São Luís 413 anos

Jussara: médica, nascida e criada em São Luís, revela orgulho ao resgatar origens do nome recebido

"Meus pais escolheram esse nome por achar forte e bonito, além de gostarem muito de juçara", conta a ludovicense.

Neto Cordeiro/Na Mira

Atualizada em 08/09/2025 às 10h49

SÃO LUÍS - Você conhece alguma mulher chamada Jussara? O nome é comum na capital maranhense, terra onde muito se aprecia a fruta e iguaria de mesmo nome - juçara. Neste dia 8 de setembro, em que São Luís completa 413 anos, o Imirante.com conversou com a maranhense Jussara Pinheiro, de 29 anos, que é médica e mora no bairro Apeadouro, na ilha. 

Médica ludovicense Jussara Pinheiro (Foto: Arquivo Pessoal)

Natural de São Luís, ela revela que foram os pais que escolherem seu nome e a registraram assim: Jussara, com dois ‘s’ mesmo. “Meus pais contam que escolheram esse nome por achar um nome forte e bonito, além de gostarem muito de juçara também”, afirma.

“O nome próprio de qualquer pessoa é a escolha da família, dos amigos que gostam daquela família, daquela criança, que gostam de um nome, por várias razões. Para fazer uma homenagem à família, para fazer uma homenagem a um artista, para fazer uma homenagem a alguma coisa que as pessoas gostam e que aquela pessoa vai lembrar. Sempre isso. Então, o nome próprio é escolhido por essas pessoas próximas à criança”, explica o professor José de Ribamar Mendes, do Departamento do Curso de Letras da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Jussara vem da língua tupi e significa “que tem espinhos”, embora a palmeira encontrada no Maranhão não possua aspecto espinhoso. A juçara é uma iguaria que faz parte do cardápio da culinária maranhense. Ela é extraída de uma palmeira que conta com o mesmo nome. Após a extração, ela é peneirada com água filtrada e a partir disso, surge um líquido de coloração roxo escuro.

Iguaria típica do Maranhão pode ser consumida com farinha e até camarão. (Foto: Reprodução/TV Globo)

“Nós vamos ter as curiosidades, como Jussara. Por que Jussara? Eu não sei que motivação levou as pessoas da família a colocar esse nome. Dentre essas, pode ser que eles gostem muito de juçara [fruto]. Pode ser que seja um meio de vida para aquela família. Pode ser que seja um sabor que eles querem marcar. Por mil razões. Todas aceitáveis e acatáveis”.

Como foi dito acima, Jussara vem de uma família que realmente apreciava o fruto da palmeira juçara. Ela demonstra o orgulho de carregar no seu nome um forte ícone da cultura local. “Pra mim esse nome carrega muita regionalidade e representa muito a cultura do estado. Nasci e cresci em São Luís. Morei com meus pais e meu irmão caçula aqui mesmo até o final do ensino médio. Já moramos em alguns bairros da cidade como Angelim, bairro de Fátima, Apeadouro, Turu, além de São Joaquim/Itapera, onde meu pai tem um sítio há alguns anos. Durante toda infância e parte da adolescência tive muito contato com esse ambiente rural, com bichos e plantas, já que sempre foi uma coisa que meu pai gostou muito e por alguns anos moramos cercados disso”, conta a médica.

Jussara Pinheiro estudou Medicina na cidade de Pinheiro, mas decidiu voltar a São Luís, onde mora atualmente e atua. Ela também trabalha nas cidades de Penalva, Presidente Juscelino e Rosário. 

“Hoje, sinto que tenho um nome que representa muito da nossa cultura e que carrega muita regionalidade. Um nome ligado a algo marcante e que me acompanha por onde for, me lembrando e representando minhas origens e singularidades”, afirma com orgulho a ludovicense.

Professor José de Ribamar Mendes, do Departamento de Letras da UFMA. (Foto: Neto Cordeiro/Imirante.com)

O professor ressalta que não há nenhum impedimento para o registro do nome. “Qualquer nome pode ser dado a uma pessoa. Legalmente, há o registro de nascimento. O escrivão que vai registrar pergunta como se escreve, porque ele vai fazer um documento. Então, a família também sugere. Por isso, a gente tem nomes que são diferentes pela sua escrita, são diferentes pela sua pronúncia sonora. E isso tudo é perfeitamente aceitável, compreensível e legalmente registrado”, revela.

Além disso, também é possível encontrar variação na escrita do nome própria, como Juçara, com ‘ç’. “Hoje, no Brasil, nós temos muito mais variações de escrita dos nomes próprios do que anteriormente. Porque nós vamos inserindo letras, sinais. Às vezes, é uma letra sem som e, outras, é uma letra com som. Então, a gente vai ter isso nos nomes próprios. É muito legal ver isso. Ver isso acontecendo a partir do estudo da Língua Portuguesa, da Linguagem e da localidade”, conclui o professor.

A juçara é extraída de uma palmeira que conta com o mesmo nome. (Foto: Reprodução/TV Globo)

O professor Mendes acrescenta que prepara um trabalho mais profundo e técnico sobre as peculiaridades encontradas no modo de falar em diferentes regiões do Maranhão. “No Atlas Linguístico do Maranhão, a gente vai tendo isso mapeado. Em que local a gente encontrou que nome, como se fala, como se escreve. É um trabalho mais técnico, mais acadêmico do Atlas Linguístico do Maranhão, mas que logo, logo vai estar publicado com acesso a todo mundo, via Rede Mundial de Computadores, via impresso, para que a gente chegue na escola esclarecendo essa ideia”, finaliza.

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