Entre solidões e companhias
Mais do que estarmos a sós ou acompanhados, o que parece importar é a qualidade que agregamos a cada uma dessas situações.
O livro O dilema do porco-espinho: como encarar a solidão (2018), do escritor e historiador Leandro Karnal, é um convite à solidão (ou à boa solidão, como diria o autor). Partindo da metáfora do filósofo alemão Schopenhauer, na qual os seres humanos são comparados a porcos-espinhos, que, no frio, se aproximam, buscando calor, mas logo se afastam, ao serem espetados pelo espinho alheio, simbolizando, assim, a necessidade de companhia para superar a solidão, mas, também, a necessidade de distanciamento, quando a convivência se torna difícil, é suscitado o questionamento se é possível achar um ponto de equilíbrio no qual se encontre calor e, ao mesmo tempo, ausência de espinhos.
O historiador aponta que o advento das redes sociais é uma tentativa de resposta a essa demanda, já que pressupõe o convívio/calor dispensando os espinhos/dificuldades da convivência – visto que, ao menor incômodo, podemos bloquear, excluir, deixar de seguir alguém, etc. Como desenvolveremos, no entanto, a habilidade de conviver com as diferenças – fundamental, já que somos todos diferentes – se não nos expusermos a esse hábito?
Ademais, fossem as redes sociais a resposta para essa angústia, não nos depararíamos mais com um sintoma tão pungente em nossos dias como o da sensação de abandono, de solidão, mesmo em meio à multidão de olhos que nos acompanham nas mídias sociais. Parece não ser esse o caminho. Na verdade, não há como escapar da solidão. Ela é uma condição humana. E, desde os tempos mais remotos, quando o homem começou a registrar seus sentimentos, como por meio da arte, por exemplo, vemos os traços da solidão já presentes.
É exatamente essa a viagem que o historiador Karnal nos permite fazer, na qual podemos contemplar a solidão presente, das mais diversas maneiras, na literatura, no cinema, nas artes plásticas, na religião, enfim, em tudo o que a mão humana tocou e produziu. Condição inescapável como o é a da solidão, só nos resta aprender a conviver com ela. Apenas assim, aprenderemos, também, a conviver com a solidão dos outros.
Saindo um pouco da história e da filosofia, outra obra que pode nos ajudar a pensar dificuldades e possibilidades no campo das relações humanas é o livro "Falo ou não falo? Expressando sentimentos e comunicando ideias" (2007). Trata-se de um texto de divulgação científica cujos autores são psicólogos atuantes nas perspectivas da Terapia Analítico-Comportamental ou da Terapia Cognitivo-Comportamental.
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A obra apresenta o conceito de Habilidades Sociais, conceito esse que, nos idos de 1970, começou a ser estudado e desenvolvido nos Estados Unidos, culminando numa prática atual e extremamente importante na atuação profissional de psicólogos em várias partes do mundo, em suas mais diversas áreas de trabalho.
O conceito de Habilidades Sociais diz respeito à forma como as pessoas interagem entre si, discutindo se, a partir de uma perspectiva científica, há uma melhor maneira dessas interações ocorrerem. A conclusão a que essa área de pesquisa chegou é que há, basicamente, três maneiras das pessoas se relacionarem entre si: passividade, assertividade e agressividade.
Em suma, a pessoa passiva é aquela que, na maioria das vezes, se submete à vontade alheia, ainda que em detrimento da sua; a agressiva é aquela que, na maior parte das vezes, expressa suas vontades, no entanto o faz sem se preocupar de que modo o outro da relação será afetado com isso; a assertiva, por sua vez, na maior parte do tempo, também expressa suas vontades, no entanto o faz pensando também no bem-estar do outro.
Quando se pondera as consequências de curto, médio e longo prazo para as relações sociais, o que essa área de pesquisa aponta é que a postura assertiva é a mais adequada, o que não quer dizer que seja a mais fácil de ser adotada. Há uma série de variáveis sociais, perpassadas por variáveis da história de vida dos indivíduos, que dificultam a prevalência desse padrão comportamental. A boa nova é que, assim como a maioria dos comportamentos humanos, a assertividade pode ser aprendida.
Diante da impossibilidade de vencermos a solidão, condição humana, e da necessidade inexorável de construirmos relações sociais, só nos cabe, por um lado, aprendermos a estar a sós quando a sós, e, por outro, a conviver enquanto convivemos. Ao fim e ao cabo, mais do que estarmos a sós ou acompanhados, o que parece importar é a qualidade que agregamos a cada uma dessas situações.
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