SÃO PAULO - A confirmação de três casos de dengue tipo 4 no Brasil trouxe à tona a preocupação de autoridades do Ministério da Saúde e de especialistas sobre a doença no país. Detectadas em quatro bairros diferentes de Boa Vista e diagnosticadas pelo Laboratório Central de Saúde Pública (LACEN) de Roraima, amostras de soro foram levadas ao Instituto Evandro Chagas, em Belém, para contraprova.
Uma quarta análise, coletada de um morador do bairro de Pricumã, ainda aguarda o resultado, a ser divulgado na semana que vem. Entre as outras amostras, cinco são de dengue tipo 1 e uma do vírus 2. Os demais soros não atestaram a presença de doença, mas os procedimentos de cultura de coleta ainda não terminaram no IEC.
Identificado no Brasil pela primeira vez em 1981, o vírus não difere dos demais tipos causadores de dengue quanto aos sintomas que produz no corpo. O perigo trazido pelos casos de Roraima está no fato da população brasileira simplesmente não ser imunizada contra a dengue tipo 4. Ao surgir novamente em pessoas que já tiveram a doença causada pelos tipos 1, 2 ou 3, casos hemorrágicos podem surgir, podendo levar os pacientes à morte.
Preocupação
Para Luiz José de Souza, diretor do Centro de Referência da Dengue de Campos de Goytacazes (RJ), a situação da dengue no Brasil é preocupante. "Independente do quadro, a situação já é muito complicada, acredito que esse verão já deva contar com alguma epidemia aqui no sudeste", afirma o médico.
Para o especialista, mudanças de temperatura, chuvas frequentes e alagamentos são fortes indícios para novos surtos de dengue mesmo em cidades grandes como a capital paulista. "Pelo nosso conhecimento epidemiológico, acredito que São Paulo está prestes a receber uma epidemia de dengue", alerta o especialista. "Acredito que neste verão já sejam registrados casos."
Sobre o vírus VDEN-4, Luiz afirma que o caso ainda está isolado em Roraima, mas requer cuidado especiais já que a vulnerabilidade do país é grande. "No passado, a circulação de pessoas era muito menor e mesmo assim estados como o Rio de Janeiro tiveram surtos de dengue", explica o diretor do CRD. "No caso dessa nova versão do vírus, todos os habitantes do Brasil são vulneráveis."
"O VDEN-4 entrou no país em 1981, também em Boa Vista, mas foi minimizado pela presença do tipo 1, que quatro anos mais tarde se espalhou a ponto de chegar ao Rio de Janeiro", afirma Luiz.
O ministro da saúde, José Gomes Temporão, comentou o problema nesta sexta-feira (13). “A probabilidade de que o vírus possa circular não é 100% segura. O vírus pode ter um comportamento inesperado e não se expandir com a velocidade com a qual poderia se supor, mas ele pode, sim, circular pelo território nacional. Existem vários voos diretos de Roraima para São Paulo e outros estados. O que nós temos que fazer é nos preparar para, no próximo verão, termos uma redução drástica da presença do vetor”, declarou à Agência Brasil.
Identificação do vírus
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As cepas do VDEN-4 isoladas no IEC foram identificadas com exemplares isolados na Venezuela na última década, representantes do genótipo 2 do vírus.
Para realizar a confirmação, o vírus foi isolado por meio da introdução de soros dos suspeitos de terem contraído dengue em uma cultura de clones das células de mosquitos Aedes albopictus conhecida como C6/36. A nota técnica do Ministério da Saúde sobre os casos de Roraima, ao citar o "padrão ouro", faz referência a este tipo de diagnóstico laboratorial.
O IEC também utiliza uma técnica molecular conhecida como RT-PCR, que reconhece o vírus por meio de fragmentos do genoma.
Segundo Pedro Fernando Vasconcelos, chefe do Departamento de Arbovirologia e Febres Hemorrágicas do IEC, no caso do vírus 4, o isolamento feito em Belém é necessário para confirmar a doença e esclarecer qualquer dúvidas sobre a circulação pelo Brasil.
O procedimento justifica, segundo o especialista, a refutação de casos como os identificados em 2008 na capital do Amazonas, rejeitados como amostras de VDEN-4 pelo IEC. "A confirmação laboratorial das amostras procedentes de Manaus foram negativas para o tipo 4 tanto no IEC como pela Fiocruz, no Rio de Janeiro", afirma Pedro. "Provavelmente o que aconteceu naquele caso foi contaminação laboratorial."
Combate em Roraima
Segundo a Secretaria Estadual de Saúde de Roraima, foram intensificados os trabalhos de combate ao vírus desde a identificação do caso índice no dia 30 de julho pelo Lacen local. Na próxima semana, serão instaladas ovitrampas, vasilhas plásticas com água e um composto bioquímico, usadas como armadilhas aos mosquitos responsáveis pela transmissão do vírus.
Mosquitos da dengue desovam um recipientes com água parada como tampas de garrafas e pneus. Os ovos caem na água depois de três dias para o nascimento das larvas começa, mas também podem permanecer até 450 dias no recipiente antes da geração de novos exemplares do mosquito. É possível que mesmo um pneu seco contenha ovos e que consiga dar origem a larvas durante o próximo contato com a água.
O Lacen de Roraima recebeu 30 kits laboratoriais adicionais para realização de novos exames por um período de trinta dias. Na Capital, equipes orientadas pelo Ministério da Saúde e pela Secretaria Estadual de Saúde, fazem buscas ativas, controle focal para eliminação de criadouros nos bairros dos casos índices, borrificação, aplicação de questionários e ações de educação em escolas.
Até o dia 12 de agosto, o estado apresentava 8.242 notificaçações de dengue, com 5 mil confirmações e 223 casos graves de doença. No mesmo período do ano passado, eram 5.131 notificacações, 2.745 casos confirmados, com 142 graves.
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