácil encontrá-las. Hoje o turismo para vê-las é muito grande.
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Fecho esse artigo com Ana Cláudia, que hoje deve estar na casa dos 40 anos. Sua carta é bela. Eu me comovi ao reler seu pedido e ver beleza da sua carta. As crianças amam as baleias.
São José dos campos, 24/9/85. Querido presidente, não deixe que matem nossas baleias. Tenho 6 anos e nunca vi uma. Gostaria de ver um dia. Proíba a caça de baleia. Um beijo, Ana Cláudia.
Ana Cláudia, onde você estiver, saiba que ajudou a salvar as Baleias!
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