Flanelinhas

"Eles sabem que eu não sou bandido", diz flanelinha

Trabalhando há mais de vinte anos na mesma área, Robson Sousa ainda não possui registro profissional.

Daniel Moraes / Imirante.com

Atualizada em 27/03/2022 às 11h52

SÃO LUÍS - Desde o dia 15 de julho, quando a polícia intensificou a fiscalização contra os flanelinhas em situação irregular, Robson Sousa* trabalha apreensivo. A atenção a tudo o que acontece em volta é mais que necessária. Ele sabe que, ao menor sinal da polícia, é preciso largar tudo e correr.

Apesar de trabalhar há mais de vinte anos como guardador de carro, sempre na mesma área, Robson ainda não possui o registro profissional. Caso seja pego, ele pode ser autuado por exercício ilegal da profissão.

“Aqui todo mundo me conhece. Tem patrão que deixa chave do carro, outros me dão contas pra pagar. Eles confiam em mim, sabem que eu não sou bandido”, conta. E, se houver quem duvide, ele rapidamente tira do bolso um extrato bancário que pagou há poucos dias. É um documento no valor de R$ 2.268,65. “Você acha que alguém bota um dinheirão desses na mão de outra pessoa se não confia nela?”, ele faz a pergunta retórica enquanto balança o documento amassado no ar.

Robson afirma ter uma caixa cheia de comprovantes de pagamentos que fez para diversas pessoas. “Nem seria preciso eu guardar esses recibos, porque eles sabem que eu sou de confiança; mas, mesmo assim, eu guardo. Se um dia aparecer um patrão aqui, querendo ver o recibo, eu tenho como provar que paguei”.

Foto: Daniel Moraes

Quando conta esses fatos, Robson é bem articulado. Por vezes, fica difícil acompanhar a velocidade da sua fala. Mas basta alguém lhe perguntar sobre o seu registro profissional para toda essa convicção desaparecer. Ele adquire um ar grave, coça a cabeça, como se estivesse pensando numa boa resposta, e, então, confessa: “Olha, a verdade é que foi falta de interesse mesmo. Você sabe como é... eu sempre trabalhei com isso e nunca precisei de documento, de autorização, de nada. Mas eu tenho consciência de que sou o errado da história".

Robson teve que ver alguns de seus colegas serem detidos para resolver ir atrás do seu registro. “Vou resolver isso o quanto antes. Nessa semana mesmo. Eu vi como os policiais abordaram os meninos aí, com a maior falta de respeito, puxando pela gola da camisa, como se fossem marginais. Eu sou um homem de quase quarenta anos, trabalho honestamente. Não quero passar por esse tipo de coisa”. Mas, apesar das críticas, ele não deixa de reconhecer a importância da operação que está sendo realizada pela Polícia Civil. “De certa forma, é muito boa. Porque vai tirar os vagabundos e aproveitadores das ruas. Só quem é flanelinha de verdade vai poder continuar trabalhando, e isso é muito bom”.

Em tantos anos de trabalho, a única reclamação de Robson é em relação ao preconceito que ainda existe em torno do flanelinha - preconceito que ele, inclusive, considera justificável. “Eu entendo. Tem muita gente que se passa por flanelinha pra roubar o motorista. Eles são aproveitadores, muitos são drogados, e é bom que a polícia prenda mesmo. Mas as pessoas têm que entender que flanelinha de verdade não faz isso. Eu sou trabalhador, não ladrão”.

É quase fim de tarde quando Robson se despede. Ele ainda tem muita história para contar, mas é preciso voltar ao trabalho. Mais um "patrão" vem chegando.

*Robson Sousa foi um nome criado pela reportagem para respeitar o desejo do entrevistado de permanecer anônimo. Foi a única condição imposta por ele para conversar com a equipe.

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