O Espectro
Em 2024, a poeta portuguesa Ana Cláudia Santos publicou o seu segundo livro de poesia: O Espectro, pelas Edições Casa Florbela Espanca.
Em 2020, Ana Cláudia Santos publicou o seu primeiro livro de poesia independente: Meia-Vida, que conta com ilustrações do artista plástico João Massano, e foi lançado na Livraria Ler Devagar, em Portugal. Em 2024, a poeta portuguesa lançou O Espectro, seu segundo livro, pelas Edições Casa Florbela Espanca. Essa obra apresenta, em versão trilíngue (em português, inglês e espanhol), oito poemas que homenageiam a obra, vida e morte de Florbela Espanca.
Se em Meia-Vida (2020) Ana Cláudia inicia o seu projeto literário fincando as bases de sua poesia no campo da transcendência, em O Espectro (2024), a poeta consolida a sua voz poética, ao resgatar o tom místico e filosófico, com o qual empreende uma jornada labiríntica em busca dos mistérios da existência. É importante ressaltar que O Espectro (2024), de Ana Cláudia Santos, inicia com um poema homônimo de Florbela Espanca como epígrafe:
O Espectro
Anda um triste fantasma atrás de mim
Segue-me os passos sempre! Aonde eu for,
Lá vai comigo… E é sempre, sempre assim,
Como um fiel cão seguindo o seu Senhor!
Tem o verde dos sonhos transcendentes,
A ternura bem roxa das verbenas,
A ironia purpúrea dos poentes,
E tem também a cor das minhas penas!
Ri sempre quando eu choro, e se me deito,
Lá vai ele deitar-se ao pé do leito,
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Embora eu lhe suplique: “Faz-me a graça
De me deixares uma hora ser feliz!
Deixa-me em paz!…” Mas ele, sempre diz:
“Não te posso deixar, sou a Desgraça!”
(Florbela Espanca, Trocando Olhares, 1985).
Nesse sentido, o referido poema de Florbela Espanca dá mote ao livro de Ana Cláudia, ao apresentar elementos existenciais como, por exemplo, a dor; mas também destacar a forte presença da transcendência, daquilo que nos escapa e atravessa continuamente. Inicialmente, O Espectro (2024) traz um poema metalinguístico que aborda a riqueza e onipresença da poesia, que é a “tradução” de nossas “ausências” e “da perfeição de tudo o que existe” (A poesia, p. 09).
Em seguida, nos deparamos com o Poltergeist (termo alemão que significa “fantasma barulhento”), poema esse que é essencial para o livro, pois é um tipo de manifestação mística d’O Espectro (2024). Assim, somos formados por corpo e alma, que têm como matéria-prima o próprio universo: “Somos um puro corpo astronómico partilhado/ Que se recicla, modifica e adapta” (Os meus olhos físicos não mergulham na extensão das almas, p. 18).
No poema Benavente prosseguimos trilhando pelo caminho fantasmagórico e assombrado do final dos ciclos e do recomeço. Encaramos o medo do confronto com o desconhecido e a solidão. Mas é o Antiquário que se destaca por desvendar os diferentes pontos de vista e os fragmentos de vidas que nos habitam. Somos, na verdade, mosaicos do passado e do presente. Sob essa ótica, nada é novo, tudo é cíclico; mas essa é a primeira vez que temos contato, e tentamos entender, o mundo com esse corpo, essa existência.
Após esse olhar sobre a vida, a poeta Ana Cláudia Santos retrata a morte nos poemas A primeira vez que vi um morto, Morrer deve ser estranho para quem não está habituado e Malware, de forma lírica e emblemática, assim como a homenageada Florbela Espanca demonstrou em sua obra poética. Portanto, os “poemas são fábricas de novas almas, / Filtros para distinguir os limites da realidade, / Que provam, tenho a certeza, / Que não há nenhuma dimensão que não tenha poesia” (Santos, 2024, p. 09), e O Espectro é prova disso.
REFERÊNCIA:
SANTOS, Ana Cláudia. O Espectro. Vila Viçosa, Portugal: Edições Casa Florbela Espanca, 2024.
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