Estudo

Pistolagem: pesquisa retrata memórias da criminalidade em ITZ

A trabalho é de autoria da estudante da UFMA Natália Mendes.

Alan Milhomem / Imirante Imperatriz

Atualizada em 27/03/2022 às 11h46
O trabalho é de Natália Mendes, que é estudante do curso de Ciências Humanas – Sociologia da UFMA. (Foto: Divulgação / Carlos Lucena)

IMPERATRIZ – Durante quase 30 anos, Imperatriz viveu com o estigma de ser capital da pistolagem. A criminalidade e os conflitos sociais nas décadas de 70, 80 e 90 alcançaram níveis alarmantes e ficaram marcados na memória dos moradores cidade. E foi essas lembranças, que ainda permanecem nas pessoas da cidade, que motivou a estudante Natália Mendes a elaborar a monografia intitulada Imperatriz, a ‘terra da pistolagem’: assassinatos, memórias, fatos, representações e lógicas sociais.

“Primeiro eu comecei com o projeto Cidade das Memórias, nós entrevistávamos pessoas nas ruas da cidade, padres, jornalistas, memorialistas, comerciantes e nesses discursos uma assunto era recorrente, sempre a pistolagem era citada de uma forma ou de outra, independente da década, contexto social ou discurso. Isso despertou a minha curiosidade porque esse é um elemento muito forte na memória e historia da cidade, mas pouco referenciado na academia”, ressalta Natália.

Entre os vários casos de pistolagem que aconteceram em Imperatriz, a estudante trabalhou com três de grande repercussão: a morte do padre Josimo Moraes (1986), o assassinato do prefeito Renato Cortez Moreira (1993) e de Davi Alves Silva (1998). Diante desses casos, Natália analisa as representações, memórias e lógicas sociais. Segundo ela, os crimes de pistolagens seguem uma lógica própria, que é ter o mandante, os intermediários e os pistoleiros.

“O crime de pistolagem não é um crime comum. É um crime que tem uma estrutura, tem uma inteligência por trás. Ele é um crime de encomenda, e por trás tem os mandantes e os intermediários. Assim, nem todos os crimes que aconteceram na cidade que se diz de pistolagem são, necessariamente, crimes de pistolagem, porque nem todos eles conferem como crimes de encomenda”, afirma.

Outra percepção da pesquisa é que esse tipo de crime começa a se instalar na cidade com a construção da rodovia Belém-Brasília, e começa no contexto rural com a chegada dos jagunços juntos com os fazendeiros na década de 60. “Depois ele vai se instaurando no contexto urbano, sendo acionado pela própria política para manutenção no poder. E depois a própria polícia começa a institucionalizar esse tipo de violência. São crimes do cotidiano que alguém manda matar alguém por algum motivo”, completa Natália.

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Natália durante apresentação do trabalho, que ocorreu na tarde desta quinta-feira (29). (Foto: Divulgação / Carlos Lucena)

A estudante destaca, também, que é preciso descontruir a imagem que o pistoleiro age sozinho, que o crime de pistolagem acontece com um único culpado, que é o pistoleiro. “Na verdade o pistoleiro é o mercador da morte. O crime de pistolagem não é um crime comum. Têm os mandantes e os intermediários”, diz.

O trabalho é baseado em entrevistas de pessoas que, de uma foram ou de outra, vivenciaram esse período de violência na cidade, como memorialistas, jornalistas e políticos. Para o historiador Adalberto Franklin, que participou da banca que avaliou o trabalho, a pesquisa é importante para a cidade, pois não se tinha trabalho científico com levantamentos e análise sobre a pistolagem.

“Eu creio que esse trabalho vem suscitar e dá possibilidades da gente se debruçar sobre um trabalho de pesquisa deste tipo. É importante para que essa geração nova possa analisar essa parte da história de Imperatriz e avaliar aquilo que nós conseguimos superar. É um trabalho que vem contribuir para que a gente possa compreender a história da nossa cidade”, avalia.

O historiador Adalberto Franklin, que também é editor da Ética Editora, convidou Natália a transformar a pesquisa em livro para ser publicado. Natália Mendes foi a primeira aluna a defender a monografia no curso de Ciências Humanas (Sociologia) da Universidade Federal do Maranhão, campus Imperatriz. O trabalho foi orientado pelo professor Salvador Tavares, que é mestre em História Social. Também participou da banca de avaliação da monografia o professor Jesus Marmanillo, que é mestre em Ciências Sociais.

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