Aumento de casos de dengue preocupa cardiologistas

BBC Brasil

Atualizada em 27/03/2022 às 13h56

SÃO PAULO - Os riscos da dengue hemorrágica para o coração e especialmente para as pessoas que já sofrem de problemas cardíacos entraram, pela primeira vez, na pauta do 62º Congresso Brasileiro de Cardiologia, que começa nesta sexta-feira em São Paulo.

A maior preocupação dos cardiologistas diz respeito às pessoas que sofrem de problemas cardíacos e tomam medicamentos anticoagulantes e antiagregantes para controlá-los. Essas substâncias, que tornam o sangue "mais fino", poderiam agravar a hemorragia causada pela doença.

"À medida que as pessoas vão ficando mais acometidas, entre elas há pessoas cardíacas que tomam anticoagulantes e que podem na vigência da dengue hemorrágica ter o vírus agravado", afirma o diretor-científico do Congresso, Dário Sobral.

"Temos muito pacientes tomando aspirinas, pelo caráter preventivo, porque diminui o risco (de tromboses) para pessoas com doenças vasculares, e coronárias principalmente", explica Sobral. "Mas no caso da dengue hemorrágica (a aspirina) pode agravar a hemorragia, e criar um quadro com muito mais risco, às vezes com risco de vida."

A dengue é uma doença febril aguda causada por um vírus, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, que se desenvolve em áreas tropicais e subtropicais. Os sintomas mais comuns, que costumam aparecer três dias após a picada, são febre, dor de cabeça, no corpo, nas articulações e por trás dos olhos.

A dengue hemorrágica é a forma mais severa da doença porque além dos sintomas da dengue clássica, pode causar sangramento, e, em casos mais graves, levar à morte.

Segundo o diretor científico do Congresso, a recomendação de suspender anticoagulantes tem base empírica, mas o objetivo das discussões dos próximos dias é justamente estabelecer uma rotina para que os médicos saibam como orientar os seus pacientes em caso de suspeita de dengue.

"Agora não existe estabelecida uma rotina, quando deve iniciar, quando deve parar (com a ingestão de anticoagulantes)."

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Mais acostumados com a doença, os cardiologistas das regiões Norte e Nordeste já determinam a suspensão dos anticoagulantes quando há suspeita "clínica" de dengue, mas, segundo Sobral. a orientação nem sempre é seguida pelos seus colegas do Sul e do Sudeste, menos "familiarizados" com a doença.

O maior aumento dos casos ocorre justamente no Sudeste, especialmente em São Paulo, onde foram notificados mais de 60 mil casos apenas neste ano.

Para Sobral, a recomendação deve ser feita aos pacientes ainda na fase da suspeita clínica --sintomas como dor de cabeça acompanhada de febre-- já que o diagnóstico laboratorial pode levar dez dias para sair.

Mesmo pessoas que não sofrem de problemas cardíacos devem suspender a aspirina em caso de suspeita de febre hemorrágica.

"Se a dor de cabeça for acompanhada de febre, atualmente com essa epidemia, tem de pensar em dengue e procurar alternativas com outros analgésicos, como dipirona e paracetamol."

Além dos riscos da dengue hemorrágica para pacientes cardíacos, os cardiologistas deverão discutir os perigos da doença para o coração.

Segundo Sobral, já foram observados casos "isolados" de miocardite (inflamação do miocárdio) e arritmia cardíaca desenvolvidos em decorrência da dengue.

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