Audiência

Caso Décio: testemunhas de defesa e polícia serão ouvidas

Imirante.com, com informações de O Estado

Atualizada em 27/03/2022 às 12h08

SÃO LUÍS - A partir de hoje,(13), serão ouvidas as testemunhas arroladas pela defesa dos réus, além de policiais e delegados que trabalharam nas investigações sobre a morte do jornalista e blogueiro Décio Sá. O juiz Márcio Castro Brandão, da 1ª Vara do Tribunal do Júri, informou que já digitalizou o processo para inseri-lo no “Programa Justiça Plena”, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), lançado em novembro de 2010 para monitorar e dá transparência ao andamento de casos de grande repercussão social, entre eles os relacionados a questões criminais.

Audiências

A primeira semana de audiências se cumpriu e foi marcada não apenas pela divisão do processo mas também, principalmente, por promessas de revelações do executor do crime e alegação de inocência de um dos acusados de serem os mandantes do crime, o agiota Gláucio Alencar Pontes Carvalho, de 35 anos, acusado de encomendar e financiar a morte do jornalista da editoria de Política de O Estado.

2º Dia – Na terça-feira (7), a defesa do pistoleiro paraense Jhonatan de Sousa Silva, de 25 anos, assassino confesso de Décio Sá, declarou que o réu fará revelações à Justiça não compartilhadas ao inquérito policial. Segundo Pedro Jarbas, um dos defensores do assassino confesso, o depoimento do criminoso será decisivo para que mandantes e intermediadores do crime sejam, de fato, punidos. “Nosso compromisso é contribuir para que a verdade prevaleça”, disse Jarbas.

Em entrevista à imprensa, o advogado do matador afirmou que ele está arrependido da vida que escolheu e que, por isso, quer contribuir para que todos os envolvidos neste crime de homicídio sejam identificados e condenados. “Nessa disposição, inclusive, o Jhonatan demonstra profundo arrependimento, principalmente, por, até o momento, não ter conhecido a própria filha que nasceu em meio a todo esse evento”, disse o advogado ao fim do segundo dia de oitivas.

Das 10 pessoas aguardadas pelo MP, naquela data, seis prestaram depoimento no Salão do Júri, a maioria jornalistas e blogueiros que cobrem o cotidiano político no Maranhão. Entre aqueles que não se furtaram a conversar com a imprensa, estão os jornalistas Itevaldo Júnior, Caio Hostilio, Marco Aurélio D’Eça e Marcelo Gomes Vieira, que falaram sobre o perfil profissional do colega Décio Sá, e o vereador Fábio Câmara (PMDB), amigo e compadre do jornalista assassinado.

3º Dia – No terceiro dia de audiências, quarta-feira (8), finalmente a imprensa foi autorizada a acompanhar a sessão e foi surpreendida pelo agiota Gláucio Alencar Carvalho, que alegou ser inocente da morte de Décio Sá. A afirmação do homem que é denunciado de faturar milhões de recursos públicos destinados às prefeituras foi feita espontaneamente, segundos antes da abertura dos trabalhos. Ao perceber a presença dos jornalistas, o acusado se aproximou e afirmou:

- Gente, eu não fiz isso aqui. Vocês vão saber quem fez isso. Estão fazendo uma campanha contra mim, porque existe uma pessoa muito maior nessa história. A pessoa que fez isso vai aparecer, ela vai cair. Eu tenho fé em Deus nisso - alegou o agiota, defendido pelo advogado Adriano Cunha, e acompanhado do pai, José de Alencar Miranda Carvalho, de 73 anos, também acusado de liderar a quadrilha, preso em poder de 37 talonários de cheques em branco, assinados por prefeitos.

Neste dia também, foram ouvidos vizinhos de uma casa, no Parque dos Nobres, de propriedade da família de Fábio Aurélio do Lago e Silva, o Bochecha, de 33 anos, acusado de ser um dos intermediadores do crime; um vigilante, ex-funcionário de Gláucio Alencar, e uma professora cujo nome está no documento da motocicleta utilizada no crime, mas que não tem ligação com o bando. Prestou depoimento ainda o dono de uma concessionária de veículos, preso pela Polícia Federal em 2011.

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Uma ex-companheira de Shirliano Graciano de Oliveira, o Balão, de 29 anos, único acusado foragido, também compareceu, mas pouco foi interrogada. A última a depor nesse dia foi a única que optou por usar a balaclava (capuz) para não ser reconhecida. A mulher afirmou ter visto em frente ao imóvel da família de Bochecha os acusados Jhonatan, Miranda e José Raimundo Chaves Júnior, o Júnior Bolinha, de 38 anos, outro acusado de intermediar o crime, descrito fisicamente pela depoente.

4º Dia – No último dia de audiências, quinta-feira (9), dois depoimentos marcaram os trabalhos da defesa dos réus e do promotor do caso. Na sequência de oitivas, depuseram o jornalista e ex-vice-prefeito da cidade de Barra do Corda Aristides Milhomem, última pessoa a falar ao celular com Décio Sá, e o delegado da Polícia Federal Pedro Meireles, investigado pela própria instituição de suposta participação na rede de agiotas, que aproveitou para se defender.

Das duas testemunhas, Aristides Milhomem foi o primeiro a depor ao promotor de Justiça da 1ª Promotoria do Tribunal do Júri, Luis Carlos Correa Duarte. Em depoimento, o ex-vice-prefeito de Barra do Corda se declarou amigo de Décio Sá, com quem trocava informações profissionais e com quem costumava almoçar sempre que possível. Segundo apurou a Polícia Civil do Maranhão, Milhomem foi a última pessoa para quem Décio Sá ligou, minutos antes de ser executado, em São Luís.

O teor da conversa, segundo o depoente, foi Décio Sá lhe perguntando se ele já havia visto em seu blog (blogdodecio.com.br) a “postagem de Barra do Corda”: Pistoleiros pedem transferência do júri de Pedro Teles para capital alegando “jogo de cartas marcadas”, publicada no dia 23 de abril, momentos antes do crime. “Décio me ligou às 22h30 e, depois de poucos minutos de conversa, ouvir um barulho semelhante ao de uma ‘flecha atravessando o ar’”, disse o ex-gestor.

Em seu depoimento, Milhomem também respondeu a perguntas da defesa de Gláucio Carvalho, acerca das 38 publicações do blogueiro contra a família Teles, e exaltou o trabalho do colega jornalista. “Décio era um jornalista corajoso e sempre perseguia a verdade, independente de quem fosse o denunciado. Uma vez lhe perguntei: Você não tem medo de morrer? e ele respondeu: ‘Se eu tivesse medo de morrer pelas coisas que escrevo, eu não seria jornalista’”, concluiu o ex-vice-prefeito.

Delegado

A última testemunha de acusação a depor foi o delegado da PF Pedro Meireles. Por ser investigado de suposta participação na rede de agiotas, chegou a apresentar um relatório da Controladoria Geral da União (CGU), que comprovaria que 96,34% dos recursos públicos federais destinados à Prefeitura de Serrano do Maranhão tinham sido desviados. O documento foi mostrado por Meireles porque o ex-gestor do município Vagno Pereira, o Banga, o denunciou de fazer parte da quadrilha, depois que foi preso em 2010.

- O resultado da investigação está no relatório da CGU. Foram sacados mais de R$ 2,7 milhões de recursos públicos na gestão do ex-prefeito, portanto, acredito que isto já é o suficiente para colocar em descrédito a denúncia de que a operação teria sido armada, uma vez que, antes de qualquer uma ação ser deflagrada, é necessário que esta seja avaliada e autorizada - defendeu-se o delegado, que disse ter tomado conhecimento do crime pela internet e que foi ao local apenas por curiosidade.

Esta será a segunda semana de audiências sobre o assassinato do jornalista e blogueiro, em abril do ano passado, em um bar na Avenida Litorânea.

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