COLUNA
Dr Hugo Djalma
Médico nutrólogo e neurocientista
Dr Hugo Djalma

Envelhecer é ficar velho!! Será?

Cada experiência, decisão e ação moldam o caminho do envelhecimento, assim como os anéis de crescimento em um tronco registram a história da árvore.

Hugo Djalma

Sabe aquele carro usado que está velhinho, mesmo adquirido há pouco tempo? Ou aquele comprado há tempos, que não foi usado, do modelo antigo, mas ainda "está novinho"? Aplique esses termos à diferença entre sua idade cronológica, aquela contada em anos, e a idade biológica, a contada em qualidade clínica.

O termo "qualidade de vida" virou clichê, ou seja, automatizou-se em seu cérebro sem passar pela parte interpretativa de sua mente. No entanto, seu significado real remete à saúde física, social, profissional e mental. É essencial compreender que a qualidade de vida é mais do que um conceito vago, ela se baseia na interconexão entre diversos aspectos que moldam nosso bem-estar.

Durante milhares de anos, a expectativa de vida do homem beirava os 30 anos de idade. As mudanças ocorreram principalmente nos últimos dois séculos, quando atingimos a média global atual de 73,3 anos. A revolução na agricultura, pecuária e a industrialização de alimentos e facilidades urbanas desempenharam um papel crucial nesse aumento. A longevidade hoje é resultado do esforço humano em dominar o ambiente e criar condições propícias para uma vida mais longa e saudável.

No entanto, viver por mais tempo cronológico não traz apenas alegrias, é preciso uma vida saudável. No começo do século 20, a grande maioria das mortes decorria de causas infecciosas como pneumonias e diarreias. Com os avanços da medicina e da higiene, enfrentamos agora novos desafios. Atualmente, as maiores causas de morte são de dentro para fora, ou seja, de doenças crônicas como diabetes, acidente vascular e câncer, literalmente alimentadas pelo comportamento autodestruidor físico e mental. O número de obesos no mundo quase dobrou nas últimas três décadas.

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Evolutivamente, somos selecionados artificial ou naturalmente o tempo todo. Desde a formação intrauterina até o dia da morte, somos seres tentando nos adaptar aos estímulos externos e internos. Essa habilidade única nos permite moldar nosso entorno para favorecer nossa sobrevivência e bem-estar. No entanto, essa mesma capacidade também pode nos prejudicar, se não formos conscientes das escolhas que fazemos.

Compare seu envelhecimento com o tronco de uma árvore. Por anos, ele é guiado pelo acaso natural ou pela sua intencional direção (isso também se aplica ao crescimento ósseo ortopédico e dentário, por exemplo). Cada experiência, decisão e ação moldam o caminho do envelhecimento, assim como os anéis de crescimento em um tronco registram a história da árvore.

A partir dos 40 anos, a atividade física não é mais uma opção, é uma obrigatoriedade. Beber, fumar, se esbaldar de desejos e gratificações imediatas para só se cuidar quando fizer 50 anos, cheio de lesões irreversíveis ou "conectomas viciados na facilidade", cobrará seu preço. Cuidar do corpo torna-se uma responsabilidade, não somente para prolongar a vida, mas para vivê-la com qualidade.

A diferença entre ser velho e envelhecer está no cofrinho, onde os dias são as moedas. Envelhecer sem ficar velho é uma opção e chegar aos 65 anos carregando seus netinhos ou precisando de alguém para atravessar a rua será uma surpresa quando o cofre for aberto. Escolha envelhecimento com vigor e saúde. O prêmio final decorrerá das atitudes tomadas hoje. Não decidir também é uma decisão! Cada escolha que fazemos influencia o tesouro que acumulamos ao longo da vida, determinando a maneira como envelhecemos e vivemos.

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