COLUNA
Sexo com Nexo
Sexo com Nexo por Mônica Moura, sexologia clínica e Educação sexual.
Sexo com Nexo

Um lugar em alguém

Confira a coluna desta semana da sexóloga e educadora sexual Monica Moura.

Mônica Moura/Sexologia clínica e Educação sexual

Mônica Moura/Sexologia clínica e Educação sexual (Divulgação)

Ela não estava carente, mas percebia como especial aquela reciprocidade nos cuidados oferecidos. Sabia cuidar como ninguém. E cuidava dele. Não era por sexo. Nunca foi. Não era na esperança de virar namoro. Nunca foi. Era só a gostosa sensação de ter um porto seguro, um lugar em alguém. Ela gostava de manter o seu lugar nele, era um lugarzinho pequeno, mas ali tinha a sua assinatura. 

Sem contar nos dedos o tempo, e sem saber exatamente o porquê, ela percebeu que o lugar nele ia crescendo. Ele tinha o olhar despretensioso que a acolheu como ela era. Sem títulos. Sem rótulos. Sem honras de fama teatral. Era somente ela sendo ela. E ele sendo ele.

E aí a sua casa - que era um território só seu - virou um lugar deles. Iam reunindo o seu grupo de amigos, vivendo momentos que eram só deles. Só fazia sentido pra eles. Sem títulos. Sem rótulos. 

O evoluir desta amizade colorida veio trazendo aconchego ao deitar. Não era sexo. Nunca foi. Era só a tranquilidade de ter um abraço ao dormir e a gostosa companhia no café da manhã. Na rotina deles não existiam trocas de olhares sedutores, e nenhuma declaração era trocada também. Estavam quase sempre juntos, aproveitando o tempo que tinham em qualquer lugar que fosse. Os beijos molhados, com ardentes pegadas e amassos só aconteciam quando todos já tinham ido embora. Não que fosse necessário esconder. Não foi assim. Nunca precisaram esconder. Ou talvez raramente. 

Quando perguntavam sobre eles, nenhuma definição melhor cabia que amizade. Ela olhava pra ele com amor. Torcia por ele e vibrava com seus movimentos, com cada projeto, com cada conquista. Ele cuidava dela melhor do que ninguém.

Ela lembra de ter trazido pra si a dor do seu peito quando o viu sofrer por uma paixão que não deu certo. E se ela pudesse fazer qualquer coisa pra diminuir aquela angústia, certamente faria. Sem hesitar. E quando ela sofreu por amor, ele deu colo. Deu um espaço pra passar a noite na sua cama. Mas não era pelo sexo. Nunca foi.

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Existe amor naquela amizade colorida. Existe cuidado. Existe sexo também, mas não só isso. 

Quando se conheceram (ela com aquela cara de poucos amigos), estranhamente sentiu vontade de compartilhar suas estranhezas. E parece que assim o fez. Ainda sente aquela noite como um gole de café quentinho. Conforta. Acolhe. E não apenas pelo sexo. 

Tudo nela cresceu depois que ele chegou: o desejo de quietude, a fome e o prazer de ver ele ali, sentado na sacada com o violão no colo, intercalando as músicas cantadas com algumas doses de whisky. A vida com ele é uma delícia, mesmo com hiatos entre um relacionamento e outro.

Ela agradece pela confiança na amizade, pelas músicas, pelas gargalhadas, pelos beijos com álcool, pelo sexo, mas principalmente pela aposta no amor e na liberdade de cada um.


 

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