IMPERATRIZ - A necessidade de preservar a língua e a cultura do povo indígena Krikati, localizado no sudoeste do Maranhão, motivou a estudante Gilvânia Frazão, de 20 anos, do 6º período do curso de Ciência da Computação do Instituto Federal do Maranhão (IFMA) Campus Imperatriz, a desenvolver o KrikatiApp.
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O aplicativo bilíngue visa possibilitar a tradução bidirecional entre a língua Krikati e a Língua Portuguesa. A ferramenta atua como um recurso de preservação linguística e de apoio ao ensino bilíngue, buscando fortalecer a comunicação intercultural ao permitir que falantes Krikati aprendam português como segunda língua e, ao mesmo tempo, que outras pessoas conheçam e valorizem o idioma indígena.
Origem do projeto e lacuna tecnológica
O KrikatiApp surgiu para preencher uma lacuna na valorização e preservação das línguas indígenas, especialmente no contexto da comunidade Krikati. O projeto foi concebido para promover a revitalização linguística e a valorização cultural, aliando tecnologia, educação e participação comunitária.
“A transmissão do idioma vinha diminuindo ao longo das gerações e o português, aprendido depois, acabava se tornando um obstáculo à comunicação e ao acesso à informação”, afirmou Gilvânia.
A estudante destacou a ausência de recursos digitais: “Antes do projeto, não existiam ferramentas digitais acessíveis que registrassem e ensinassem a língua Krikati de forma sistemática, bilíngue e interativa”, pontuou. Essa carência dificultava a transmissão do idioma entre as gerações e o ensino do português como segunda língua para a comunidade.
Desenvolvimento e parceria comunitária
O projeto, intitulado “KrikatiApp: A Design Science Research Approach to Indigenous Language Preservation”, foi desenvolvido sob a orientação dos professores Varley Santos de Sá (Computação) e Neliane Aquino (Letras), ambos do IFMA Campus Imperatriz. O trabalho foi realizado entre setembro do ano passado e julho deste ano, em parceria direta com a comunidade indígena Jerusalém do povo Krikati.
Reconhecimento internacional
Gilvânia Frazão apresentou o aplicativo no 17th International Conference on Education and Technology in Computers (ICETC), realizado em Barcelona, Espanha, entre 18 e 21 de setembro.
“Foi uma experiência transformadora e enriquecedora e proporcionou a oportunidade de apresentar internacionalmente o KrikatiApp, o potencial das tecnologias educacionais desenvolvidas no Brasil e o impacto social do projeto”, avaliou a estudante.
Segundo Gilvânia, o trabalho despertou grande interesse de pesquisadores estrangeiros, principalmente pela integração entre tecnologia e cultura indígena. A participação reforçou a importância de dar visibilidade à produção científica e tecnológica realizada por instituições públicas brasileiras, abrindo portas para novas parcerias internacionais.
Resultados e impacto social
Os resultados do KrikatiApp incluem o desenvolvimento completo do aplicativo bilíngue Krikati–Português, com tradução bidirecional, organização por categorias temáticas e uma interface validada pelos próprios falantes indígenas. Foram registradas 50 palavras iniciais, testadas e aprovadas pela comunidade, e criado um protótipo funcional para dispositivos Android.
“O aplicativo permite que os próprios indígenas se reconheçam como produtores e guardiões do seu conhecimento linguístico, reforçando o protagonismo comunitário”, afirmou Gilvânia.
O projeto também gerou publicações científicas e apresentações em eventos acadêmicos, consolidando a iniciativa como uma experiência inovadora em preservação linguística. “Em síntese, o KrikatiApp atua como um instrumento de empoderamento e resistência cultural frente à perda de línguas originárias”, destacou Gilvânia.
Próximos passos
Atualmente, o KrikatiApp está em fase de aprimoramento interno, com acesso controlado pela equipe de desenvolvimento e pelos membros da comunidade Krikati que participam da validação de conteúdo e interface. Após essa etapa, o próximo passo será o lançamento oficial e gratuito do aplicativo na Play Store (Android).
Gilvânia Frazão, que cursa Ciência da Computação no IFMA Campus Imperatriz, dedica-se ao desenvolvimento de produtos digitais inovadores (com foco em UI/UX Design) com impacto social. Ex-aluna do Técnico em Informática no mesmo campus e estagiária na área da Comunicação, ela manifesta grande interesse por design, artes e criação de conteúdo.
A estudante é líder na equipe de comunicação do projeto de extensão Mermãs Digitais, que busca incentivar meninas do ensino médio da rede pública a se aprofundarem em tecnologia. Além disso, Gilvânia já conquistou duas premiações ouro consecutivas no Seminário de Iniciação Científica do IFMA Campus Imperatriz e o primeiro lugar em um Hackathon durante o Ensino Médio.
“Costumo participar de projetos que tenham relevância social e humana, pois acredito que a tecnologia deve servir às pessoas, principalmente àquelas que não têm acesso a ela”, pontuou a estudante.
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