SÃO LUÍS - Construído no século XVIII para receber os negros originários de vários portos africanos, a Cafua das Mercês, localizada na Rua Jacinto Maia, no Centro Histórico de São Luís, funcionou durante muitos anos como depósito de escravos que eram comercializados na capital e em outras cidades do Maranhão. Na década de 1970, o pequeno sobrado foi transformado em museu e, agora, 40 anos depois, o espaço passou por uma reforma completa, que será entregue à população na próxima sexta-feira (20), como parte das ações alusivas à Semana da Consciência Negra 2020.
Executada pela Secretaria de Estado da Cultura (Secma), a revitalização do prédio, em estilo colonial, incluiu reparos na parte estrutural da edificação, incluindo a reforma integral do telhado, paredes, implantação de novos sistemas hidráulico e elétrico e nova pintura.
O Museu Cafua das Mercês é um prédio tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e é um dos poucos prédios das Américas onde funcionaram mercados de negros durante o período escravocrata, que permanecem com a estrutura intacta, como explicou a gestora do Museu Histórico e Artístico do Maranhão (MHAM), Amélia Cunha, também responsável pela administração de quatro anexos, entre eles o Museu Cafua.
“As obras de restauração se pautaram muito na necessidade de manutenção de problemas estruturais da casa, principalmente no telhado, que estava muito deteriorado, e o piso que estava quebrado e foi todo remodelado. Nós não podemos mudar muito a estrutura da casa, porque é um prédio tombado, mas a casa ficou mais confortável”, explica a gestora.
Parte das ações do programa estadual Nosso Centro, o novo Museu Cafua das Mercês vai contar com a consultoria da Secretaria de Estado da Igualdade Racial (SEIR) na composição das exposições e a expectativa é que o espaço de cultura atraia visitantes locais, estudiosos e turistas para a região.
“Essa é mais uma ação importante do programa Nosso Centro, que tem como objetivo estimular a economia e valorizar as belezas do nosso patrimônio histórico. Estamos entregando o Museu Cafua após uma ampla reforma de restauração, permitindo com isso que a comunidade, turistas, pesquisadores, representantes do movimento negro e pessoas ligadas às religiões de matriz africana tenham um espaço moderno e dedicado à memória do povo negro do Maranhão”, frisou o secretário de Cultura, Anderson Lindoso.
Homenagens
Na reabertura, além da exposição de acervo composto por objetos de cultos africanos e de religiões de matriz africana, como estatuetas, cabaças e tambores, o novo Museu Cafua das Mercês vai contar com mostra de peças do acervo de Jorge Itaci Oliveira, mais conhecido como pai Jorge Babalaô, um dos mais tradicionais babalorixás do Maranhão, que chegou a ser gestor desse espaço cultural antes de falecer em 2003.
“Conseguimos, em regime de comodato, empréstimo de peças do antigo gestor da casa, que é um pai de santo muito famoso, o Jorge Babalaô. A família dele doou bastão, bengala, roupas de culto dele e colares de ponta”, detalha Amélia Cunha.
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O espaço também contará com peças do sincretismo religioso, como santos católicos, e uma mostra com a biografia de personalidades que lutam ou lutaram contra o racismo e em defesa da identidade negra no Maranhão.
Entre os homenageados estarão o próprio Jorge Babalaô; Victorina Tobias Santos, a Mãe Dudu, vòdúnsi que chefiou a Casa de Nagô (Casa de Tambor de Mina de São Luís) entre 1967 e 1988; e a jornalista e pesquisadora Maria Raimunda Araújo, mais conhecida como Mundinha Araújo, ativista do movimento negro e uma das fundadoras do Centro de Cultura Negra do Maranhão, em 1979.
A reinauguração do Museu Cafua das Mercês acontece nesta sexta-feira (20), mas, devido à pandemia de Covid-19, o espaço estará aberto ao público apenas as terças e quintas-feiras, mediante agendamento prévio e de acordo com a procura.
O Museu disponibilizará ao público álcool em gel na entrada da casa e o uso de máscaras de proteção individual será obrigatório, bem como deverá ser respeitado o distanciamento social.
O agendamento de visitas poderá ser feito via mensagem direta (direct) no Instagram do Museu Cafua (@cafua.ma) – que também será lançado na próxima sexta – ou por meio do sistema Circuito de Visita Cultural da Secma, com link disponível no site da Secma (www.cultura.ma.gov.br).
Em estilo colonial e de fachada uniforme, o prédio de dimensões pequenas dispõe de apenas uma porta principal, ladeada e encimada por seteiras centradas em nicho, constituindo as únicas aberturas de luz e ventilação do prédio, um dos principais indicadores da tirania da escravatura.
Estrutura do Museu Cafua
A edificação conta com um pátio interno e dois salões, onde estão abrigadas as peças do circuito de exposição permanente.
O pátio interno é revestido de cantaria e cercado por um alto muro de pedras. Nesta área está instalada uma réplica do pelourinho de São Luís – no passado, o original, ficava localizado no Largo do Carmo.
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