Especial Rio 2016

Pequim 2008: a história de um maranhense chamado Phillip

<b>Imirante</b> conversou com o único nadador do MA a disputar uma Olimpíada.

Paulo de Tarso Jr./Imirante Esporte

Atualizada em 27/03/2022 às 11h31
Phillip Morrison disputou a Olimpíada de Pequim, em 2008. (Foto: Arquivo Pessoal)

SÃO LUÍS – Na terceira entrevista exclusiva do Imirante Esporte com os atletas maranhenses que participaram de alguma edição dos Jogos Olímpicos, chegou a vez de Phillip Cameron Morrison. Phillip quem? Mas quem é este? Disputou qual modalidade e em qual ano? Com este nome, ele é maranhense mesmo? Se você não tiver uma boa memória ou não for muito atento a esporte, a olimpíada e afins, certamente fez estas e outras tantas perguntas sobre Phillip. Se a sua curiosidade foi atiçada – esperamos que sim –, conheça um pouco deste maranhense que descobriu ter talento dentro d’água.

Phillip nasceu em São Luís e conheceu a natação aos 9 anos. Não demorou para conquistar títulos por aqui e ser destaque nacionalmente. Ao completar 17 anos, mudou-se para os Estados Unidos, onde seguiu nadando e competindo em alto nível. E o resultado do talento aliado ao esforço diário foi recompensado em 2008, ao ser convocado para a Seleção Brasileira que iria disputar a Olimpíada de Pequim.

Eis então que Phillip tornou-se o primeiro maranhense a nadar nos Jogos Olímpicos. E esta experiência que poucos têm, o nadador conta, em entrevista exclusiva, ao Imirante Esporte. Confira, abaixo, a entrevista completa.

Arte: Imirante Esporte

IMIRANTE.COM: Phillip, como foi o seu início na natação? Por que você decidiu praticar esta modalidade? O que exatamente a natação significa para você?

PHILLIP MORRISON: Comecei a nadar cedo, aos 9 anos, mas sem compromisso. Ia duas vezes por semana porque tinha escoliose e o médico indicou a natação como terapia. Eu gostava do grupo e do meu técnico. Logo comecei a ir três vezes por semana, e não demorou muito, cinco vezes por semana. A natação aconteceu naturalmente para mim. Não parei de fazer nenhum outro esporte. Muito pelo contrário, continuei praticando futsal e outros esportes na escola. Para mim, a natação significa muitas coisas. Primeiramente, a natação foi e continua sendo uma excelente fonte de amizades. Muitos dos meus melhores amigos vieram da natação – tanto em São Luís, quanto aqui nos Estados Unidos. Quando você gasta tanto tempo em treino e em competições com essas pessoas, é difícil não ficar grandes amigos. A natação também foi uma inspiração. Eu gosto de competir e de melhorar tudo o que eu faço. Essa vontade de cada dia ser melhor que no dia anterior foi mais fácil de atingir na natação do que em outros esportes coletivos. Eu também não era muito bom de futebol, o que ajudou eu focar na natação quando eu era mais velho. A natação me ajudou a explorar o mundo e compartilhar esse desejo de competir com outros pelo Brasil e pelo mundo. Fora isso, a natação traz uma combinação de técnica e dificuldade que eu não consegui achar em outros esportes. Depois de um treino forte de natação, a sensação de cansaço e paz atinge a alma. Até hoje, acho difícil achar algo compatível.

IMIRANTE.COM: Em 2008, você teve a oportunidade de representar o Brasil na Olimpíada da China. Apesar de ter sido reserva da Seleção Brasileira na prova dos 4x200m, você estava na principal competição do planeta. Como você soube que havia sido convocado para os Jogos Olímpicos? E qual foi a primeira coisa que você fez e pensou naquele momento?

PHILLIP MORRISON: A minha seletiva olímpica foi meio turbulenta. Estava focado na última seletiva da Olimpíada. Foi sempre difícil competir para o Brasil e para a universidade ao mesmo tempo. As datas eram sempre muito diferentes. Algumas semanas antes da última seletiva, eu recebi uma ligação do meu técnico do Pinheiros me informando que eu não poderia competir porque ele esqueceu de fazer a minha inscrição. Fizemos de tudo para reverter a situação e o melhor que conseguimos foi uma tomada de tempo. Foi naquela única chance que eu me classifiquei para a Olimpíada. Naquela mesma competição, o meu técnico me informou que eu seria convocado. Fiquei muito feliz, e a primeira coisa que passou na minha cabeça foi que todo o trabalho que eu vinha fazendo desde os 10 anos, me ajudou a chegar onde eu estava. Foi o começo de um sonho que se tornou realidade. Na China, similarmente com a Seleção, os técnicos me colocaram no revezamento poucos dias antes da prova. Isso sim considerei um dos melhores momentos na minha carreira até o momento: a oportunidade de competir nas Olimpíadas. Entrar na piscina e ver milhares de pessoas torcendo foi maravilhoso. Como equipe, não nadamos muito bem, mas fiz o meu melhor tempo da vida e isso foi muito importante e gratificante para mim.

Após a convocação para Pequim 2008, a família de Phillip fez até outdoor para comemorar participação do maranhense nos Jogos Olímpicos. (Foto: Arquivo Pessoa//Arte: Imirante Esporte)

IMIRANTE.COM: Ao chegar à China, ao lado dos principais atletas do país e do mundo, o que você sentiu?

PHILLIP MORRISON: Estava totalmente focado na minha prova. Eu queria participar dos Jogos Olímpicos e estava lá focado nisso. Não tinha ninguém em especial que eu queria conhecer ou tirar fotos. Admirei os grandes nomes da natação e tive o prazer de ver e compartilhar a primeira medalha olímpica de ouro do Brasil com César Cielo nos 50 metros nado livre.

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IMIRANTE.COM: Você passou alguns anos no Maranhão. Apesar de ter nascido no Estado, você foi morar nos Estados Unidos. Por que você optou em ir morar fora do país? Você acredita que se continuasse morando e treinando no Brasil, teria condições de ir para a Olimpíada?

PHILLIP MORRISON: Fiquei em São Luís até completar 17 anos. É difícil dizer se eu conseguiria chegar aonde cheguei se eu ficasse em São Luís. Acredito que sim. Acho que outras partes da minha vida seriam menos completas, mas, quanto à natação, acredito que seria possível, mesmo com mais dificuldade. Acho que a maior barreira seria em patrocínio e em bancar financeiramente treinos, competições, alimentação, etc. Na época, eu treinava na Duvel, que tinha uma boa estrutura, duas piscinas, uma semiolímpica e outra olímpica, sala de musculação, etc. No Brasil com certeza seria possível, tanto que vemos uma natação brasileira forte a nível mundial. Optei por sair do país porque meu pai gostaria que eu fizesse universidade nos Estados Unidos.

IMIRANTE.COM: Qual a diferença dos treinos que você fazia no Maranhão com os dos Estados Unidos? Havia muita diferença?

PHILLIP MORRISON: Os treinos nos Estados Unidos eram diferentes, mas não necessariamente melhores. Tinham mais pessoas, o que era bom em nível de competitividade no treino, mas pior porque cada atleta recebia menos atenção particular. Os treinos eram menos científicos também. Tive uma oportunidade incrível em São Luís de treinar com técnicos como o Luís Alexandre e o Nelson Magela, que sempre focavam na ciência para criar seus treinos. Acho que, no final, a maior diferença de treinar nos Estados Unidos foi a estrutura fora d’água (estudos, facilidade de transporte, alimentação, etc.).

Phillip sempre contou com o apoio da família. Nas imagens, o nadador posa com o pai, a mãe e o irmão. (Foto: Arquivo Pessoal / Arte: Imirante Esporte)

IMIRANTE.COM: Qual a importância da sua família para você se tornar um nadador de ponta e representar o seu país na Olimpíada de 2008? Como era a relação com seus pais? Nestes anos competindo, qual momento foi mais fundamental e inesquecível em ter seus pais por perto? Foi em uma vitória, em uma derrota ou em outra situação?

PHILLIP MORRISON: Família para mim representa muito. Os meus pais eram bem tranquilos e me suportavam muito. Ao mesmo tempo que nós celebrávamos as vitórias e discutíamos as derrotas, eles nunca me pressionaram para fazer algo que eu não quisesse. A motivação veio de mim, e eles só me suportaram. Muitas vezes eles nem iam para a competição porque era longe e difícil de chegar ou difícil de integrar na agenda. Isso para mim foi bom. Nunca me senti pressionado em produzir resultados para os meus pais.

IMIRANTE.COM: Atualmente, o Maranhão sofre com ausência de piscinas públicas para a prática da natação. O Complexo Aquático do Estado (Outeiro da Cruz) está inativo há bastante tempo. Que tipo de análise que você faz desse tipo de situação?

PHILLIP MORRISON: Isso é triste. Quando visito meus pais em São Luís e vejo a piscina do Castelão, me dói o coração. Fiquei triste também em saber que a grande infraestrutura da Duvel foi demolida. Sem piscinas de 50 metros fica muito difícil competir a nível nacional e internacional. É possível, mas bem mais difícil. Ao mesmo tempo que acho triste, não me assusta. Já faz muito tempo que não existe desejo público em desenvolver a natação no Maranhão. Desde quando eu nadava em São Luís, a situação já era precária, porém, existiam uns poucos que batalhavam pela verba para continuar investindo no esporte. Uma boa infraestrutura é imprescindível para motivar e para desenvolver os atletas. Porém, além da infraestrutura física, também necessitamos de toda a outra infraestrutura que é necessária para o desenvolvimento do atleta, como patrocínio, suporte familiar, estrutura técnica, clubes, alimentação, educação entre outros. A infraestrutura física e só uma parte da equação.

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