Prof Michael Amorim
COLUNA
Prof Michael Amorim
Michael Amorim é professor de filosofia, conferencista, podcaster pai e marido.
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Um lutador chamado Dom Marcel Lefebvre: 34 anos de sua partida para a Glória

Assim como todos os grandes santos do passado, Dom Lefebvre se manteve fiel à Igreja quando tudo ao seu redor desmoronava.

Prof Michael Amorim

Hoje, 25 de março, celebramos o 34º aniversário da morte de Dom Marcel Lefebvre, um grande homem que Deus levantou como defensor incansável da Santa Missa e da verdadeira doutrina católica. Que sua alma repousa na paz eterna de Deus.

Qualquer pessoa sincera que tenha estudado a vida de Dom Lefebvre sentirá seu coração arder de amor pela fé católica. Sua vida foi marcada por uma entrega constante ao catolicismo. Durante muitos anos, ele dedicou-se ao cuidado de crianças pobres na África, fundando igrejas e abrindo seminários onde o catolicismo era uma realidade distante. Ele só se levantou como defensor da Santa Missa e crítico do Concílio Vaticano II quando, diante de seus olhos, a fé que tanto amava estava sendo atacada. 

Assim como todos os grandes santos do passado, Dom Lefebvre se manteve fiel à Igreja quando tudo ao seu redor desmoronava, como o fez São Atanásio durante a heresia ariana. Só uma mente obscurecida, incapaz de enxergar o bem onde ele se apresenta, não consegue ver em Dom Lefebvre a mão de Deus e a graça do Espírito Santo.

Não há palavra melhor para descrever o sentimento comum de muitos católicos pós-conciliares do que aquela escolhida por Dom Lefebvre em seu livro Carta Aberta aos Católicos Perplexos: "perplexidade". Estamos todos, de alguma forma, perplexos diante das atitudes escandalosas do clero católico. Como nos lembrou o professor Olavo de Carvalho, “ante a derrota dos cristãos na Primeira Cruzada, São Bernardo de Clairvaux disse que quem não se escandalizasse com essa incompreensível sentença divina já seria, só com isso, um santo”. Talvez, ao fim, alguns de nós nos tornemos santos.

É revoltante, no entanto, ver a quantidade de calúnias e difamações que a memória desse grande lutador católico vem sofrendo, especialmente por parte da ala progressista da Igreja. As mentiras e calúnias com as quais os católicos anti-tradicionalistas atacam Dom Lefebvre e seus seguidores são um reflexo da hipocrisia e da falta de caridade desses indivíduos. Falam constantemente sobre diálogo e amor ao próximo, mas se esquecem de praticar esses mesmos princípios entre seus próprios irmãos católicos. Isso é lastimável.

Todos agem como se as denúncias de Dom Lefebvre e da Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX) fossem invenções ou fofocas criadas por pessoas que rejeitam a autoridade da Igreja. No entanto, é impossível ignorar a clareza histórica do que aconteceu, principalmente no que diz respeito à crise do modernismo que invadiu a Igreja.

A Crise do Liberalismo e o Modernismo

A crise do liberalismo na Igreja atingiu seu ápice no final do século XIX, com o avanço do pensamento liberal de 1789, que se transformou no tornado do modernismo. O padre Vincent Miceli identificou esta heresia como tal, apontando seus três principais antecessores: a Reforma Protestante, o Iluminismo e a Revolução Francesa.

Do ponto de vista da doutrina e teologia, essa crise representou a maior ameaça que a Igreja já enfrentou. Em termos históricos, só a heresia ariana, que afligiu a Igreja no século IV, pode ser comparada ao que vivemos atualmente. São Jerônimo, na época, disse que “o mundo dormiu cristão e, com um gemido, acordou ariano”. Hoje, podemos afirmar que o mundo moderno “dormiu cristão e acordou modernista”. Uma heresia que afetou os ensinamentos de pelo menos cinco papas não tem precedentes na história.

Embora muitos católicos sinceros ainda acreditam que a crise atual não é tão grave quanto outras crises passadas, é importante estudar os relatos de estudiosos e testemunhas que viveram esse período. Monsenhor Lefebvre, Gustavo Corção, Dr. Félix Sardá y Salvany, Michael Davies, Romano Amerio, Pe. Mathias Caudron e Hilaire Belloc são apenas alguns dos muitos pensadores que abordaram essa crise com profundidade – Hilaire Belloc previu, com impressionante antecedência, o afastamento da Igreja do depósito da fé.

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Ao negar a gravidade dessa crise, alguns católicos comparam a situação atual com as perseguições e martírios do passado. No entanto, a crise que enfrentamos hoje é de outra natureza: é uma crise interna da Igreja, uma crise de fé e doutrina, sutil e muitas vezes imperceptível, mas devastadora. Um exemplo claro disso é a mudança nas palavras da Consagração na Missa, de "por muitos" para "por todos". Tal alteração, presente nas novas fórmulas litúrgicas, representa uma diluição da doutrina católica e uma tentativa de substituí-la por uma nova fé, modernista e relativista.

A Defesa da Fé e a Necessidade de Ação.

Alguns católicos, ao reconhecerem essa crise, acreditam que basta rezar para que tudo se resolva. No entanto, a Igreja sempre nos ensinou que é necessário estudar a doutrina para estarmos preparados e protegidos contra os erros e heresias que surgem. Como nos lembra a encíclica Acerbo Nimis, de São Pio X, é imprescindível o estudo contínuo da doutrina católica. O simples fato de alguns maus católicos abusarem desse direito de exigir a fidelidade à Tradição não invalida o pedido legítimo de todos os fiéis de exigir a sã doutrina de seus superiores.

O Código de Direito Canônico, por sua vez, dá ao fiel leigo o direito de exigir a verdadeira doutrina e até de corrigir seus superiores, quando necessário, alertando-os sobre desvios dos ensinamentos da Igreja. A Igreja é santa, mas seus membros são falhos, e é nosso dever defender a verdade e a fé autêntica, como fez Dom Lefebvre. 

A Esperança e a Perseverança na Fé

Nunca deixarei de acreditar nas palavras de Nosso Senhor, de que “as portas do inferno não prevalecerão contra a Sua Igreja”. A Igreja, apesar das dificuldades e da Crise atual, permanece firme, e a luz de Cristo dissipará as trevas da “fumaça de Satanás que entrou na Igreja”, como disse o Papa Paulo VI. No entanto, isso não significa que devemos ignorar a gravidade da situação atual, como fazem muitos.

Não falo estas palavras em tom apocalíptico, mas como um alerta para que não percamos a esperança. A crise que vivemos é uma oportunidade para nos santificarmos, para crescermos na fé e na fidelidade à Tradição. Como dizia São Padre Pio: “Bendita seja a crise que te faz crescer, a queda que te faz olhar para o céu, o problema que te faz buscar a Deus.”

Que a memória de Dom Lefebvre nos inspire a continuar a luta pela preservação da Santa Missa Tridentina, pela doutrina imutável da Igreja e pela fidelidade à verdadeira fé católica. Ele não apenas foi um grande lutador, mas também um exemplo de coragem, fé e esperança, e, como ele mesmo nos ensinou, a verdadeira Igreja sempre se manterá firme, mesmo nas adversidades.

Que sua alma descanse em paz, e que todos nós, guiados pelo exemplo de sua vida, possamos perseverar na fé e na defesa da Verdade; confiantes de que, um dia, Roma voltará à fé. 

São Luís, Anunciação do Senhor. 

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