COLUNA
Diogo Gualhardo
Diogo Gualhardo Neves advogado e historiador.
Diogo Gualhardo

O Impeachment foi golpe! É golpe! É carnaval!

É carnaval! É carnaval! E o Arlequim de barbas grisalhas, inebriado na charanga que o trouxe de novo ao poder, que fique apenas nos gracejos, para que ele próprio não tome um “golpe”.

Diogo Gualhardo

Atualizada em 02/05/2023 às 15h57
Diogo Gualhardo Neves advogado e historiador. (Ipolítica)

Lula, sempre trajando a espalhafatosa fantasia proselitista, deu seu grito de carnaval na Argentina, coisa de um mês atrás, anunciando para o presidente daquele país, também um famoso brincante – o mesmo que afirmara terem os brasileiros “saído da selva”, ao contrário de seus patrícios, que teriam “vindo nos barcos” – o fato do impeachment da senhora Dilma Rousseff ter sido um “golpe de estado”.

Infelizmente, a galhofada não passou dos cordões do petismo. Logo surgiram os censores, e, pasme-se, dentro do mesmo atual governo, seus ministros que, sendo parlamentares em 2016, votaram acertadamente pelo processo de deposição daquela desastrada ex-presidenta (curiosamente, o corretor do Word não reconheceu a expressão “ex-presidenta”, sublinhando vermelho e indicando a correção para “ex-presidente”, contudo, como sou democrático, inclui o verbete).

O que o presidente da folia queria dizer? Que seu próprio ministério é golpista? Que o parlamento é golpista? Que os ministros do STF são golpistas? Quando essas perguntas surgiram, uma certa sobriedade apareceu, o bloco logo mudou a música. É o governo de Momo, e eu estou aqui para me divertir também. Por isso, jogo maisena e provoco: o impeachment foi golpe. Afinal, pedaladas fiscais todos fizeram, fazem e vão fazer. Nem por isso todos terão um carnaval triste. Por que apenas a senhora Dilma Rousseff? Bem, não foi apenas ela. Temos um casal: Colombina e Pierrô, afinal, o senhor Fernando Collor de Mello também teve sua quarta-feira de cinzas. E animado, pulando, aqui em meu laptop, pergunto aos meus queridos colegas de festa: por que o petismo não denuncia, com a mesma alegria e entusiasmo, aquele “golpe de 1992”? O carnaval tem história. Voltemos aos primeiros anos da Nova República. 

Os constituintes de 1987, ao som de “Fé Brasileira” do Chiclete com Banana, escolheram o presidencialismo como forma de governo. Nesse sistema, o mandato é rígido, e o governo, sendo bom ou ruim, deve ser suportado até seu final. Dois anos depois, Luís Inácio Lula da Silva perderia as eleições para Fernando Collor. Esse, com uma patacoada, no afã de controlar a hiperinflação, confiscou a poupança dos brasileiros causando desespero e desorganizando mais ainda a economia. Ato contínuo, surgiu um suposto esquema de corrupção que seria sua pá de cal. O país conheceria a palavra impeachment.

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Lula pensou que era o momento de botar seu bloco na rua. Até que foi, puxado pelo menino Lindberg Farias, mas, logo a fanfarra acabou. Fernando Henrique Cardoso, ministro da economia do empossado Itamar Franco, veio com o Plano Real e adiou o baile. 
Collor viu seu carnaval acabar mais cedo porque não conheceu os limites da brincadeira. Dilma não aprendeu a lição, e, com sua heterodoxa “Nova Matriz Econômica” conseguiu um desarranjo pior, só comparado ao Encilhamento de Ruy Barbosa, o jurista jabuti trepado na economia que afundou o Brasil e sua carreira própria política no berço da República.

O controle da inflação, a estabilidade nos níveis de emprego e o crescimento econômico são marcos civilizacionais do Brasil contemporâneo. São figuras sisudas que não gostam da folia. Porém os pândegos andam tomando gosto com a independência do Banco Central, com os contas públicas e com os juros.

É carnaval! É carnaval! E o Arlequim de barbas grisalhas, inebriado na charanga que o trouxe de novo ao poder, que fique apenas nos gracejos, para que ele próprio não tome um “golpe”.

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