A dor da mulher preterida
Confira a coluna desta semana da sexóloga e educadora sexual Mônica Moura.
Angela* me contou no consultório sobre uma experiência difícil que passou em uma confraternização da empresa. Seu relato mexeu comigo, e não consigo deixar de refletir sobre isso. Talvez você já tenha vivido algo semelhante ou até apresentado uma situação assim.
Ao se envolver com Gil*, seu chefe, Angela já sabia que ele estava namorando. Mesmo assim, por algum tempo, se permitiu ignorar essa realidade e se jogar naqueles momentos juntos. Sabia, no fundo, que não havia perspectiva de algo mais sério, mas como era envolvente, ela continuou.
Quando Gil anunciou o noivado com a namorada, Ângela tentou lidar com isso de maneira madura, mas foi mais profundo do que imaginava. É que no evento da empresa, Gil levou a noiva, e o ambiente se tornou insuportável para Angela. Como uma pétala que cai da flor, sem aviso, sem preparação. A mulher que já sabia, na teoria, que o lance não iria evoluir, agora se viu diante de um fato cruel: ela foi realmente preterida.
O que aconteceu ali foi apenas o último golpe. Ver a “escolhida” fez Angela se sentir um pó. A dor de ser preterida é algo que nenhuma mulher está imune. Não é sobre o tempo, não é sobre a profundidade do vínculo. A dor que ela sentiu não era apenas pela decepção de ver Gil ao lado da noiva, mas pela constatação de que, apesar de todo o envolvimento, ela nunca foi, de fato, uma escolha.
Não é sobre moral. Não é sobre o certo ou errado. É sobre o que sentimos, e as marcas invisíveis que ficam. É o fato de que, muitas vezes, essa dor não é compartilhada, não é detalhada, e nem sempre é tratada com a delicadeza que merece. Essa experiência ilustra a dor das mulheres secundárias. Mesmo sabendo que o relacionamento não tinha futuro, a dor do abandono e da exclusão é profunda. A sensação de não ser a “melhor escolha” é algo que afeta a autoestima e a confiança de qualquer mulher.
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A dor de ser preterida mexe com o emocional, com o ego e com a identidade. Muitas vezes, as mulheres se encontram nessa situação, sem saber como lidar com o vazio deixado por essas relações passageiras. É importante considerar e validar essas emoções, se permitindo sentir a dor da perda, e compreendendo que esse processo é parte da cura.
No consultório, ajudo pessoas no resgate da confiança, manejando essas situações de forma saudável. O processo de compreender o próprio valor, mesmo após momentos de exclusão, é fundamental para resgatar a autoestima e caminhar para relacionamentos em formatos mais leves.
A dor de ser preterida é forte, mas é possível superá-la com acolhimento, tempo e, claro, compreensão. Se você sente que essas dores, por mais que não expressem, estão te atingindo, permita-se ser ouvida. Não há vergonha em dar voz a elas. E, se precisar de ajuda, saiba que estarei aqui para te apoiar nesse processo.
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